Doris tem um rosto pequeno e arredondado, no qual se destacam os grandes olhos brilhantes e uma boca de lábios muito finos, que lhe concedem um aspecto curioso, mede um 1,60 metro e pesa 58 quilos. A partir de suas características físicas, não chamaria a atenção, mas chama. Isso porque, apesar de semelhanças físicas, Doris não é humana. É um robô. E até mesmo seu nome, não é um nome, mas uma sigla em inglês: ¬Domestic Robotic Intelligent System, ou Sistema Inteligente Robótico Doméstico.
Doris foi projetada e desenvolvida pela equipe de Robótica da Universidade do Rio Grande (Furg) com parceria da Universidade de Santa Maria e, nesta semana, representará o Brasil na RoboCup 2022 (a Copa do Mundo da robótica), realizada em Bangkok.
O campeonato começou na segunda-feira (11) e a equipe já esteve no local para os primeiros testes no cenário da prova. A competição em si começa na quarta (13) após a inspeção final dos equipamentos, e vai até o domingo (17).
Robô doméstico
A simpática robô enxerga através de sensores e câmeras, tem um braço mecânico para manipular objetos e um complexo sistema de movimentação, navegação e orientação que a torna capaz de se deslocar pelos ambientes com perfeição, além de ver e reconhecer objetos em tempo real.
Com o objetivo de melhorar a interação com as pessoas, Doris foi dotada de um banco de dados com perguntas pessoais como, por exemplo, “qual seu filme favorito?” ou “qual a pessoa mais importante para você” o que lhe garante uma “personalidade” amigável.
O rosto animatrônico capaz de expressar sentimentos como tristeza e felicidade, através dos movimentos dos olhos e sobrancelhas, aumenta essa proximidade. A pequena notável da Furg é capaz, também, de fazer pesquisas online no Google.
Conforme o estudante de Engenharia de Automação e integrante da Equipe de Robótica da Furg -FBOT, Jardel Dyonisio, o custo do robô é de aproximadamente R$ 50 mil.
Aprendizado
Nesta Copa do Mundo, Doris irá competir na categoria @Home na qual deve realizar trabalhos domésticos de forma autônoma, compreendendo o comando enviado e efetuando a captura dos objetos específicos utilizando seu braço robótico. Também deve se locomover pelo ambiente sem colidir com móveis, pessoas, animais ou outros obstáculos. “Na competição, basicamente são tarefas que devem ser feitas, cada uma delas com um objetivo distinto. Por meio disso é que são gerados os pontos que vão regular a posição de cada equipe”, diz o estudante. As duas equipes com maior pontuação se enfrentam em uma grande final da categoria.
O grupo que representa a equipe de robótica FBOT, na Tailândia, é formado pelos alunos da Engenharia da Automação Jardel Dyonisio, Pedro Corçaque, João Francisco Lemos e o engenheiro de computação Igor Maurell. Para eles, essa é uma oportunidade para tentar se firmar na disputa em alto nível, principalmente para buscar novas experiências e evoluções que qualifiquem o desempenho de Doris.
“Nossa expectativa não se relaciona com a posição que vamos alcançar, mas sim com o quanto a gente vai conseguir absorver do evento e aplicar no nosso trabalho. O nível mundial é muito mais elevado que o brasileiro, a gente tem essa concepção, então nosso objetivo é ter essa troca de experiência com outras equipes para aumentar o nosso nível cada vez mais”, contou Dyonisio.
No cenário nacional, a FBOT vem conseguindo resultados expressivos desde o início do programa em 2018. Foram três anos consecutivos na 3ª posição do Campeonato Brasileiro e, na última edição, em 2021, a equipe foi vice-campeã. Após a participação na RoboCup 2022, a intenção é aprimorar o desempenho para buscar o título nacional.
Ambiente de inovação
O fato de a equipe ser a primeira de fora do estado de São Paulo a conseguir se classificar para o torneio mundial nesta categoria anima não apenas os integrantes do time de robótica FBOT da Furg, mas também todo o setor ligado à indústria da inovação na cidade, que recentemente viu aprovada a Lei da Inovação, que estabelece uma série de medidas de apoio ao desenvolvimento de indústrias de tecnologia e inovação na cidade.
Para o secretário municipal de Desenvolvimento, Inovação e Turismo, Gilberto Sequeira somente o fato de a cidade estar representada em uma competição deste nível já é um grande feito para chamar atenção ao ambiente de inovação que começa a ser construído na cidade e que deve ser incrementado nos próximos meses, especialmente a partir da aprovação da lei que regulamenta o 5G no município e deve colocar Rio Grande na dianteira para receber a nova tecnologia.
O prefeito Fábio Branco (MDB), por sua vez, ressalta o trabalho conjunto com instituições como a Furg e o IFSul para transformar Rio Grande em um polo da indústria tecnológica. “Temos trabalhado para sermos os melhores. Queremos que Rio Grande seja referência na inovação assim como é a respeito da Lei de Liberdade Econômica, para que a gente consiga acelerar esses processos. E essas parcerias que a gente tem tido, com gente sempre disposta a colaborar, tem facilitado o meu trabalho. É o coletivo que faz com que as coisas aconteçam”, diz.