Com o tema “Doce sabor da infância”, neste ano a Fenadoce busca trazer um mundo de criatividade pelo olhar das crianças, ressaltando o poder das memórias. Assim como as vivências da infância, o doce também tem sua ligação com os conhecimentos passados por gerações, seja através dos livros de receitas das sinhás, ou pelo ato das crianças acompanharem a produção junto de familiares.
E não dá para pensar em memória sem citar aquele que é conhecido por ser uma casa de lembranças e, claro, da cultura doceira. O Museu do Doce, sob administração da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), guarda um dos maiores tesouros dos doces da cidade: a história. Com espaços dedicados a diferentes e diversas produções, o local possui opções imersivas, como o espaço dos pêssegos em calda, que contém dezenas de latas das grandes fábricas de Pelotas, além de um aparelho sonoro que ambienta o visitante ao som que poderia ser ouvido nesses locais durante a produção dos doces.
A diretora do museu e professora de museologia da UFPel, Noris Leal aponta que, atualmente, os tradicionais doces feitos com frutas já têm perdido seu destaque, o que se vê de maneira mais clara a cada geração. “Talvez hoje a gente tenha que trabalhar mais essa questão do doce na infância, porque inclusive os doces de frutas as crianças já não gostam mais. É uma coisa que a gente tem que trabalhar um pouco, tanto na infância dos nossos filhos quanto como instituição, trabalhar essa tradição para que vá passando pelas crianças”, enfatiza.
Ela explica que a produção de doces costuma envolver todos os membros da família, incluindo as crianças. Mas se muitos pais já lutam para incentivar o consumo de frutas e produtos naturais nas refeições básicas, quando se trata da sobremesa não é diferente. Os tradicionais doces artesanais que antes incluíam frutas da estação têm perdido espaço para um ingrediente industrializado: o leite condensado.
Noris detalha que a antiga produção era feita em grande maioria com os itens conforme a colheita, contando com uma cadeia produtiva que envolvia o produtor que cultivava árvores frutíferas. “Se usava muito pouco o leite condensado, então tinha que dar ponto, o que leva muito mais tempo, que é uma coisa que a gente não tem mais. Inclusive é isso que a gente tem que pensar, como instituição de memória, como que isso está passando para as crianças”, ressalta.
O tempo tem sido um dos maiores desafios para a tradicional produção doceira, fazendo com que o trabalho de resgate e manutenção dessa cultura seja fundamental. “A gente pega a receita dos doces antigos e é uma coisa muito demorada, com muitos ingredientes, para famílias grandes. Mesmo se a gente pegar as receitas do Livro de Doces de Pelotas, que é de 59, são muitos ingredientes e muita quantidade de ingredientes, não se faz mais isso”, admite. Estas mudanças, conforme avaliação da diretora, fazem parte do processo histórico, como algo que acontece naturalmente. “Claro que uma tradição nunca vai ser igual, porque a nossa alimentação vai mudando conforme o tempo passa, conforme os nossos costumes. Nenhuma tradição é igual, a gente vê uma transformação”, completa.
A escolha do tema da 29ª edição da feira, que tem o intuito de promover um resgate da cultura e todas as ações reforçando a importância do doce para Pelotas contribuem para que as tradicionais práticas sejam preservadas. “A tradição do doce, essa cultura de como se fazia o doce, e o doce que foi registrado, ela tem que ser muito valorizada para que as pessoas mais novas se interessem”, pontua.
Neste sentido, para conhecer mais sobre a história do doce na cidade, conferir de perto os tipos de doces, além de itens que eram usados e até mesmo construídos para facilitar o processo doceiro, o destino é o Casarão 8 da Praça Coronel Pedro Osório, prédio histórico localizado no centro de Pelotas entre as ruas Lobo da Costa e Barão de Butuí que abriga o Museu do Doce.
Durante os dias de feira, o Museu contará com um horário diferenciado, com atendimento aos sábados para os turistas que quiserem conhecer mais a fundo a história da tradição doceira. Além do horário regular, das 13 às 18h entre terças-feiras e sábados, a instituição também abrirá pela manhã nas sextas-feiras e sábados. Aos domingos a visitação também estará disponível nos turnos da manhã e tarde.