Lá vem a temporada de flores

José Henrique Pires licenciado em Estudos Sociais pelo ICH-UFPel, especialista em Políticas Públicas pela Universidade de Salamanca, Espanha, jornalista e radialista. (Foto: Divulgação)

Certa ocasião, recebi uma ligação de um comerciante que tinha uma loja especializada em tecidos, no centro de Pelotas. Ele me disse: tu és de Pedro Osório, me esclarece uma coisa: existe mesmo uma rua das Flores por lá? Estou revisando um cadastro pra autorizar um crediário e a cliente colocou essa rua no endereço.

Prontamente disse que sim. Confirmei a existência da rua pela qual se pode chegar nas imediações da Ponte da Orqueta e ele ficou agradecido e admirado, pois estrangeiro que era, pensava que só nomes de militares e cidadãos ilustres falecidos, além de datas marcantes, podem nominar logradouros no Brasil. Naquela época, não havia Google, informo aos mais novos.

É bastante usual, em muitas cidades, dar nomes bucólicos, poéticos a espaços públicos. Lamentavelmente, vão sendo trocados sempre que morre alguém importante ou a rua fica importante e alguém acha que aquele nome simples é indigno daquela empresa portentosa estabelecida por lá. Tivemos em Pelotas uma significativa Praça das Carretas, um gauchíssimo Corredor das Tropas e até mesmo uma rua das Flores pra chamar de nossa.

Lembrei disso ao ler que a onda de cassação de homenagens chegou a um colégio de Porto Alegre, de onde querem apagar da fachada do prédio e dos documentos da escola, o nome do ex-governador Ildo Meneghetti, assim como na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e na Universidade Federal do Rio Grande (Furg) estão riscando nomes de pessoas falecidas a quem não interessa mais adular como outrora. Rua das Camélias, Rua das Acácias, Rua das Cacimbas, Rua da Praia vão sendo apagadas, homenageados em vida, desrespeitados em seu descanso eterno, para receberem inúteis descomposturas individualizadas. E segue a vida com novas ruas, novos homenageados e novas placas nas esquinas e fachadas.

Meu saudoso amigo Paulo Brasil do Amaral sempre lembrava: “uma das mais importantes ruas de Nova York, que sedia bancos e corretoras de valores, tem o nome de Wall Street. Que dá nome a um importantíssimo jornal especializado em temas econômicos, The Wall Street Journal. Rua do Muro! Jornal da Rua do Muro! E aqui essa necessidade enorme de apagar a história, como se isso, por si, trouxesse algum emprego, algum dinheiro.

Vivemos tempos de “odoratas com defeitos e homens perfeitos”, como escreveu Erasmo Carlos.

*José Henrique Medeiros Pires é Licenciado em Estudos Sociais pelo ICH UFPel, Especialista em Políticas Públicas pela Universidade de Salamanca, Espanha e jornalista e radialista

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