Agricultura familiar: a conquista de espaço em Arroio Grande

Família Machado é oriunda de Ibirubá e integra o Assentamento Novo Arroio Grande (Foto: Rafael Viana/JTR)

O processo de desenvolvimento econômico em Arroio Grande sempre esteve sustentado na produção de grãos, principalmente arroz e soja. A diversificação da matriz produtiva com a implementação da agricultura familiar tem raízes fortes na chegada de trabalhadores de outras regiões do estado que por escolha ou por acaso optaram residir no município, implementando novos hábitos na comunidade.

Um exemplo é a família de Lurdes e Melchior Machado, que participou desse processo. Juntos há 56 anos, os dois, naturais de Ibirubá, localizado na região noroeste, atuavam nas áreas de leitaria e agrícola. A história sobre a ida a “Terra de Mauá” é comum entre famílias que integram o Assentamento Novo Arroio Grande – situado a 15 quilômetros do município – também oriundas do Movimento Sem Terra que receberam lotes na década de 1990.

Ao recordar a vida na cidade natal, o casal não se mostra insatisfeito, no entanto, o desejo da família em possuir a própria terra foi o fator determinante para que optassem por ingressar no movimento, enfrentando dificuldades durante o período, principalmente pelas características diferentes entre as regiões.

A nora Mirtes Machado, que também vivenciou todo o processo de adaptação, relata que na época passaram por diversos acampamentos em outras cidades, antes de serem encaminhados através de sorteio para os lotes em Arroio Grande. Eles foram contemplados com três lotes de terra, divididos entre dois filhos e o casal.

Após o primeiro choque com a realidade, o desafio era executar uma forma de produção diferenciada, desafio que ficou ainda mais árduo pelo preconceito sofrido pelas famílias ao chegarem na região. “Esse processo foi muito difícil, pois no começo a fama do movimento e da reforma agrária era muito mal vista. Chegamos a ser mal tratados muitas vezes”, relata Mirtes.

Com o passar do tempo, os trabalhadores formaram laços com a comunidade através da comercialização de produtos, inclusive por meio de uma feira criada pelas famílias assentadas para comercialização. Dessa forma, a agricultura familiar passava a fazer parte da matriz produtiva local.

Segundo a família Machado, o consumo de alimentos oriundos da produção familiar, como mandioca e batata-doce, está relacionado aos costumes implementados pelos colonos, que na época ensinavam até mesmo como prepará-los.

A ajuda no processo de adaptação
Durante o processo de adaptação das famílias, a Comunidade Católica de Arroio Grande foi fundamental na assistência social dedicada aos trabalhadores assentados, conseguindo agasalhos e até mesmo alimentos, ajuda que foi extremamente necessária para a consolidação do trabalho e a permanência na cidade.

Dentro das questões relacionadas a políticas públicas de interesse dos agricultores familiares, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais também tem exercido um papel fundamental ao longo dos anos, procurando inserir e divulgar a agricultura familiar como uma alternativa econômica viável. Naquele momento, o próprio movimento sindical custou a se adaptar e entender a importância da efetivação de uma nova matriz produtiva, mas com o decorrer do tempo adaptou a forma de atuar e buscou uma maior proximidade com os agricultores.

Para o presidente em exercício do Sindicato dos Trabalhadores, Gabriel Santos, o processo de implementação dos assentamentos representou uma mudança que se reflete na diversidade de produtos e reforça a necessidade de ampliação de políticas públicas que beneficiem as famílias que desejam produzir.

Neste período de pandemia do novo coronavírus, muitos trabalhadores não estão conseguindo comercializar seus produtos. Por isso a diretoria da entidade criou um sistema de vendas via telefone com a entrega efetuada pelo sindicato. Em contrapartida, muitas famílias produtoras colaboram através de doações de legumes e hortaliças que são distribuídos por voluntários aos mais carentes.

De maneira geral, os agricultores familiares das mais diferentes regiões contribuem com o município, passando a escrever uma história retratada no trabalho desempenhado por cada um que em Arroio Grande se estabeleceu.

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