Jan Huss, pensador e reformador religioso tcheco, foi um precursor da Reforma Protestante. Mesmo católico romano, pregava a primazia da Bíblia em detrimento da autoridade do magistério da Igreja e, por essa entre outras razões, acabou sendo excomungado pela Igreja em 1412 e levado à fogueira em 1415.
Mas existe um fato muito curioso que sempre me chamou a atenção: enquanto Huss estava amarrado em meio à vegetação seca, aguardando que a fogueira fosse acesa, uma senhora cristã bastante idosa e com dificuldade acentuada para caminhar, dirigiu-se com muita dificuldade a ele, colocando um pequeno graveto junto ao monturo, com a intenção de dar sua contribuição à causa. Com essa atitude da senhora, Jan Huss exclamou: “santa ignorância”, e teria começado a cantar um cântico de Davi até sua morte.
A ironia do pensador leva-nos a pensar no fundamentalismo existente entre muitos cristãos e movimentos religiosos, assim como políticos e sociais, existente mundo afora. Em nome das certezas absolutas, foram cometidos alguns dos crimes mais sangrentos da nossa história: elas são o fundamento de todo fanatismo.
As certezas absolutas permanecem. As neurociências nos mostram uma grande incompatibilidade evolutiva entre o cérebro humano e as tecnologias. Ainda somos vítimas das fake news, ainda não estamos acostumados à luz noturna dentro de nossas casas (um grande número de pessoas hoje necessita de um fármaco para poder dormir), e, até os dias de hoje, as pessoas se reúnem em clãs, voltando-se umas contra as outras, como se estivéssemos em guerra permanente, na eterna figura de pensamento expressada pelas personagens bíblicas Caim e Abel, que hoje estão espalhados pelo mundo.
Ainda somos bastante preconceituosos, pois criamos estereótipos sobre os outros de acordo com nossa própria visão de mundo. Um estudo publicado por um grupo de neurocientistas da New York University na revista Nature em outubro de 2014 demonstra uma alteração bastante acentuada em uma região cerebral denominada “Córtex pré frontal”, que é a área da racionalização e empatia, mostrando um fluxo menor de neurotransmissores na região, provocado por outra área, que é a área das emoções, que nos provoca temor ao ver um grupo diferente de pessoas e de pontos de vista, já que fomos acostumados desde a infância a modular essas áreas pelo social.
São as crenças limitantes, das quais tanto ouvimos falar, que nos limitam a conviver em sociedade com grupos e pessoas diferentes. Porém, crenças limitantes podem ser substituídas por novas crenças através do manejo profissional adequado. A Hipnose Clínica pode ajudar substancialmente esse processo e nos tornar mais empáticos, através de exercícios e mentalizações específicas que atuam nessas regiões e aumentando nossa empatia.
A espiritualidade pode ser vivida de modo pleno e fraterno em todos os campos sociais. Isso nos deixa mais felizes e gratos ao processo da vida, porque quem é grato é mais feliz e vive em paz.
*Otávio Avendano é especialista em Hipnose Clínica e pós-graduado em Neurociências e Comportamento
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