Aquele balde amava tanto
a cacimba que, certa vez,
concluiu, muito orgulhoso:
– A Cacimba é quem me fez!
E compôs em sua glória,
(com aquela voz de balde),
as bondades da Cacimba,
Mãe da sua utilidade!
Orava a cada manhã,
orava a cada noitinha.
E, embora beirando d´água,
cantava uma ladainha:
– “Louvada sejas, Cacimba,
pelos nordestes do mundo!
E dê graças quem tem água
sem precisar cavar fundo!
Louvada sejas, Cacimba,
porque me fizeste balde!
Eu vivo por tua água,
sou a tua utilidade!”
Um dia, fizeram casa
para o abrigo do vento,
e, na falta de outros baldes,
pegaram o balde d’água
pra se alcançar o cimento…
E ficou tão contrariado
nesse ofício tão pesado,
tão diferente do seu,
que não mais vendo a Cacimba
não mais compôs liturgias
e tornou-se um balde ateu.
Autor: Juarez Machado de Farias
Formado em Direito, radialista, poeta, músico, compositor, um dos grandes nomes da música e do folclore gaúcho, filho da Capital Farroupilha, Piratini.