Jogos Olímpicos e os ganhos da amizade social

Manoel Jesus, educador. (Foto: Divulgação)

Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 deveriam ser uma homenagem e incentivo à amizade entre os povos. Tanto na Grécia antiga, ainda antes de Cristo, quanto nos tempos modernos, “ressuscitados” pelo Barão Pierre de Coubertin, no século 19, pregava-se o congraçamento dos povos através dos esportes. Inclusive, com os jogos paralímpicos. O Papa Francisco pediu em redes sociais que o “autêntico espírito olímpico e paraolímpico seja um antídoto para não cair na tragédia da guerra e acabar com as violências”.

O pontífice ainda desejou que “possa o esporte construir pontes, abater barreiras e favorecer relações de paz”, apelando para uma “trégua olímpica”. Francisco gasta cada vez mais do seu tempo de líder religioso idoso falando a respeito de “amizade social”. Quando dá como receita ser “o amor que implica algo mais do que uma série de ações benéficas. As ações derivam de uma união que propende cada vez mais para o outro, considerando-o precioso, digno, aprazível e bom, independentemente das aparências físicas ou morais”.

Especialmente quem vivencia atividade comunitária em uma igreja, filosofia ou grupo de atividade social sabe o quanto é importante se falar em amizade pessoal e amizade social. A primeira se estabelece na relação a dois e, a segunda, na relação de grupo. A primeira precisa aprender que sua atuação não depende de “ganhos” externos à própria pessoa, mas de sentir-se feliz com pequenas vitórias. Enquanto a segunda valoriza o trabalho em equipe, onde é preciso exercitar a tolerância (em especial o respeito) e a paciência.

As organizações sociais sempre perderam quando vaidades causaram disputas de poder, as declaradas e aquelas que ficaram na surdina. A divisão de um grupo é, no mínimo, ficar aquém das suas potencialidades. Muitas pessoas, especialmente idosos e aposentados, encontram em igrejas e entidades sociais um lugar para continuar atuando, sentindo-se ocupadas e úteis. Mas precisam saber que, mais do que um lugar para derramar seus dissabores, é a oportunidade para se reciclar, deixando em casa as mágoas e as tristezas.

Francisco é uma voz que clama no deserto por homens e mulheres de boa vontade. A polarização dos nossos dias transbordou para as relações sociais; o mesmo que se dá na política partidária: o compadrio de interesses. Quem se disponibiliza a servir precisa colocar no horizonte o interesse de quem está fragilizado na sua cidadania. Quando se calcula o que vai “ganhar” no voluntariado, a própria causa fica prejudicada. Um “choro” mesquinho, na prática ou no discurso, corrói relações e joga todo um grupo no marasmo.

Manoel Jesus – Educador – mais textos em manoeljesus.blogspot.com.

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