Educação: o lugar onde se concretizam sonhos

Manoel Jesus, educador. (Foto: Divulgação)

As recentes denúncias de que “pastores” intermediavam verbas do Ministério da Educação com prefeituras, mediante propina, deveria ser chamada de “ponta do iceberg” para tornar transparente (republicana) a forma como se faz política (e politicagem) no Brasil. Nos últimos anos se viu uma promiscuidade entre o setor público e lideranças religiosas – tradicionais ou não – que se deixaram seduzir pelo apelo do dinheiro e do poder. Podem até ser “bem-intencionados”, mas não se pode esquecer que, no ditado popular, se diz: “de bem-intencionados, até o inferno está cheio!”.

Homens e mulheres ditos “consagrados” – sem importar o tamanho de sua igreja – não podem priorizar atividades administrativas e financeiras. As religiões cristãs tradicionais demonstram que não conseguiram formar adequadamente novas lideranças, mesmo com escolas e universidades confessionais. Com isto, funções elementares de controle foram assumidas por seus líderes. A proliferação de igrejas neopentecostais, com menos quadros ainda, expôs as fragilidades de uma atividade centralizadora, sem o compromisso de prestar e tornar as contas transparentes.

Infelizmente, não existem políticas reais de preparação de lideranças. O que leva, em alguns casos, a buscar, no mercado, profissionais que respondam pelo processo administrativo e financeiro. Eles têm os vícios e as manhas de origem, consequentemente, até podem ser cristãos, mas não têm visão cristã de responsabilidade social. Alguns podem até ter, mas é exceção, não a regra. No caso das igrejas tradicionais, o fato de que os líderes ocupem tal função significa que não confiam na competência dos leigos, por um lado, e que não foram capazes de formar lideranças, por outro.

Passando pela discussão ética e moral, para além da religiosa, estão sendo expostas as entranhas de negócios sujos que possuem a bênção de alguns mercenários da fé. O mais difícil, nesta hora, é vestir a túnica da humildade. Talvez a veste mais “apertada” (questionadora) de se colocar sobre o corpo, já que é comum que mais próximos os coloquem em patamares onde se julgam sabedores de todos os assuntos e capazes de dirigir qualquer atividade. Hoje, não é assim. Lideranças mais antigas sentem-se perdidas num tempo em que são ouvidas de menos e atendidas menos ainda.

O aparelhamento do Ministério da Educação e Cultura por supostos religiosos é danoso ao país e às religiões, em todos os sentidos. Infelizmente, os gastos com o setor público têm se mostrado bem maior do que os investimentos que efetivamente retornam aos alunos e às escolas. Gasta-se com a máquina – mal ou bem – aquilo que não se gasta com o cidadão. O país já vinha de mal a pior antes da pandemia e o fechamento das escolas por mais de 200 dias transformou-se num recorde da incompetência e do descaso, longe de alcançar uma média de qualidade sofrível.

Homens e mulheres que se dizem “crentes” deveriam se preocupar com as previsões negativas da educação, que deve ser leiga, a serviço de toda e qualquer pessoa, com ou sem religião. Aumentou em 60% o número de crianças não alfabetizadas e as mais velhas, em Português e Matemática, voltam dez anos atrás. Quem deveria testemunhar a palavra de Deus, como instrumento de denúncia e transformação, torna-se algoz da sua própria gente. Solapam um ministério que deveria ser o lugar onde se concretizam sonhos. Hoje, torna-se, dolorosamente, o lugar onde morrem as esperanças…

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