Doces lembranças

José Henrique Pires licenciado em Estudos Sociais pelo ICH-UFPel, especialista em Políticas Públicas pela Universidade de Salamanca, Espanha, jornalista e radialista. (Foto: Divulgação)

O ano era 1987. Eu havia mudado para Brasília em 86 e trabalhava no gabinete do Ministro da Previdência Social.

Eram tempos de várias batalhas, visando assegurar posições na Assembleia Nacional Constituinte e, em meio a esse cenário, conheci um jovem paranaense chamado Adriano Richa, que lutava como um Dom Quixote (contra moinhos de açúcar), tentando sensibilizar o país para a causa dos jovens diabéticos, que naqueles tempos eram privados de beber refrigerantes e sucos industrializados, pois não havia versões diet, zero e light. Era pela existência desses no Brasil que ele lutava. Havia no exterior, aqui não.

E lá foi ele ao presidente José Sarney, ao deputado Ulysses Guimarães, batendo de porta em porta com laudos impressos naquele tempo, sem e-mail nem internet.

Venceu o jovem paranaense, cujos argumentos a favor das bebidas sem açúcar tiveram força naquela hora e naquele momento.

“Nada é mais forte do que uma ideia cujo tempo chegou”, já dizia acertadamente o francês Victor Hugo.

Mas, em meio a tantas e tantas reuniões que acompanhei para tratar o assunto – para ouvir as partes – acabei conhecendo gente da indústria de bebidas, das indústrias açucareiras, dos fabricantes de recipientes para engarrafamento.

Um diretor de uma forte indústria açucareira, ao saber que eu havia chegado há pouco tempo de Pelotas, chamou minha atenção com a frase: tua terra tem tudo para consolidar um evento nacional. Basta fazer a segunda edição. Não entendi e ele explicou: já havia recebido pedidos de patrocínio para três festas parecidas em Pelotas, com nomes diferentes e todas voltadas para nossa indústria de alimentos, cada uma empacando na 1° edição. Faltava uma segunda edição para mostrar credibilidade aos patrocinadores, disse ele. Para gerar relatórios de vendas, de público, estatísticas!

Guardei o alerta, pois, de fato, eu mesmo tinha ido nos anos 70 à 1ª Fenapêssego (ótima, na Rural). Depois fui na 1ª Faesul (Feira de Alimentos do Extremo Sul – também ótima, inaugurou a Rodoviária) e na 1ª Fenadoce.

Quis o destino que o prefeito José Maria me chamasse para presidir a Fundapel e coube a mim a decisão: criar a festa/feira de número dois. Escolhi fazer a 2ª Fenadoce, por ser mais recente que a Fenapêssego e que a Faesul e por ter conquistado grande repercussão nacional, com shows que lotaram o Laranjal.

Assim, com a chancela indispensável do prefeito Zé Maria, a Prefeitura assegurou, via contrato com a Associação Rural, o espaço para a montagem da 2ª Fenadoce e garantiu também a 3ª edição no mesmo local, que precisávamos deixar preparado para o novo prefeito, que seria eleito em 1988.

A 4ª edição, privatizada pelo governo Anselmo, já ocorreu em local diferente do atual pavilhão Jorge Ivan da Costa Gertun, merecidamente homenageado pela Rural, que batizou com seu nome o pavilhão que ancorou duas edições da Fenadoce e tantos eventos importantes no espaço que ele mesmo edificou quando presidiu nossa antiga Agrícola. A Fenadoce chega este ano a sua 30ª edição, consolidada, pujante, representativa do comércio, da indústria e da tradição doceira de Pelotas.

E corretamente, com doces light, diet e outros tantos com açúcar. Todos, dentre os ingredientes, com generosas doses de afeto

1 comentário

  1. Parabéns Henrique pelo artigo e parabéns também por persistir com a segunda edição, dando sequência a outras.
    Muito importante contar a história da origem do evento, de tempos em tempos, para não perder o valor.
    Abraço grande
    Daniel de Souza Mello

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