O dia de Finados, a morte e o luto

Manoel Jesus, educador.

O costume de fazer memória daqueles que já morreram é antigo. Possivelmente, para os cristãos, venha do século II, quando as pessoas visitavam e rezavam por quem havia sido vítima de martírio. Foi somente no século V que se convencionou ter um dia dedicado à oração pelos que eram próximos e, também, por quem já estivesse esquecido.

No século XIII, a data foi oficializada em 2 de novembro, dia seguinte ao de Todos os Santos. Não se pode esquecer que, ao longo da história, os corpos eram sepultados dentro das igrejas ou em cemitérios no mesmo terreno.

Era o desejo de manter próximas as pessoas que fizeram parte da história de cada um. O sentimento que se tem, hoje, quando multidões afluem aos “campos santos” para rezar, fazer a conservação dos túmulos, colocar flores, acender velas e participar de cerimônias religiosas. A crença de que se é uma comunidade peregrina (os vivos), sofredora (as almas em purificação no purgatório) e triunfante (aquela que já alcançou o Paraíso). Faz conjunto com o dia anterior, onde também se recordam os santos já esquecidos, se fazem orações e prestam sacrifícios pelos demais.

Mesmo entre os cristãos, há costumes diferentes, quando a morte não é vista de forma tão negativa. Caso do México, onde a religiosidade popular acredita que familiares voltam e mantêm altares nas casas para recepcioná-los. Bom dar uma olhada no filme “a vida é uma festa”. Ou, ainda, saindo do cristianismo, povos orientais que, em vez de flores, levam alimentos em oferenda para colocar sobre os túmulos. A convicção maior é de que, em ambos os casos, qualquer das ofertas, é mais uma necessidade do vivo de compensar a ausência do que do morto de ter alguma necessidade atendida.

Numa situação normal, o luto, que caracteriza as perdas humanas, é um processo emocional de se vivenciar o afastamento. Não se tem como medir a sua intensidade. É um processo totalmente individual, dependendo do tipo de relação que se teve, assim como da preparação para a perda. Da mesma forma que sua duração. O certo é que ficam as marcas, que se carregam por toda uma vida, no lado esquerdo do peito. E vão influenciar as relações futuras, havendo a necessidade de não perder o vínculo, sem deixar de ter bem presente que a vida continua.

Envolve tristeza, estresse, choque, ansiedade, culpa, raiva e medo. Não há receitas prontas, mas a necessidade de que se retome tempo para cuidar de si; não ignorar a dor, mas aceitá-la como um processo; conversar com quem se confia; passar mais tempo com amigos e familiares; não se isolar; ocupar a mente; exercitar-se (porque não?) e ressignificar a vida… Como já dizia o poetinha Mário Quintana: “Todos esses que aí estão, atravancando meu caminho, eles passarão… eu passarinho!” E que venham novos voos e que se permita transformar a saudade em doces lembranças!

Não tenho medo da morte. Como o papa Francisco manifestou, tenho medo de sofrer… ou espichar a vida que perdeu sentido e se arrasta até que, por fim, seja uma chama que se apaga. Ao nascer, recebe-se um selo: em algum momento, quase sempre nos próximos 100 anos, a vida acaba.

A questão não é de quando se nasce ou se morre, mas do que se faz neste espaço de tempo. A religião não pode ser anestésico que faz perder a noção da finitude, mas uma preparação. O espírito que prepara a morte prova que, num ínfimo da história, habita a centelha que vislumbra a Eternidade!

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