
A prática do carrovelismo, ou windcar, é originária da França de 1898. Contudo, muito embora os cenários fossem outros, de condutor a condutor, a paixão pelo vento que sopra se mostra imutável. E mesmo que o nome não seja associado diretamente, a maior parte dos veranistas da região provavelmente já presenciou o funcionamento das vagonetas nos Molhes da Barra, na praia do Cassino. O transporte é um exemplo do que são os carros a vela, utilizados no esporte. Em histórico diverso, a prática já foi realizada nas partes mais remotas do mundo, incluindo nas áreas de gelo, momentos em que esquis existem em oposição às rodas.
Paulo Albernaz, natural de Rio Grande, não apenas é um apaixonado pelo esporte, colaborando com sua difusão no Brasil e no Rio Grande do Sul, mas também é responsável pela construção dos carros a vela usados no carrovelismo. Como todas as paixões, na vida do gaúcho essa também teve início com um sonho, que passou a existir para Albernaz na década de 1980, quando, na companhia de um amigo, o rio-grandino alega ter ficado fascinado por um grupo de carros a vela de grande porte que cruzou o Cassino em direção ao Sul.
Atualmente, Albernaz, que também é formado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande (Furg), é capaz de nomear o grupo de carros a vela que testemunhou em sua juventude. “Roots, maioria classe Manta”, ressaltou. A afirmação, claro, é fruto de anos de experiência contabilizados como lufadas de vento.
O sonho ficou germinando até meados de 2009, quando o mesmo amigo propôs a ele o desafio de que construísse o próprio carro a vela. Na época, Albernaz relembra que ambos tinham uma serralheria montada e foi necessária pesquisa em sites, livros e vídeos da França, o berço do windcar.
“Encontrei o Cláudio Pomar e o Pedrão velejando na praia do Cassino com carros a vela mais comportados e pequenos. Um ano após, estava com um protótipo dentro da categoria 5,6”, contou.
Conforme Albernaz, as categorias dos carros de vela são separadas e normalizadas pela World Landsailing Organisation (FISLY), em português Federação Mundial de Carrovelismo, que categoriza o Chassi 5,6 como pequeno, considerando a facilidade de seu carregamento em um carro de passeio.
No Brasil, o esporte vem sendo praticado desde os anos de 1960 e permite que os aventureiros de plantão tenham a experiência de sentir a vida sem marchas ou aceleradores, alcançando até 100 km/h.
“Em 2013, vi um anúncio que haveria o raid de Pinhal ao Chuí. Meu primeiro raid. Para a minha surpresa, encontrei alguns velejadores que me inspiraram na década de 80, terceira idade com alma de adolescente e, até hoje, eles velejam, alguns argentinos, casal chileno…”, contou o aventureiro. Albernaz explica que o raid é um passeio de confraternização, sem competição, realizado pelos esportistas.
Entre aço inoxidável e ferro zincado, o rio-grandino já construiu mais de 34 carros a vela que foram distribuídos para locais como o litoral norte do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Ilha Comprida, em São Paulo – onde, atualmente, está sendo estruturada uma associação de carrovelismo -, além de Alagoas, Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará e demais regiões de solo brasileiro. Albernaz, que já foi bombeiro militar, industriário e, atualmente, está aposentado, também já prestou orientação on-line para que os interessados no esporte pudessem construir seu próprio chassi.
“Sou um rio-grandino apaixonado pelo nosso Litoral e pelo potencial que tem, sonho em viver um dia um evento mundial no Cassino”, concluiu.