*Com informações da Agência Brasil
O mal que chegou ainda em 2019 e irrompeu 2020 mudando a rotina das pessoas ao redor do mundo pode estar com os dias contados. Em meio à contagem exponencial de mortos e infectados diariamente, cientistas trabalham incansavelmente em busca da cura. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) informam que existem 166 vacinas em desenvolvimento, dessas, 24 estão em fase de testes e cinco já na fase 3, uma das mais avançadas, duas delas no Brasil.
O tempo médio em geral para a produção de uma vacina é de dez anos, afirma a médica infectologista do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel), Danise Senna Oliveira.
A profissional, que também é professora adjunta de Infectologia na universidade, explica que isto se tornou possível, além do grande esforço mundial em que os pesquisadores criaram redes de troca de informações nunca antes vista na ciência, são as fases 1, 2 e 3 serem realizadas quase que simultaneamente. “Isso não significa que estarão completas, mas é um ganho importante de tempo”, ressalta.
Segundo ela, nessa pandemia a tentativa é de se encurtar o tempo ao máximo e hoje a OMS diz ser realista uma vacina no primeiro semestre de 2021. Na sua avaliação, os dois estudos realizados no Brasil são promissores, tanto a vacina da Universidade de Oxford, baseada no vetor adenovírus, quanto à vacina inativada chinesa, testada pelo Instituto Butantan, têm boas chances de sucesso.
Questionada quanto à segurança de uma vacina desenvolvida em um período tão inferior ao habitual, ela afirma que este é um aspecto levado a sério pelos cientistas. “A segurança é um aspecto importante de todas as vacinas, visto ser um agente aplicado em pessoas saudáveis”, explica. Segundo Danise, a segurança é uma preocupação de todas as fases dos estudos e até agora têm se mostrado desse modo.
Em relação ao potencial para a produção dessas vacinas, a médica ressalta que o Brasil tem dois grandes produtores de vacinas, Bio-Manguinhos, no Rio de Janeiro e Butantan, em São Paulo. “O Butantan produz a Influenza, por exemplo, e temos capacidade para ampliar nossa participação na produção de vacinas”, afirma.
Hoje, atuando no controle da infecção hospitalar e no comitê de crise do HE- UFPel, a médica participou diretamente no atendimento de pacientes com Covid-19, no mês de maio. “Os pacientes que internam são graves, complexos e requerem uma grande atenção de toda equipe de saúde. Trabalhar paramentada, de face shield, máscara, luvas, roupa especial, calçado especial, avental, também tem sido um desafio para todos e uma lembrança visual simbólica que estamos encarando”, finaliza.
Além do esforço imensurável dos cientistas, o vírus levou os governantes a valorizar e priorizar o seu bem maior, a saúde de sua população, com a destinação de recursos nunca vistos à área da saúde. Recentemente, o governo brasileiro aportou 127 milhões de dólares no desenvolvimento da vacina contra o coronavírus elaborada pela Universidade de Oxford, devendo ter sua eficácia comprovada em setembro ou outubro deste ano. A farmacêutica britânica AstraZeneca irá produzir dois bilhões de vacinas, nos próximos meses, sendo que o Brasil está incluído nesse primeiro lote de imunização.
Entre as vacinas consideradas promissoras está ainda a do Instituto de Produtos Biológicos de Pequim, na China, em parceria com a National Biotec Group, uma corporação estatal chinesa do ramo de vacinas. Em relatório recente, a companhia afirmou que foi concluída a fase dois (de três) dos testes para confecção do antídoto, que pode estar pronto para distribuição ainda no final de 2020 ou início de 2021.
Já os cientistas da Universidade de Nova York, em parceria com a farmacêutica americana Pfizer e a empresa de biotecnologia alemã BioNTech, afirmam que sua vacina pode sair até setembro de 2020, se tudo ocorrer como esperado. O desenvolvimento do imunizante também já está na fase de testes clínicos em humanos.
A empresa americana Moderna já obteve resultados preliminares positivos em seus testes clínicos. Oito dos voluntários da pesquisa receberam a vacina e criaram anticorpos contra a Covid-19 de maneira segura. A companhia acredita que a distribuição de seu imunizante pode ocorrer também no final de 2020 ou início de 2021.
Há, ainda, outras empresas que prometem o imunizante para meados de 2021, como a Johnson & Johnson e a Sanofi, que trabalha em parceria com a GSK.
No Brasil, há dois projetos que buscam a criação de uma vacina eficaz contra o novo coronavírus. Um deles é liderado pela Fiocruz de Minas Gerais, em parceria com outras instituições, como a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Instituto Butantan, a Universidade de São Paulo (USP) e a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.
A equipe do Instituto do Coração de São Paulo (Incor), liderada pelo médico imunologista Jorge Kalil, também trabalha em imunizante e os dois grupos trocam informações para avançarem juntos na pesquisa.
Em visita ao estado, esta semana, o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, afirmou que o Brasil pode dar início à fabricação da vacina contra a Covid-19 até janeiro de 2021. Conforme ele, o Ministério da Saúde discute a transferência de recursos para a produção da vacina. A previsão é de que em dezembro ou janeiro a vacina já esteja sendo fabricada.