Os candidatos da segurança pública na eleição de 2024

Elis Radmann, cientista social e socióloga.

Uma das perguntas que têm sido recorrentes, principalmente nas grandes cidades, é sobre o peso que o tema segurança pública possui na decisão do eleitor.

Tenho respondido que, quanto maior a sensação de (in)segurança da população, maior será a importância da pauta da segurança nas eleições da cidade. As pesquisas de vitimização realizadas pelo Instituto Pesquisas de Opinião (IPO) indicam que a vulnerabilidade social e a fragilidade das estruturas familiares também ampliam essa sensação de (in)segurança. Então, cidades urbanizadas, com alto índice de crimi­nalidade, maior vulnerabilidade e famílias desestruturadas tendem a se preocupar mais com a segurança pública, seja para coibir e controlar a violência ou para ampliar a sensação de segurança das famílias.

De uma forma geral, conforme varia a agenda da eleição, há o desejo por um tipo ideal de prefeito, definindo as habilidades e competências que farão parte da disputa. Em uma cidade com problemas graves na área da saúde, o sonho é por um prefeito médico. Se a segurança é o principal tema, a aspiração é por um gestor da segurança, inflacionando a valorização dos cargos na frente do nome do candidato.

Agora, quando a cidade está com os serviços precarizados de forma geral, com problemas na saúde, segurança, educação e zela­doria, o eleitor irá aderir ao candidato “líder trabalho”, aquele que mostre que tem capacidade de gestão, independente do segmento de atuação. Também há as cidades com alto grau de corrupção, onde o “líder credibilidade” é o preferido, com uma campanha feita em cima da moralidade, falando de honestidade.

Tem-se observado que em muitas cidades pelo país afora, os parti­dos continuam a apostar em candidatos que representam a segurança pública, com crescimento de representantes da esquerda. Após a Ditadura Militar, criou-se uma premissa que estimulou uma cultura de que os profissionais de segurança não deveriam se envolver com política, quase como uma censura política. O ex-presidente Bolso­naro quebrou este estigma ao chamar os profissionais de segurança para o jogo eleitoral, trabalhando a tese da segurança associada à moralidade política. Esse movimento incentivou profissionais da segurança de diferentes espectros políticos a participarem como protagonistas, seguindo uma tese do marketing que diz que: “quando não se ganha, se empata”.

E como os eleitores se sentem mais inseguros em cidades onde há uma grande desigualdade social, altos índices de violência urbana e disputas entre traficantes de grupos rivais, é necessário que se tenha um candidato a prefeito ou vice que represente a área militar. Esse tipo de cenário exige um político que tenha o “penso” do aparato repressivo, que consiga enxergar como a máquina funciona e como elaborar estratégias de contenção. Nestas chapas, os profissionais da segurança trazem para a população a sensação de que “a cidade poderá estar em boas mãos”, que terá “um expert, que sabe o que está acontecendo”.

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