Eu vou tomar a vacina…

A semana promete aumentar a discussão em torno da data em que começa a aplicação da vacina contra o coronavírus no Brasil. Atrasados por disputas políticas, fomos devidamente colocados no nosso lugar: países que aceitaram as recomendações técnicas anteciparam as negociações e, hoje, estão chegando à segunda dose, o reforço necessário para a imunização. Por aqui, a antecipação da corrida presidencial do próximo ano levou a que já se tenha estoque suficiente para iniciar, mas travados na burocracia e em disputas que nos levaram a ultrapassar 200 mil mortos.

O país terá que lidar com uma lista de prioridade (ainda não haverá vacina para todos), começando por quem atua diretamente com a pandemia, seguidos de idosos que residem em casas geriátricas. Arrisco dizer que, na sequência, deveria estar o pessoal do comércio, exposto àqueles que apenas querem “dar uma voltinha e arejar a cabeça”… devidamente contaminados; assim como agentes da segurança pública, presentes em lugares que os colocam em situação de risco; e educadores, que voltam às atividades presenciais, em ambientes que prometem todos os cuidados, no entanto, quando se pensa que as coisas estão encaminhadas, voltam discussões que deveriam ter perdido o sentido. Pontuo que se negar a receber a vacina é diferente de negar a vacina: ninguém é obrigado a se vacinar.

Porém, deve estar preparado para ser penalizado, pois enquanto cidadão, a responsabilidade social envolve um grupo e o que nele acontece. Negacionistas repetem argumentos utilizados quando da vacinação da gripe: querem matar os velhos para não pagar aposentadorias! Muita gente caiu nesta onda e sofreu pela irresponsabilidade dos pregadores de fake news.

Emblemática a postagem do casal que mantinha os pais em isolamento e achou que era tempo de afrouxar um pouquinho. Em poucos dias, os dois estavam contaminados e mortos. Dias atrás, em um programa de rádio, o comunicador ouviu pessoa que achava que algumas coisas já poderiam ser feitas e se exagera no uso de máscara, álcool gel e distanciamento. Ficou assustada quando pessoa da casa se contaminou e teve que se isolar. O radialista disse: “fulana, seguidamente conto casos de pessoas que viveram situação idêntica à tua”. Resposta: “ah, não prestei atenção”.

Uma população mal informada, desatenta e seguidora de líderes populistas interessados em dividendos eleitorais. A pouca memória da nossa gente faz com que o que for dito e feito hoje não seja lembrado no final do próximo ano. Aqueles que enchem o peito apregoando que o sul do Brasil é um resquício de povo consciente e politizado tem que corar de vergonha quando se vê que demos alguns dos piores exemplos no que se refere às necessidades básicas do isolamento social. Falhou o processo de educação que poderia ter feito o diferencial e, infelizmente, não o fez.

Eu vou tomar a vacina. Não pretendo correr a um posto de atendimento, mas aguardar a imunização da primeira leva. Saber que, depois da primeira, há uma segunda dose e o período que mature o efeito em meu corpo. Autoridades creem que diminuam os casos graves e índices de internação. É possível que, em maio, seja o início do fim deste pesadelo, fazer memória dos mortos e agradecer pela vida, de que o longe ou perto não impede que se compartilhe sonhos e esperanças, que deram sentido à espera e razão de enfrentar tempos difíceis e necessários que ainda vem pela frente.

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