Queria um dia com vinte e quatro horas elásticas. Horas flexíveis. Horas sem princípio, meio e fim tão determinadas que são por minutos irredutíveis.
Preciso de mais tempo. Tempo para dizer o que deixei para depois. Tempo para dar aquele telefonema protelado para mais tarde. Tempo para sorrir mais e me aborrecer menos. Tempo para pensar, ouvir música, caminhar, conhecer, descobrir. Tempo para ficar ao léu. Tempo para ser. Tempo para criar.
É urgente mudar essas horas restritas e breves e rápidas.
As horas alinhavam os dias e quando percebemos a semana costurou todos os acontecimentos num piscar de olhos, formando uma colcha de retalhos coloridos de variados tamanhos. Uns dias bons, outros nem tanto, mas todos muito velozes.
A pressa dos ponteiros do tempo vence todas as barreiras como numa corrida de obstáculos em que a linha de chegada parece estar mais perto do que pensávamos.
E daí, a semana acaba num domingo de chuva fininha, molhando todos os sonhos e encolhendo a esperança.
Outra semana inicia com maior rapidez e lá se vão os segundos e os minutos numa ferrenha disputa de olimpíada, correndo em busca de mais um outro domingo como se fosse a conquista de uma medalha de ouro.
E tenho tanto, tanto o que fazer. Uma agenda me fita sistemática e rígida cheia de tarefas a executar, como se eu fosse mais do que uma pessoa, tipo “três em um”. E o que eu mais desejo é fazer o que me der vontade sem essa de obrigações a cumprir.
Um só dia com vinte e quatro longas horas ao meu dispor. Vinte e quatro horas para não fazer coisa alguma, além de esquecer do tempo simétrico e opressor do relógio que me obriga, me escraviza, me limita.
É provável que essa vontade seja comum a todos e não exclusivamente minha. Acontece que, no meu caso, permito que as vinte e quatro horas do dia me controlem porque eu mesma crio, invento, arranjo variadas atividades e desdobramentos, além do que é rotineiro. Resultado: falta tempo, faltam horas, falta espaço.
Na verdade, reclamo injustamente, pois espero que assim seja por muito tempo. Por quê? Pela simples razão de que, se eu diminuir o meu ritmo para adequá-lo as horas de um dia, corro o risco de me aproximar da inércia, da falta do que fazer, da desistência que, a meu ver, é muito pior do que a limitação das horas. A inatividade é um veneno lento e irreversível.
Submeto-me, portanto, ao ciclo inexorável das vinte e quatro horas costumeiras, enquanto continuo imaginando um modo de alongá-las.