O eleitor mostra mais preocupação do que intenção

Elis Radmann, cientista social e socióloga.

Nesse final de 2021, quando alguém me questiona sobre as pesquisas eleitorais que sinalizam a tendência do eleitor para 2022 a resposta é imediata: essas pesquisas são especulativas e retratam mais a inquietação do eleitor do que sua intenção de voto.

Faço essa afirmação a partir da atenta e metodológica escuta do eleitorado gaúcho, realizada por sucessivas pesquisas quantitativas e por inúmeras pesquisas qualitativas, coordenadas pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião durante o ano de 2021.

O eleitor considera que o pleito de 2022 SERÁ TENSO e não faz essa afirmação em função da “briga” entre os políticos, mas pela “briga” política instaurada no seio da sociedade. Temos que ter em mente que a radicalização do debate político entrou para dentro das famílias, ocupando espaço de discussão acirrada no mundo virtual, dividindo as famílias nos grupos de WhatsApp e se tornando um motivo de afastamento, de exclusão presencial.

Muitos entrevistados consideram que o isolamento social da pandemia foi providencial, acabando com as reuniões de família que resultavam em discussão e brigas políticas em função de defesa veemente de teses ou de candidatos.

E quando faço essa descrição, não estou relatando exclusivamente os grupos ideológicos radicalizados. Ao contrário, esses grupos estão atuando em bolhas digitais e redes de relacionamento, procurando os seus pares para conversar e trocar ideias.

Quase metade dos gaúchos não tem ideologia, não se autoclassifica nos testes baseados em réguas ideológicas. Quando são questionados sobre o que significa ideologia, mostram total desconhecimento ou informações fragmentadas.

Entretanto, o senso comum já tem um carimbo, um conceito popular para classificar que a eleição de 2022 será marcada por uma radicalização ou polarização ideológica. Para o eleitor mediano, “ter ideologia significa ter uma posição, ser contra Lula ou contra Bolsonaro”. A rejeição de um nome cria o principal fenômeno desse momento: a intenção de voto baseada na negação. Um cenário onde o eleitor SABE O QUE NÃO QUER, mas não tem certeza do que quer.

A intenção de voto baseada na negação de um nome coloca o eleitor em uma cilada decisória: a escolha deixa de ser baseada no melhor perfil ou proposta e passa a ser definida pela capacidade de contenção, fazendo com que muitos eleitores voltem a usar a prática de escolha associada à prerrogativa do voto no “menos pior”.

Nas entrevistas muitos eleitores relatam o voto em Lula para evitar a vitória de Bolsonaro, mesmo tendo severas restrições ao comportamento ético de Lula. O contrário também acontece. Muitos se inclinam pró-Bolsonaro, para evitar a vitória de Lula, registrando que não acreditam na capacidade político-administrativa de Bolsonaro.

Do ponto de vista prático, quando o eleitor indica a sua intenção de voto em uma pesquisa eleitoral, está mostrando mais a sua incerteza do que a sua certeza. O “tempo da política” começa efetivamente quando as campanhas eleitorais iniciarem oficialmente e o embates e debates ganharem forma. Até lá, viveremos no mundo de “fotos especulativas”.

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