Proteção de nascente garante água de qualidade às famílias rurais do RS

Em Amaral Ferrador, a construção de fontes protegidas começou em 2012. Atualmente, existem cerca de cinco fontes no município. (Foto: Moisés Esse)

Principal insumo para a atividade agropecuária, a água é um dos elementos essenciais à vida e sua preservação é o mote do Dia Mundial da Água, comemorado anualmente no dia 22 de março. Com isso, ações para a sua proteção e uso racional precisam e devem ser destacadas. É o caso do projeto de proteção de nascentes/fontes, desenvolvido pela Emater/RS-Ascar ao longo de toda a sua história. De acordo com o coordenador estadual da área de Geoprocessamento, Saneamento Básico e Gestão Ambiental da empresa, o geógrafo Gabriel Katz, que também coordena esta ação, o trabalho está focado em proporcionar uma solução ao abastecimento de água a famílias que não têm sistema público de abastecimento nas propriedades.

As nascentes se constituem em uma alternativa para usos múltiplos de uma fonte de água potável e que, muitas vezes, é feita de forma rudimentar. “Eles captam a água, que é colocada num buraco, mal vedado, com uma mangueirinha, que puxa a água e é utilizada para todas as atividades da família, desde dessedentação humana, animal e até irrigação de pequenas hortas com uma qualidade extremamente duvidosa, por se tratar de uma água captada em um ambiente suscetível ao contato de diversos tipos de contaminantes”, observa.

E é aí que entra o trabalho da Emater, que realiza esta ação nos 497 municípios do Estado. “É feita visita nas propriedades, identificação dos locais de captação da água, das nascentes, e toda uma orientação para fazer uma limpeza no local, retirada de galhos, folhas, dejetos e possíveis contaminantes”, diz. Katz explica que neste local é feita a construção de uma pequena estrutura de alvenaria, com intervenção mínima, na qual a estrutura é totalmente vedada por cima com a colocação de lonas. Também são colocados três canos em que o mais abaixo fica sempre fechado e se constitui em dreno de limpeza, que precisa ser feita periodicamente, a cada seis meses, em média.

O cano do meio é o dreno de captação de água, onde é colocado um redutor e uma mangueira, que destina a água para o reservatório da família, de preferência por gravidade. “Se necessário, é colocada uma bombinha para recalcar água para a propriedade e domicílio”, detalha o geógrafo. Por sua vez, o cano de cima é chamado de ladrão, sendo muito importante, segundo ele, pois não se quer e nem pode utilizar toda a água da nascente. “É para utilizar parte da água da nascente para o uso da família, e no ladrão sai o excedente, que dá continuidade ao curso d’água ao qual a nascente dá início”, complementa.

Katz explica que são orientadas no Estado inteiro a proteção de mil nascentes por ano. “Imagina isso ao longo de toda a história da Emater – 48 anos como Emater e 22 como Ascar, 70 juntas – já é um número muito significativo de famílias que foram beneficiadas com essa ação”, ressalta. “Esta é uma alternativa de captação de água em superfície, de afloramento de águas subterrâneas, das nascentes ou olhos d’água”, aponta.

A Emater é a responsável por elaborar o roteiro técnico público para o trabalho depois de participar de várias reuniões do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) e contribuir na aprovação das resoluções nº 361 e n° 362, de 2017, que dão legalidade a essa ação, além de citar a empresa como a entidade com a competência de fazer esta proteção. “Se um agricultor quer fazer este tipo de trabalho, ele deve buscar o escritório da Emater do município, que está presente em todos os 497 municípios do Estado”, salienta. Também há a justificativa de interesse social, pois diz respeito ao abastecimento de água para as famílias rurais que não têm este sistema público de abastecimento. “A partir de critérios técnicos, ela está completamente legalizada em nível de meio ambiente, embora a gente saiba que não se pode intervir em nascente, que elas constituem as áreas de preservação permanente, as chamadas APPs, nas quais não se pode intervir”, salienta.

No que diz respeito a recursos, a Emater tem uma série de ações que fazem parte de um contrato com o Estado de elaboração de assistência técnica, de extensão rural, mas muitas vezes esta é a maior dificuldade. “Muitas vezes ou é necessário o agricultor empreender do próprio bolso e a Emater entra com a orientação ou, ainda, a articulação de parcerias, projetos ou programas com as prefeituras ou com o próprio Estado”, explica. Segundo Katz, atualmente a Emater desenvolve projetos em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente (Sema) nas bacias do rio Gravataí e com o Sicredi e algumas regionais da cooperativa nas áreas da Serra.

Experiências nos municípios
Em Amaral Ferrador, a construção de fontes protegidas começou em 2012, conta o extensionista da Emater do município, Moisés Esse. A primeira comunidade atendida foi a da localidade do Capoeirão, com a captação de água para três famílias e que está em funcionamento até hoje. “Nós temos ainda, na localidade dos Foles, uma fonte que abastece 10 famílias, em torno de 20 pessoas, e outra na comunidade Santo Antônio para mais três famílias”, ressalta.Segundo Esse, existem em torno de cinco fontes atualmente no município e a maior delas é a da localidade dos Foles, que atinge maior número de pessoas.

“A proteção de nascentes tem como objetivo, além de proteger a nascente, oferecer água pura para consumo, pois a construção evita o acesso de animais e, também, a matéria orgânica do solo, e que esterco de animais cheguem até ela”, explica. O extensionista aponta que a água chega até as casas por sistema de canos e chega pura para o consumo das famílias.

O primeiro passo é a identificação do local para a construção do sistema de proteção. “Depois de limpo o local, se constrói uma parede e se coloca uma malha bidin (manta de drenagem) que ajuda a filtrar e purificar a água e, depois, intercala pedras mais grossas e finas e na parede vão os três canos”, reitera.

Além da malha bidin, os materiais necessários são areia, tijolos e pedras ferro ou de beira de rio. “Eu calculo que o custo médio de uma fonte está em torno de R$ 500”, garante.

Conforme o extensionista, já nas primeiras semanas, o produtor vê os benefícios, a partir de um consumo de água pura e de um local conhecido. “Nós orientamos o produtor a cercar o local para os animais não caminharem em cima”, ressalta. Ele afirma que as comunidades ajudam na execução da obra e nas que já foram feitas, houve a colaboração da Prefeitura no transporte dos materiais (pedra e tijolos) até os locais. “Os próprios produtores ajudam na construção da fonte e a Emater orienta”, finaliza.

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