
É comum ouvir por aí que “você é o que você come”. Parece uma frase de efeito perfeita, não é? Afinal, quem não gostaria de acreditar que, ao comer uma salada de quinoa com chia, vai se transformar instantaneamente em uma versão super fit de si mesmo? Mas antes de sair por aí comendo brócolis e se achando o próprio Hulk Verde, vamos colocar um pouco de pimenta nessa discussão de hoje.
Primeiro, vamos desmistificar essa ideia de que sua alimentação determina inteiramente quem você é. Claro, não estou dizendo que comer bem não é importante. Mas vamos lá, pensem comigo: se eu comer um bolo de chocolate inteiro, vou me transformar em um pedaço de bolo? Ou se eu comer apenas comida de passarinho, vou sair voando por aí? Claro que não! Essa lógica não faz o menor sentido.
Vamos falar sério agora. A frase “você é o que você come” simplifica demais a complexidade do corpo humano. Nossa saúde e peso corporal são influenciados por uma série de fatores: genética, nível de atividade física, qualidade do sono, estresse, ambiente e, sim, o que comemos. Mas reduzir tudo a apenas um fator é como dizer que a vida é um eterno domingo de sol – bonito, mas não verdadeiro.
Para aqueles que estão lutando para perder peso, essa frase pode ser especialmente cruel. Não é só sobre o que você põe no prato. Há pessoas que comem muito pouco e ainda assim têm dificuldade para emagrecer. A genética desempenha um papel importante no metabolismo e na forma como nosso corpo armazena gordura. Além disso, fatores emocionais e psicológicos, como ansiedade e depressão, também podem afetar nosso peso. Então, não, não somos apenas o que comemos.
E tem mais: a qualidade da alimentação não é medida apenas pela quantidade de calorias ou macronutrientes. A origem dos alimentos, os processos de produção e a forma de preparo também influenciam nossa saúde. Você pode estar comendo um frango grelhado aparentemente saudável, mas se ele for preparado em um banho de óleo ou se ainda, estiver cheio de hormônios e antibióticos, será que está realmente cuidando bem do seu corpo?
Vamos pensar nas nossas avós, que cozinham aquele feijão com linguiça de dar água na boca. Elas viveram anos e anos comendo essa comida caseira, cheia de sabor e, cheia de gordura saturada também. E muitas delas estão aí, firmes e fortes. Será que a fórmula mágica da saúde e da longevidade está apenas no que comemos? Ou será que tem algo a ver com a atenção que colocamos em nossas refeições, com as relações que construímos à mesa e com a nossa rotina?
Além disso, vamos falar de sarcopenia e malnutrição, especialmente em idosos. Essas condições não são causadas apenas pela alimentação inadequada. A perda de massa muscular e a desnutrição podem ser influenciadas por fatores como a capacidade de digestão e absorção dos nutrientes, doenças crônicas e até mesmo a capacidade de mastigar. Simplificar esses problemas complexos a um “você é o que você come” é, no mínimo, ingenuidade.
No final das contas, ser saudável é um equilíbrio delicado e complexo de muitos fatores. Então, da próxima vez que ouvir alguém dizendo que “você é o que você come”, lembre-se: você é muito mais do que isso. Você é o que você vive, sente, pensa e faz. E isso é muito mais interessante e desafiador do que qualquer dieta da moda. Então, sim, coma bem, mas não se esqueça de viver bem também. Afinal, a vida é feita de equilíbrio e prazer, e não apenas de folhas verdes.