Novo modelo de ensino médio começa a ser implementado neste ano

Novo ensino médio possibilitará que o estudante aprofunde os estudos em uma área. (Foto: Gustavo Gargioni/Especial/Palácio Piratini)

O novo ensino médio foi aprovado pelo Congresso Nacional em 2017 e está previsto para entrar em vigor em todas as escolas públicas e privadas a partir deste ano. As mudanças contam com uma alteração na carga horária e na maneira como as disciplinas previstas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) serão ofertadas.

Neste novo formato, a carga horária que antes era de 800 horas anuais agora passa para 1.000 horas. Mas o principal diferencial é a divisão do modelo curricular em duas partes. A primeira é a Formação Geral Básica (FGB), de acordo com a BNCC, que deve ocupar 60% da grade, enquanto outros 40% serão preenchidos pela parte denominada itinerários formativos.

Na segunda etapa, o aluno decidirá entre cinco áreas de estudo que deseja aprofundar durante os três anos letivos, sendo elas: Linguagens e suas Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e Formação Técnica e Profissional. Dentre as matérias, apenas Língua Portuguesa e Matemática vão ser obrigatórias nos três anos de ensino médio.

Inicialmente, 10 escolas da 5° Coordenadoria Regional de Educação (CRE-
RS) fariam parte de um projeto-piloto, mas devido à chegada da pandemia, apenas três conseguiram implementar os itinerários formativos, sendo elas: Colégio Estadual Carlos Alberto Ribas, em Jaguarão, Escola Estadual de Ensino Médio Dr. Joaquim Duval e Escola Estadual Ensino Médio Santa Rita, ambas em Pelotas.

Doutora em Educação, Carla Amaral aponta que a reforma do ensino médio aumenta a desigualdade na educação. (Foto: Arquivo Pessoal)

A coordenadora da 5° CRE-RS, Alice Maria Szezepanski, resumiu o novo modelo como um desafio nacional enfrentado por todas as redes de educação, com o objetivo de melhorar o cenário educacional do país, buscando atender as diferentes necessidades da sociedade como um todo. Alice explica que, em 2022, o novo ensino médio será implantado em todas as escolas da rede estadual nas turmas de 1º ano.

“A nova organização curricular mais flexível foi estruturada com o objetivo de garantir uma formação integral e aproximar o processo educativo à realidade dos estudantes, considerando as novas demandas do mundo do trabalho. Será um grande desafio para todas as redes, que terão que se adaptar a este novo formato de ensino, que busca atender aos anseios dos jovens, os colocando como protagonistas de sua formação”, conclui.

A doutora em Educação Carla Amaral explica que a ideia do governo é que nenhuma das disciplinas do currículo atual sejam excluídas e que os alunos tenham autonomia para decidir o próprio futuro. No entanto, lembra que isso depende da formação de professores, especialmente para o itinerário de formação técnica e profissional. Segundo ela, a principal dificuldade para que o ensino médio possa se encaixar nesse formato é a estrutura das escolas brasileiras, especialmente das escolas públicas. “Os estudantes não vão ter tanta liberdade de escolha assim porque eles vão ter que optar entre os itinerários disponíveis naquela escola ou na realidade deles”, explica.

A equipe diretiva da Escola Dr. Joaquim Duval, nas Três Vendas, ainda não consegue manifestar os benefícios do novo modelo na vida dos alunos. Apesar de estar trabalhando nos últimos dois anos com o projeto piloto, essa adaptação precisou ser feita de forma remota. A principal dificuldade apontada foi a adaptação dos professores às disciplinas de formação técnica, já que a equipe docente precisa se programar de acordo com a demanda. “Contamos com excelentes professores, mas nem todos possuem formação suficiente para se adaptar a todos os itinerários exigidos”, pontuou Ana Paula, funcionária da escola.

Escola Dr. Joaquim Duval, nas Três Vendas, em Pelotas, participou de projeto-piloto que implementou parte dos itinerários formativos. (Foto: Divulgação)

Além dessas alterações, outra importante mudança no cronograma previsto pelo MEC institui a modernização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), com duas provas. A primeira seria relacionada a Formação Geral Básica, de acordo com a BNCC, e todos participariam. Na segunda etapa, os estudantes responderiam questões de acordo com o itinerário escolhido .

Também professora de Artes Visuais do IFSul campus Sapucaia do Sul e diretora regional sul da Associação Nacional de Professores de Arte dos IFs, Carla aponta que a reforma do ensino médio aumenta a desigualdade na educação brasileira.

“Cada grupo de estudantes, dependendo da escola onde vai estar estudando, da sua realidade, do seu local e do seu modo de vida, da comunidade onde essas pessoas estão inseridas, vai ter opções e possibilidades restritas às pessoas que tem uma condição de vida melhor e que podem estudar em escolas privadas, por exemplo. [Esses estudantes] vão ter um ensino médio muito mais completo, os itinerários vão ser fornecidos de uma forma mais completa, ou seja, a gente volta para aquela velha síntese: quem pode pagar tem educação completa e quem não puder pagar vai ter que se adequar aquilo que estiver sendo oferecido na sua realidade”, afirma a doutora em Educação.

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