A Princesa nas matanças

José Henrique Pires licenciado em Estudos Sociais pelo ICH-UFPel, especialista em Políticas Públicas pela Universidade de Salamanca, Espanha, jornalista e radialista. (Foto: Divulgação)

Também fiquei surpreso quando soube que, além das programações sociais, a Princesa Isabel, na sua jornada pelotense, foi às charqueadas acompanhar matanças de gado. Assistiu mais de uma, em estabelecimentos diferentes, viu os leilões de gado na Tablada e até circulou bastante numa fábrica de adubos, em meio a odores característicos e inimagináveis.

O Correio Mercantil de 10 de fevereiro de 1895 conta da visita feita à Charqueada Almeida, na atual zona do porto de Pelotas. Reproduzo:

“Sua Alteza subiu ao Curro (curral), viu enlaçar a rês, desnucá-la, sangrar e cair na zorra que por força de uma junta de bois é conduzida a cancha para ser carneada. Passou em seguida à cancha e viu carnear uma rês em cinco minutos. Após, junto a salga e em cima de uma mesa, viu xarquear as mantas (grafia da época) – carne exterior das costelas – salgá-las e empilhar …dirigiu-se à graxeira…”

Cerca de 80 homens trabalhavam nessa fábrica de charque.

Tudo isso acompanhado de importante comitiva, que levava desde o padre da cidade ao governador da Província e que depois dessas demonstrações participavam de interessantes recepções, com licores, frutas e docinhos em profusão.

Naquela época, havia 30 charqueadas estabelecidas em Pelotas e 23 estavam em atividades.

O jornalista Maximio Serzedelo, que cobria a visita das autoridades a Pelotas, destacou nas páginas da Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro: “há aqui também uma xarqueada de éguas, cuja carne, ossos, etc., são aproveitados para o fabrico de graxa: o sistema de carneação é igual ao do boi. O da matança é bárbaro”.

Lá se vão 140 anos.

Houve visita à Santa Casa e Beneficência, passeio ao Parque Souza Soares no Fragata e inúmeras visitas a indústrias de móveis, bebidas e vestuário. Verdade seja dita, vendo as notícias daquele tempo, Pelotas tinha o que mostrar às Altezas que aqui estiveram por cerca de um mês.

Soube que a reedição do livro do Instituto Histórico e Geográfico está a caminho, com acréscimos e fotografias.

Conversei com alguns descendentes daqueles industriais e comerciantes do século 19 que interagiram com o pessoal da Corte e que saiu do Rio de Janeiro para a temporada gaúcha.

Qualquer dia volto ao assunto.

*José Henrique Medeiros Pires é Licenciado em Estudos Sociais pelo ICH UFPel, Especialista em Políticas Públicas pela Universidade de Salamanca, Espanha e jornalista e radialista

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