Semana da Consciência Negra elucida a resistência em Pelotas

Abertura oficial da Semana da Consciência Negra ocorreu no último dia 13 (Foto: Carina Reis/JTR)

Um mês para visibilizar a influência histórica, cultural e religiosa, bem como as lutas sociais. Dentro deste contexto, mostra a necessidade de combater a discriminação racial e religiosa. Novembro é conhecido por elucidar as atividades relacionadas aos negros, principalmente o dia 20, quando se comemora o Dia da Consciência Negra e a morte de Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência e lutas contra a escravidão, pela liberdade de culto, religião e prática da cultura africana no Brasil Colonial.

Assim, entre os dias 13 e 20 ocorreu em Pelotas a Semana da Consciência Negra, com o tema “#Resista! Injúria racial é crime!” integrando diversas atividades, uma realização da Prefeitura, Conselho da Comunidade Negra e Ordem dos Advogados do Brasil – subseção Pelotas. Conforme o presidente do Conselho da Comunidade Negra, Fábio Gonçalves, o crime de injúria racial é o que mais acomete a população negra no Brasil. Por isso, a temática teve como intuito provocar a população a refletir e perceber que é um crime contundente.

“A #resista aponta para a ideia de que o corpo negro, independentemente do meio que ele circule, resiste. Politicamente, a presença negra, em qualquer espaço, sobretudo, espaços de relevância social, resiste por conta do racismo estrutural que opera na sociedade, que traz como consequência final a invisibilidade paradoxal dos negros nestes espaços de significância social”, diz.

Para reverter o quadro de exclusão da população social negra, Gonçalves acredita que é necessária uma iniciativa na área da educação, para que as gerações sejam educadas de maneira mais humanística, de modo a compreender que grupos raciais são todos iguais e merecem o mesmo pertencimento.

Atualmente, há uma série de políticas públicas em curso, principalmente na parte educacional, como a Lei 10.639, que inclui o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas redes públicas e particulares da educação – que até hoje não é cumprida -, a Lei 10.645, de 2008, que incrementa também o estudo da cultura indígena. Também há a Lei 12.711/2012, que é das cotas sociais para ingresso nas instituições federais e universidades, dentre outras. Para Gonçalves, o cumprimento das leis já existentes traria avanços.

“Estas leis representam ações de reparação, de políticas públicas, pois se percebe que a sociedade por si não foi capaz, mesmo após a abolição, indo para a quinta geração do pós-abolição, a sociedade não garantiu uma participação mais igualitária dos grupos raciais”, comenta.

De acordo com o babalorixá Juliano de Oxum Epandá, Pelotas e Rio Grande são o berço onde os negros escravizados trouxeram a religião, legado, tradição e culinária. E nos dias de hoje, há um crescimento de pessoas adeptas a religião de matriz africana no povo de terreiro. “Não estamos só no terreiro, fazemos um trabalho social”, destaca, ressaltando a importância da criação do Conselho Municipal do Povo de Terreiro.

Ainda, integrando as atividades da Semana, na última segunda-feira (18) ocorreu a entrega da imagem do Bará, Senhor dos Caminhos, e da chave da cidade para ele como representante de Pelotas, através do babalorixá Pai Paulinho de Ogum Xaroquê. “Eu vejo a chegada dessa imagem como uma forma de reparação histórica para a negritude, poder cultuar, bater tambor dentro do mercado, fazer um evento tão grandioso”, ressalta. O responsável pela imagem está conversando com a Prefeitura para que a imagem possa ficar em um local no Mercado Central.

Ícones Inesquecíveis

Uma iniciativa criada por Gonçalves, que contou com ajuda do historiador Wesley Gularte Machado, tem como objetivo levar às crianças nas escolas o acesso aos ícones que deixaram seu legado para a sociedade. Nesta edição, em folders, foram apresentadas microbiografias de Giamarê, Giba Giba, Maria Helena Vargas, Mestre Batista, Rubinei Machado, Miguel Delmar Dias e Mister Pelé.

“Costumo chamar que é uma militância de resultado, estes ícones, sobretudo estes da primeira edição que nos deixaram, foram conhecidos, suas contribuições estão vivas na memória dessa criançada que poderá passar adiante”, finaliza.

Babalorixá Pai Juliano Silva da Silva com a imagem de Bará e chave da cidade (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

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