O Jornal Tradição Regional e o programa Zona Sul em Movimento começaram nesta semana a série de entrevistas com os candidatos à Prefeitura de Pelotas em 2024. Conforme as regras previamente estabelecidas com as coordenações de campanha, cada candidato poderá falar sobre cinco temas: saúde, educação, infraestrutura, orçamento público e desenvolvimento econômico.
Conforme sorteio realizado em reunião com os representantes das candidaturas, o segundo candidato a ser entrevistado pelo jornalista Carlos Machado foi João Bourscheid do Partido da Causa Operária (PCO).
Confira a partir de agora os principais trechos da entrevista
Filiado ao Partido da Causa Operária (PCO) desde o início deste ano, o professor João Bourscheid foi escolhido pelo diretório municipal para disputar a Prefeitura. Pesou na escolha seus 40 anos de militância política iniciados no movimento estudantil, cuja trajetória inclui, além de partidos de esquerda, também o movimento sindical através do CPERS-Sindicato.
Candidato pela primeira vez por um partido sem representação na Câmara dos Deputados, Bourscheid revela que a intenção primordial da candidatura é garantir espaços para tornar o PCO e suas bandeiras conhecidas da população. Isso, no entanto, não significa que o partido não tenha um olhar dirigido para a cidade.
Educação
Bourscheid defendeu a oferta de educação pública universal, gratuita e de qualidade e atrelou a possibilidade de o governo conseguir atingir essa meta na defesa dos direitos dos trabalhadores. “Para se ter essa perspectiva, se precisa cumprir um projeto de defesa dos direitos dos trabalhadores em educação. Sem essa garantia, se inviabiliza a educação gratuita e de qualidade. Por isso, defendemos a estabilidade do servidor, o plano de carreira e o piso nacional”, declarou.
O candidato criticou o projeto neoliberal defendido por grande parte dos políticos brasileiros e que trata da participação cada vez maior da iniciativa privada na gestão pública, especialmente na educação, saúde e saneamento. “Esse caminho neoliberal promove um desmonte do setor público para repassar serviços para a iniciativa privada. Todos falam que é o novo, que é moderno, mas o que temos visto é que leva a sociedade para um apagão”, afirmou.
Bourscheid disse, ainda, que o PCO não abre mão de ampliar a infraestrutura da rede escolar municipal para garantir o direito de todos os cidadãos ao acesso à educação de qualidade e à ciência. Ele aproveitou para criticar a falta de investimentos na educação básica e, especialmente, a carência de vagas na educação infantil na rede municipal.
Promover a conscientização e a mobilização da população para a defesa do aumento do percentual do PIB nacional investido na educação dos atuais 4% para 10% também fazem parte do projeto do PCO. “Se teve um projeto um tempo atrás para destinar 10% do PIB para a educação, mas, em parte pelo golpe de 2016 e parte por acomodamento da classe política, não se discutiu mais o assunto. Mas se isso acontecesse, teríamos um salto gigantesco na educação, poderíamos abrir novas escolas, ter mais estrutura e condições novas, mas o pensamento atual é de promover só cortes, de dizer que não se tem dinheiro, enquanto os banqueiros a cada ano ficam mais ricos e a sociedade anda para trás”, disse.
Orçamento público
Uma das principais propostas para o tema das finanças públicas é realizar uma auditoria profunda das contas da Prefeitura, em especial das dívidas e financiamentos, com o objetivo de apurar quanto o município compromete em repasses para instituições financeiras e travar uma luta contra o pagamento de juros da dívida pública. “Se tem a perspectiva de mostrar ao povo o que está sendo feito com o dinheiro público. Precisamos abrir as contas da Prefeitura, pois hoje sabemos onde estão os gastos e de onde vêm os recursos, mas sem abrir a caixa-preta dos acordos todos que a gente não sabe, como as isenções de impostos, de créditos repassados para outros setores, é muito difícil saber o que pode fazer”, afirmou.
A redução de impostos como o IPTU para os trabalhadores é outro ponto defendido por Bourscheid. O candidato acredita que os mais ricos devem sustentar o orçamento público.
Para levar adiante as mudanças pensadas, Bourscheid disse ser essencial a participação do povo no governo. “Nosso entendimento é de que não conseguiremos levar adiante nosso plano de governo se o governo não estiver na mão dos trabalhadores. Não fazemos transformações via parlamento, fazemos junto com o povo e nossa ideia é de avançar junto com o povo. Não há outro caminho sem ter essa unidade entre povo e governo”, declarou.
Saúde
Com relação ao tema da saúde pública, o candidato afirmou que o PCO é a favor da saúde 100% pública, adequada às demandas da população e sem ingerência do setor privado. “É preciso que a administração pública esteja presente em todas as etapas. Não se pode ficar refém da iniciativa privada, pois assim não se tem o poder político para tomar as medidas adequadas para fazer frente a situações como, por exemplo, de uma pandemia. O governo não pode correr o risco de não ter acesso aos recursos necessários para atender a população”, garante.
Apesar de defender a estrutura do SUS, o candidato reconheceu a falta de investimentos e a necessidade de adequação dos serviços às novas tecnologias, especialmente no que diz respeito à prevenção. Bourscheid também sustenta um modelo de saúde básica mais próximo da população a partir de uma mudança da cultura de atendimento e fixando os médicos nos bairros. Citou como exemplo positivo o modo de trabalhar dos médicos cubanos do programa Mais Médicos. “Eles apresentaram uma nova cultura de atender à população, de ficar no bairro, de morar no bairro e compreender toda a saúde das pessoas e quanto mais se conhece um paciente, mais fácil fica de tratar”.
Para o candidato do PCO, é impossível enxergar a saúde pública como um elemento isolado dentro da cidade. “Toda a infraestrutura, habitação, saneamento, oferta de água potável, tudo está ligado ao setor da saúde. Não é uma coisa que se relegue e passe para outro gerir, tem que ter a mão do governo em tudo”.
Infraestrutura
“Pelotas está muito atrasada, os bairros estão jogados. Tu passas pelos bairros e vê esgoto a céu aberto, faltam encanamentos, faltam as condições mínimas. Minimamente não se tem uma administração voltada para o povo”, criticou ao abrir o tema da infraestrutura.
O envolvimento das universidades e dos movimentos populares com a administração é apontado por Bourscheid como uma alternativa para transformar a realidade da infraestrutura urbana.
De acordo com a visão do candidato, a partir do momento em que o governo atuar na mobilização da comunidade e dar as condições estruturais necessárias, é possível promover a transformação dos espaços urbanos, sem envolvimento da iniciativa privada.
Ao comentar sobre a estratégia adotada por municípios em firmar Parcerias Público Privadas (PPPs) para viabilizar ou ampliar a oferta de serviços, Bourscheid é taxativo: “a única PPP possível é a Parceria Pública com o Povo”.
Desenvolvimento econômico
Ao apresentar as propostas para o desenvolvimento de Pelotas, o candidato deixou claro que a cidade estará sempre aberta a empresas interessadas em investir no município, mas não haverá qualquer política de incentivo fiscal. “O setor privado tem que se bancar. Se uma indústria quer vir para Pelotas, vai ter que colocar o seu dinheiro na infraestrutura, comprar seu terreno, pagar água e impostos. Caso contrário, se a Prefeitura oferece tudo e em 10 anos a empresa resolver ir embora, quem fica com o prejuízo é o município e a população, pois esse dinheiro deixou de ser investido em áreas importantes como saúde e educação”, pontuou.