Melancia – Coco Verde

(Contos Gauchescos – J. Simões Lopes Neto)
Leitores amigos que acompanham a coluna pediram que escrevesse sobre outra obra do Simões, então fiz um sucinto relato do conto Melancia – Coco Verde.

Onde é mesmo que eu estava? Ah!… O Costinha e sia Talapa tinham juramento entre eles, de se casarem, ainda que ela saísse de casa na garupa do namorado. Com o ilhéu é que nunca! Pois foi por estas alturas que os castelhanos bandearam a fronteira e o Costinha assanhou-se. Foi uma despedida de arrebentar a alma que combinaram que pra qualquer recado, carta ou aviso, ela teria o nome de Melancia e ele de Coco Verde. Só eles, ninguém mais saberia; que era para despistar algum xereta.
Um chasque avisou que sia Talapa ia se casar. Diante do dever o moço engoliu a tristeza, e foi nesse entrevero que o Costinha industriou o chiru; — Tu, sai já; vai direito lá em casa, a Talapa, depois d’amanhã, de noite, se casa, à força, com o ilhéu… Tu não digas a ninguém, nem lá em casa, que me viste… Mas vai ao velho Severo, mete-te lá, custe o que custar e acha jeito de dizer, que ela ouça, que o coco verde manda novas à melancia… Ela entende. Compreendes?… Eu sou o Coco Verde, ela é a Melancia… Só nós sabemos isso… e tu, agora. Vai. Tu vais adiante, logo mais eu sigo, se não morrer neste revira. Vai, Reduzo!… Coco verde… Melancia… Não esqueças… Depois de muito sofrer Reduzo chegou na estancia e o velho Severo pasmou… — Ué! chiru!… Pois tu não tinhas ido com o seu Costinha? — Eu?… Não Sr., patrão! Vancê dá licença de campear os animais? — Eu hei de fazer uma saúde, sim senhor… —O casamento ia ser de noite, depois da comida; depois, baile. Nesse entrementes o velho Severo perguntou: — Que é do Reduzo? Oh! chiru?… — Então?… E a saúde prometida? — Já vai, sim senhor! E olhando pra sia Talapa o chiru levantou o copo e disse: Eu venho de lá bem longe, da banda do Pau Fincado: Melancia, coco verde, te manda muito recado! e o velho Severo, mui jocoso, gritava — gostei, chiru! outra vez! — O reduzo aproveitou o flagrante e soltou outro verso: Na polvadeira da estrada o teu amor vem da guerra:… Melancia desbotada!… Coco verde está na terra!… Amigo! Nem lhe sei contar o resto!… A noiva atirou-se pra trás e pegou aos gritos. O padre-vigário benzia pra os lados… O ilhéu olhou para o Reduzo, viu-lhe o facão atravessado… e tomado dum mau espírito, gritou furioso e escarlate: — Foi esse negro, com tanta arma, que estarreceu a menina! E antes que o picassem — que o picavam — o reduzo pulou por uma janela e se foi ao galpão onde montou no primeiro matungo que encontrou e abriu os panos!… O resto é simples. Passados dois dias chegava o Costinha e apresentou-se ao velho Severo, pedindo a mão da moça. Tempos depois o Costinha já casado, o chiru passou a capataz. Era o confiança da casa. Veja vancê que artes de namorados: Melancia… Coco Verde!…

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