Velhinhos analógicos, jovenzinhos digitais

Manoel Jesus, educador. (Foto: Divulgação)

Em tempos cibernéticos, a minha geração (com mais de 60 anos) pode se considerar analógica. Os que vieram depois poderiam ser cha­mados de “híbridos”, pois ainda lembram dos tempos antigos, mas já navegam bem nos tempos atuais. E os mais jovens, plenamente digitais. O certo é que vivemos, nesta virada de século, uma das grandes mudanças da história, sendo privilegiados em fazer exatamente esta transição, por aquilo que nos permitem conhecer na informática, inteligência artificial e realidade virtual.

Sim, “permitem conhecer”, pois se sabe que os resultados de muitos trabalhos apenas vêm a público quando outras pesquisas engatinham na área. Somos surpreendidos por novas possibilidades de uso da informá­tica, por exemplo, como extensão do cérebro humano: ferramenta que deveria melhorar a vida do próprio homem e não lhe causar sobressaltos. Especialmente com a possibilidade de que muitas atividades profissio­nais sejam extintas sem que haja uma atitude dos governantes por polí­ticas de plena ocupação.

Recentemente, se discutem as implicações técnicas e éticas do uso da inteligência artificial. Iniciou com os primeiros computadores: a ne­cessidade de que o processo de educação seja priorizado sobre qualquer recurso técnico. Isto é: para se ensinar a técnica é necessário, antes, que o aluno ou o profissional tenha um lastro de conhecimento humano e social capaz de não “encantá-lo” com o “brinquedo” que se apresenta, mas sabendo que há uma finalidade em qualificar pessoal e socialmente a sua produtividade.

Qualquer ferramenta criada não é, em si, boa ou má. Seu uso, pelo pró­prio homem, pode causar o bem ou o mal. Infelizmente, governantes de pra­ticamente todos os países investem em usar a informática e seus correlatos para espionagem e a indústria da guerra. Tristemente, as vozes que ainda hoje se levantam denunciando as distorções sequer são ouvidas. Existe uma autêntica lavagem cerebral, buscando convencer que conversar e negociar é inútil e o melhor é impor àqueles que discordam do “meu” ponto de vista.

Não sou saudosista e me sinto privilegiado em viver esta transição. Mesmo quando alguma coisa não dá certo, é preciso reconhecer que os recursos alcançaram para boa parcela da população uma maior qua­lidade de vida. No entanto, é a velha cantilena: a educação precisa se apropriar não da técnica em si, mas do seu conhecimento, do porquê de seu uso e a destinação social apropriada. Isto é o que se chama de “senso crítico”. Nós, os velhinhos analógicos, gostaríamos de entregar aos jovenzinhos digitais não apenas mais recursos técnicos, mas que estivessem revestidos do melhor que a humanidade pode dar de si.

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