“Amar como Jesus amou”

Manoel Jesus, educador. (Foto: Divulgação)

O sínodo dos bispos da Igreja Católica, que se realiza no Vaticano, con­firma que a instituição não anda no relógio da sociedade. Isto é: necessita de mais tempo para assimilar e vivenciar as mudanças, em todos os sentidos. Precisa de homens como o Papa Francisco que tenham coragem, como dizia dom Jayme Chemello, de “segurar os que avançam demais e apressar os mais lerdos”.

Infelizmente, na polarização que nos assola, o que se vê é que nem os mais apressadinhos têm paciência de esperar, assim como os mais lentos querem sair do seu empacamento. Ainda mais: há um grupo significativo que gostaria de vê-la estacionária no tempo ou até retrocedendo. O encontro de prelados do mundo inteiro é um alento em tempos sombrios para a Igreja Ca­tólica. Um instrumento que deve ajudar o pontífice a alargar a capacidade da sua congregação de reencontrar o caminho que a reaproxime da sociedade.

Enquanto se discutem – e se atrapalham – com temas realmente impor­tantes, como o diaconato para mulheres e a questão homossexual, come­te-se um triste jogo de palavras que desidrata sentimentos e ações como o amor, a caridade e a missionariedade. O disfarce vem pelas construções intelectuais e dos dicionários que escanteou seu real significado: gestos capazes de encarná-los na realidade, o básico do relacionamento humano que é cuidar, especialmente de quem mais precisa.

Os homens que comandam a Igreja Católica, consciente ou inconscien­temente, têm uma cultura machista, muitas vezes disfarçada de tolerância e suposta humildade. A sublimação da realidade é feita com discursos, muitas palavras encantadoras, que escondem a ausência de uma real presença na vida da população, que acontece pelas ruas e becos da cidade. Sobrepõe-se ao convívio social um ritualismo que deveria ser consequência de uma vivência comunitária.

“Amar como Jesus amou”, cantava o padre Zezinho. Já perguntei para muitos religiosos como “amavam, exerciam a caridade e a missionarieda­de”. Raras vezes recebi resposta que não fosse genérica e fruto de “estudos profundos” daqueles que desidratam a própria vida. Em qualquer idade, sempre é tempo de conversão a “amar como Jesus amou”. Para nós, os mais velhinhos, tempo de superar o encantamento com a própria voz e aquilo que se escreveu. Aprender a ouvir mais, sorrir mais e, quem sabe, perguntar se, neste momento, o que minha igreja precisa não é de alguém que ajude a des­cascar batatas, ralar cenoura ou apenas varrer o lugar comum a todos nós…

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