Em tempos cibernéticos, a minha geração (com mais de 60 anos) pode se considerar analógica. Os que vieram depois poderiam ser chamados de “híbridos”, pois ainda lembram dos tempos antigos, mas já navegam bem nos tempos atuais. E os mais jovens, plenamente digitais. O certo é que vivemos, nesta virada de século, uma das grandes mudanças da história, sendo privilegiados em fazer exatamente esta transição, por aquilo que nos permitem conhecer na informática, inteligência artificial e realidade virtual.
Sim, “permitem conhecer”, pois se sabe que os resultados de muitos trabalhos apenas vêm a público quando outras pesquisas engatinham na área. Somos surpreendidos por novas possibilidades de uso da informática, por exemplo, como extensão do cérebro humano: ferramenta que deveria melhorar a vida do próprio homem e não lhe causar sobressaltos. Especialmente com a possibilidade de que muitas atividades profissionais sejam extintas sem que haja uma atitude dos governantes por políticas de plena ocupação.
Recentemente, se discutem as implicações técnicas e éticas do uso da inteligência artificial. Iniciou com os primeiros computadores: a necessidade de que o processo de educação seja priorizado sobre qualquer recurso técnico. Isto é: para se ensinar a técnica é necessário, antes, que o aluno ou o profissional tenha um lastro de conhecimento humano e social capaz de não “encantá-lo” com o “brinquedo” que se apresenta, mas sabendo que há uma finalidade em qualificar pessoal e socialmente a sua produtividade.
Qualquer ferramenta criada não é, em si, boa ou má. Seu uso, pelo próprio homem, pode causar o bem ou o mal. Infelizmente, governantes de praticamente todos os países investem em usar a informática e seus correlatos para espionagem e a indústria da guerra. Tristemente, as vozes que ainda hoje se levantam denunciando as distorções sequer são ouvidas. Existe uma autêntica lavagem cerebral, buscando convencer que conversar e negociar é inútil e o melhor é impor àqueles que discordam do “meu” ponto de vista.
Não sou saudosista e me sinto privilegiado em viver esta transição. Mesmo quando alguma coisa não dá certo, é preciso reconhecer que os recursos alcançaram para boa parcela da população uma maior qualidade de vida. No entanto, é a velha cantilena: a educação precisa se apropriar não da técnica em si, mas do seu conhecimento, do porquê de seu uso e a destinação social apropriada. Isto é o que se chama de “senso crítico”. Nós, os velhinhos analógicos, gostaríamos de entregar aos jovenzinhos digitais não apenas mais recursos técnicos, mas que estivessem revestidos do melhor que a humanidade pode dar de si.