Os azeites Olivae, que há três anos conquistaram o mercado gaúcho, são produzidos em solo piratiniense, uma marca 100% local. O produto é resultado do projeto que teve início há nove anos, a partir da visão empreendedora de um grupo de cinco empresários que resolveu investir na produção de azeite de oliva em solo gaúcho.
Conforme o sócio e diretor executivo, Alcyr Cardoso, as terras não foram escolhidas por acaso, pois os principais motivos dizem respeito às características de clima e solo, já que a região é um pouco mais seca do que o resto do estado, além de possuir solos mais franco arenosos, que secam mais rapidamente as águas das chuvas. “Ainda assim, possui um volume pluviométrico muito acima das regiões de origem dos olivais, ao redor do Mediterrâneo, Norte da África e Sul da Europa (Espanha, Itália, Portugal e Grécia), mas as condições de drenagem ainda são melhores do que nas demais regiões do Estado”, diz Cardoso.
O projeto, que prevê um total de 60 hectares de olivais, tem 45 hectares implantados com cinco variedades, duas espanholas (Arbequina e Picual), duas italianas (Frontoio e Coratina) e uma grega (Koroneiki). Faltam, ainda, 15 hectares para serem implantados. Depois de plantadas as mudas, os olivais levam de três a quatro anos para se desenvolver e começar a produzir.
Na safra 2020/2021, foram produzidos seis mil litros de azeite, o equivalente a 24 mil garrafas de 250 ml (mililitros). A empresa, que funciona desde março de 2012, junto ao quilômetro 77 da BR-293, no 2º Distrito, emprega cinco funcionários efetivos e gera outros 20 a 25 empregos temporários em algumas épocas do ano, como por ocasião da poda e colheita.
Segundo ele, o azeite de oliva é um produto natural, extraído sem nenhum tipo de processo físico-químico. Na extração, é esmagada a azeitona, formando uma pasta que é batida para aglutinar as micropartículas do azeite e facilitar a separação entre o sólido e o líquido. Após a separação do azeite do bagaço, vem o último processo que é a filtragem, por causa dos resíduos, como água e partículas da própria azeitona. “A filtragem ocorre para que o azeite tenha uma vida de prateleira maior”, ressalta. Enquanto o azeite não filtrado tem um tempo de prateleira de quatro a seis meses, o filtrado é de dois anos.
De acordo com Cardoso, o ideal seria consumir o azeite não filtrado por estar com a máxima concentração dos polifenóis, substâncias antioxidantes para o nosso organismo”, destaca. Isso faz com que o azeite seja um alimento funcional e não apenas uma gordura vegetal. Mas mesmo filtrado, o azeite jovem, dos primeiros meses até um ano da sua extração, ainda possui uma boa concentração desses polifenóis. Esta também é uma vantagem do azeite nacional em relação aos importados.
“Por que o nosso azeite é tão bom? Porque foi colhido agora, em fevereiro, março, abril”, afirma, ressaltando que “o azeite desta safra está no auge do produto, com apenas dois a três meses colhido”. Ele destaca, também, a importância de observar a data da colheita ou safra do azeite. “Na maioria dos azeites importados, o fabricante se restringe a informar a data do envase ou engarrafamento, o que não diz nada sobre a qualidade do azeite”, observa.
Cardoso vislumbra, para um futuro próximo, a certificação de denominação de origem para o azeite produzido na região, já que a produção se dá em condições bem superiores de clima e solo em relação aos países da Europa, o que reflete na exuberância das plantas e qualidade da fruta. “É necessário identificar parâmetro, sensorial (sabor ou cheiro) ou químico (mais polifenóis, acidez, picância), que se identifique com a região”, comenta.
Com base em experiência realizada na última safra, em que foi recebida a produção de um pequeno produtor vizinho para a extração do azeite, ele entende a olivicultura como uma alternativa interessante aos produtores locais. “O segredo da propriedade hoje é ter vários produtos para uma maior estabilidade econômica e a olivicultura para quem já possui a terra pode ser um investimento interessante”, afirma. O custo de implantação de um hectare de oliveira gira entre R$ 18 mil e R$ 20 mil, se não contar o custo da terra, e a produção plena se dá a partir do quinto ano.
Outro setor que começa a ser movimentado, mesmo de maneira ainda incipiente, é o turismo, o que pode ser muito interessante para o município pelo potencial histórico. “Nós temos recebido grupos de até 30 pessoas para conhecer o olival, caminhar no campo. Também são oferecidas degustação dos produtos e palestra sobre como diferenciar, manusear e guardar os azeites e o pessoal tem gostado bastante”, finaliza.