Região Sul tem maior incidência de câncer de pulmão

Tabagistas ativos ou que tenham deixado de fumar nos últimos 15 anos devem fazer a tomografia computadorizada do tórax. (Foto: Divulgação/Pixabay)

O câncer de pulmão deve registrar no país 14 mil novos casos em mulheres e 18 mil em homens, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), e há uma relação direta com o tabagismo. Conforme estimativa da Fundação do Câncer, se mantido o atual padrão de consumo de tabaco, a neoplasia no Brasil deve crescer 65% e a mortalidade 74% até 2040. O levantamento mostra que a Região Sul, onde o hábito de fumar é mais intenso, é a que apresenta a maior incidência, tanto em homens, aproximadamente 24 novos registros a cada 100 mil habitantes, quanto em mulheres, com cerca de 15 casos para cada 100 mil. A média nacional é de 12 e nove ocorrências por 100 mil habitantes, respectivamente para os sexos.

Outro dado preocupante foi apontado pela pesquisa do Instituto de Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), revelando que a incidência de cigarro eletrônico mantém a tendência de crescimento no país, além de aumentar a sua experimentação entre os fumantes. Realizado no segundo semestre de 2023, o trabalho constatou que já são cerca de 2,9 milhões de usuários de vapes.

Por causa deste cenário desafiador, Agosto Branco é dedicado à conscientização e prevenção do câncer de pulmão. O oncologista clínico e responsável técnico do Instituto Kaplan/Oncoclínicas Uruguaiana, Tiago Giordani Camícia, afirma que diferentemente da mamografia, que auxilia no diagnóstico precoce do câncer de mama, reduzindo a mortalidade, para o pulmão não havia método de rastreio adequado. No entanto, isso tem mudado com novas evidências científicas e estudos que demonstraram que a tomografia computadorizada do tórax, com baixa dosagem de radiação, é capaz de identificar precocemente nódulos suspeitos e, com o diagnóstico em estágios iniciais, contribuir para diminuição da mortalidade do câncer de pulmão.

O especialista frisa que, pelas novas recomendações, é importante indicar esse exame aos pacientes tabagistas ativos, ou que tenham deixado de fumar nos últimos 15 anos, com idade entre 50 e 80 anos e com um consumo de no mínimo 20 maços/ano. O cálculo é feito levando em conta o número de maços/dia multiplicado pelos anos de tabagismo – ou seja, um paciente que fuma uma carteira/dia por 20 anos e assim em diante. Para esses indivíduos, o conselho é a realização anual da tomografia de tórax que permite a descoberta em fases mais iniciais. “Nesses estágios, é possível atingir taxas de sobrevida de 80%. Infelizmente, no Brasil, o diagnóstico do câncer de pulmão é mais comum em estágios mais avançados, quando a doença tem uma taxa de sobrevida de apenas 15-20% em cinco anos”, complementa.

Tiago Camícia destaca que a oncologia evoluiu muito com novas medicações para o tratamento deste tipo de neoplasia. A imunoterapia, com medicamentos que estimulam o sistema imune a combater o câncer, é a mais voltada para pacientes em estágios avançados, e pode ser utilizada isoladamente ou em combinação com a quimioterapia. “O tratamento oncológico é algo extremamente individualizado. Portanto, nem todo paciente vai ter indicação de receber imunoterapia”, observa. “Mas essa terapêutica já garantiu melhores taxas de resposta do que a quimioterapia isoladamente, aumentando o tempo e a qualidade de vida, como menos efeitos colaterais indesejáveis”, complementa.

Parar de fumar é possível

Além do câncer de pulmão, o consumo de cigarro está intimamente relacionado a diversos outros tipos de neoplasias, como de boca, esôfago, pâncreas, rim, bexiga, assim como doenças cardiovasculares como infarto e AVC, e pulmonares como o enfisema. É, também, uma das principais causas de impotência sexual e está relacionado à infertilidade, osteoporose e catarata.

O oncologista relata que, em sua vivência tratando indivíduos com câncer, é comum ouvir familiares e pacientes expressarem arrependimento por não terem parado de fumar mais cedo, assim como as famílias que lamentam não ter insistido ou oferecido apoio para que eles deixassem o vício. “Sempre respondo que minha função é trabalhar com o futuro, com o que se apresenta. Mas é importante tentar convencer o fumante a parar de fumar”, destaca. Mesmo não sendo uma tarefa simples, está longe de ser impossível. O especialista lembra que há diversas estratégias para quem quer cessar o tabagismo. “Desejar não ser uma dessas estatísticas já é um bom motivo”, acrescenta. “Procure seu médico, ou a Unidade de Saúde mais próxima da sua casa e informe que pretende parar de fumar. Há políticas públicas voltadas a essa finalidade ”, finaliza.

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