Na tarde de quinta-feira (7), a reitoria da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) promoveu uma live aberta à comunidade e, posteriormente, uma coletiva de imprensa onde informou que a instituição será governada conjuntamente entre a reitora nomeada pelo presidente Jair Bolsonaro, Isabela Andrade, e o reitor eleito democraticamente pela comunidade acadêmica, Paulo Ferreira.
A decisão tomada pela nova gestão é, segundo eles, uma forma de resistir à nomeação legal emitida pelo presidente, que elegeu Isabela entre os três nomes disponíveis para assumir a reitoria e não o primeiro colocado nas urnas.
A chapa Diversa recebeu 56,4% da aprovação da comunidade acadêmica e é uma continuação da gestão passada, Uma UFPel Diferente, que pôs Pedro Hallal à frente da Universidade por quatro anos. A lista tríplice encaminhada ao Ministério da Educação (MEC) pelo Conselho Universitário (Consun) da UFPel contava com integrantes da mesma chapa, o que de acordo com Hallal foi uma estratégia do grupo para que a escolha da comunidade fosse respeitada.
O reitor eleito afirmou que Isabela foi gentil em colocá-lo ao seu lado na reitoria e reiterou que o ato de da não nomeação do primeiro colocado foi um golpe do presidente da República e não concorda com o fato. Porém, diz que a comunidade escolheu uma proposta e não apenas uma pessoa, visto que a chapa não é personalista.
Nesse sentido, a nomeação da professora Isabela atinge a expectativa de que o primeiro colocado seja empossado, sob o lema “Reitor eleito, reitor nomeado”. No entanto, não impactará nas decisões a serem tomadas pela reitoria, uma vez que Ferreira participará das decisões. Segundo Hallal, “ambos trabalharão, lado a lado, num modelo de gestão participativa, que servirá como um contra-ataque, uma resposta, à decisão autoritária do presidente da república de não nomear o primeiro colocado da lista enviada ao Ministério da Educação”.
O professor Eraldo dos Santos Pinheiro também compunha a lista tríplice, encaminhada ao MEC, e durante a coletiva afirmou que teria tido a mesma atitude de dividir a reitoria, se nomeado. Após a posse de Isabela, ele assumirá a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura.
A nova vice-reitora, Ursula Rosa da Silva, destacou em sua fala que embora a chapa tenha escolhido Ferreira para o cargo de reitor, Isabela sempre compôs o projeto a ser implementado, e nas palavras dela, possui o “DNA do programa”. Acrescentou ainda que o grupo é “solidário à Isabela por estar passando por um constrangimento público, vítima de fake news, como se tivesse ardilosamente articulado um golpe. O golpe quem está nos dando é o presidente, que escolheu nomear, propositadamente, outro nome da lista tríplice”, afirmou.
De acordo com a reitora nomeada, a quarta-feira (6), quando recebeu a nomeação, foi um dos piores dias da sua vida. “Vi, em questão de horas, toda a trajetória que sempre tentei construir sendo descartada por alguns e dando lugar a discursos agressivos. Foi um dia triste, pesado e de provações. Não é fácil estar na vitrine e receber pedradas. Não desejo a ninguém o que estou passando”, lamentou. Entretanto, salientou que recebeu, também, apoio e carinho daqueles que desejam o melhor para a instituição.
Isabela informou que não tinha a pretensão de assumir a reitoria, respeitando o resultado apresentado nas urnas, porém afirmou: “Não cairemos na estratégia de abrir mão de conduzir a Universidade pelos próximos quatro anos, pois temos uma comunidade bastante envolvida com o processo eleitoral. E eu, em particular, me coloco em uma posição bastante comprometida”. Para tal, diz que se sacrifica pessoalmente ao expor a família aos ataques sofridos, com o objetivo de um “propósito maior” que é o programa de gestão a ser implementado.
“A partir de amanhã [sexta-feira], eu e o Paulo estaremos, juntos, na Reitoria da Universidade Federal de Pelotas, numa soma de Reitora Nomeada e Reitor Eleito, respaldada por uma equipe e pela comunidade. Vamos assumir no interesse da comunidade. Vamos assumir, e construir a Universidade que a gente quer”, finalizou a reitora.
Antes da nomeação, Isabela assumiria a Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento, porém agora, a pasta ainda não possui um novo substituto. No entanto, a reitora afirmou que o restante da equipe seguirá a mesma.
De acordo com Hallal, juridicamente não há grande probabilidade de reversão da nomeação de Isabela. Mas a UFPel ingressará com recurso administrativo direcionado ao MEC e continuará na expectativa do resultado da ação conjunta das Universidades Federais protocolada junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Hallal ainda fez um agradecimento à equipe que esteve junto com ele durante o período que esteve como reitor da UFPel e destacou que a instituição está entre as melhores universidades do Brasil. Salientou as conquistas, como o um Restaurante Universitário (RU) no Campus Anglo e do ônibus próprio disponibilizado aos estudantes.
“A UFPel está mais forte e mais unida do que nunca. Que venham mais quatro anos de muitas conquistas”, finalizou.
Quem são os reitores
Isabela é professora da instituição desde 2013 e ocupava o cargo de diretora do Centro de Engenharias (CEng). A docente é formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e possui mestrado e doutorado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Paulo é docente do Centro de Desenvolvimento Tecnológico da UFPel desde 2009. Possui Doutorado em Ciência da Computação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Mestrado na mesma área pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Posicionamentos
Para a presidente da ADUFPel, Celeste Pereira, a ação do governo fere a autonomia universitária, e defende a nomeação de Paulo Ferreira. “Vemos com indignação o desrespeito à escolha da comunidade acadêmica. Em que pese nosso respeito à professora nomeada, a escolha foi outra. Entendemos que o reitor eleito tem que ser nomeado”, afirmou em nota.