O mundo está ficando chato ou mais consciente?

Elis Radmann, cientista social e socióloga.

A maioria das pessoas cresceu ouvindo piadas em que o protagonista era um bêbado, uma mulher, um homossexual, um gordo ou um negro e parecia muito normal para quem contava e, mais ainda, para os que se divertiam rindo.

Também era normal o bullying dentro e fora da escola, claro que na época não conhecíamos a humilhação por este apelido. No passado recente, tanto o preconceito como a agressão verbal, a discriminação e o racismo eram tratados como uma exclusão natural realizada pelos grupos sociais dominantes e os nossos pais tentavam amenizar o sofrimento com frases resilientes: “não dê bola, meu filho”, “essa gente é assim”, “você é melhor que eles”. Muita gente cresceu acreditando que o mundo era assim!

Muita coisa aconteceu nos últimos anos. Ampliou-se a abertura das famílias na discussão de temas sensíveis e de suas dores, as universidades incluíram as pessoas de menor renda e iniciaram reflexões e críticas mais contundentes, as igrejas começaram a olhar para esses temas, o debate entrou para dentro das salas de aula, cresceram os projetos de pesquisa e produções científicas sobre esses assuntos e a tecnologia conectou as pessoas através das redes sociais, motivou as interações e escancarou o dilema. Colocamos o preconceito e a discriminação na vitrine.

Pronto, o “disco começou a virar”! Em vez de ficarmos ouvindo que o “mundo é assim”, estamos escutando que o “mundo está ficando chato”!

Nas pesquisas qualitativas, são comuns os relatos que retratam a atual conjuntura como opressora: “não se pode chamar uma mulher de gostosa no meio da rua”, “não pode dizer para um gordo que ele é rolha de poço” e “não se pode nem chamar Vini Júnior de macaco no meio de um jogo em que todo mundo fala bobagem”.

É difícil mudar comportamentos sociais enraizados, principalmente, os padrões e protocolos que fizeram parte de nossa educação e desenvolvimento emocional e cognitivo. Estamos aprendendo a fazer a construção de uma consciência coletiva que exige empatia e respeito para com o outro. Estamos desenvolvendo uma nova consciência sobre o mundo em que vivemos e ressignificando sentimentos e valores.

Em vez de dizermos que o mundo está ficando chato, temos que olhar para a nova realidade em que vivemos, compreender as práticas sociais que fazem coação ou constrangem as pessoas e olhar com atenção para estes comportamentos. Estamos tão acostumados com regras, condutas e determinadas práticas sociais que muitas vezes praticamos uma consciência imediata, reproduzindo preconceitos, zoando os outros ou fazendo discriminação como algo natural, comum às reações estressantes do dia a dia.

Estamos no início de um processo de amadurecimento social que tem como premissa o entendimento e a consolidação efetiva do respeito. É como se tivéssemos que ressignificar essa palavra, entender que o respeito é um valor humano que fundamenta nossa vida em sociedade, que é a consideração para com o outro.

Enquanto não entendermos que o respeito é o sentimento que impede uma pessoa de tratar a outra mal e que limita a malcriação, vamos achar que o mundo está ficando cada vez mais chato.

Agora, quando introjetarmos verdadeiramente que o respeito nos permite reconhecer e aceitar o que é diferente, vamos valorizar a essência do outro, o mundo irá ficar mais leve e poderemos dar risadas à toa e zoar com as adversidades da vida.

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