Vivemos um momento ímpar da história recente, uma dicotomia na qual as incertezas acabam se tornando certezas.
Temos visto a ampliação de vários fenômenos comportamentais, demonstrando a ampliação do radicalismo. Esse radicalismo está associado à diminuição da paciência que é motivada pelo aumento do individualismo. Trata-se de um individualismo cada vez mais exacerbado, que está crescentemente caminhando para um processo de “individuação”. Na prática, significa que cada um se sente único, cada um olha para o seu umbigo, naturalizando o sentimento de egoísmo.
Ufa! Descrever esse contexto em poucas linhas parece assustador. Sabemos que as pessoas estão perdendo o sentimento de comunidade, e o capital social (que é a confiança que facilita a coordenação e cooperação para benefícios mútuos) está cada vez mais baixo. E não podemos esquecer que todo esse cenário tem origem na cultura política da descrença, mas, na prática, não gostamos de pensar no efeito rebote, nas consequências ou nas sequelas sociais.
E ainda tem todo o contexto da transformação digital, que fomenta o empoderamento individual, tornando cada indivíduo senhor da sua timeline, dando a sensação de que cada um pode fazer e falar o que bem quiser na internet. E é nas redes sociais que as bolhas digitais alimentam o radicalismo e mostram a impaciência e a falta de respeito, com o protagonismo de haters que disseminam o ódio na internet.
As pesquisas quantitativas e qualitativas do IPO – Instituto Pesquisas de Opinião realizadas com a população gaúcha e com lideranças do setor produtivo têm confirmado que uma conjunção de fatores está nutrindo a intolerância, para além da esfera política.
Na visão de uma parcela da sociedade, não se trata de uma intolerância. Trata-se de um novo comportamento social, de uma nova forma de ver o mundo, que está associada ao empoderamento, onde cada um é dono de si ou dono da sua rede social, do seu celular. Os mais jovens já estão se adequando a esse novo modelo, entrando na vida social com esse “chip” da individuação.
Vamos a um exemplo para tornar essa reflexão mais objetiva: atualmente temos acesso a tanta informação, que temos dificuldade em selecionar e reter informações.
A pessoa que se sente “um indivíduo empoderado”, escolhe a fonte de informação que acredita, que representa as suas ideias, o seu pensamento. Na prática, cada um quer ouvir ou ver aquilo que lhe agrada e compartilha essas informações, mesmo que sejam Fake News.
Imagine um teste onde se pergunte sobre a relação desse indivíduo com as Fake News. As pessoas em processo de individuação respondem que compartilham aquilo que acreditam, aquilo que representa sua visão de mundo. Para uma parcela da sociedade, Fake News se tornou um conceito político para alguém desmerecer ou desqualificar uma informação.
Temos que observar com atenção as novas tendências sociais, com a sensibilidade para compreender, decupar e separar a evolução da tecnologia da involução social.