Aqueles que têm a ousadia de escrever e publicar são vistos pelos olhos dos leitores como se fossem o negativo e, ao mesmo tempo, a revelação de uma foto. São observados de todos os lados, principalmente o de dentro, e sob inúmeros ângulos.
Mas existe um lugar íntimo e secreto que nunca é aberto à visitação. Ficam os leitores na antessala, visualizando somente corredores e portas. Vez ou outra, uma delas se abre e entram e saem emoções silenciosas, risos ruidosos, tristezas cabisbaixas. Porém, o que se passa no recinto fechado não fica a descoberto.
Noutro dia, alguém comentou que sabe de mim porque lê as minhas páginas. Será?
Essa a grande magia de ser escriba. As imagens se compõem e se dispõem ao bel-
prazer do manuseio criativo das palavras. E, nem por isso, se transformam em retratos dos autores.
Percebo essa verdade porque estou compondo um livro. Um livro na rede da internet. É a minha autobiografia em poesia. Uma sucessão de poemas escritos para cada ano da minha vida, até a atualidade. Trabalho de ourivesaria. Sou eu mesma lapidada, à mostra, com a mais cuidadosa precisão de detalhes e entalhes.
Quando publicá-lo, estarei, aí sim, colocando minha cara na foto. O retrato exposto, mostrando o meu mundo interior escancarado como uma tela numa sala de museu, expondo os seus quatro cantos para todos os olhares. Melhor será deixá-lo para a posteridade, talvez.
Nas minhas crônicas, falo do cotidiano, das relações entre o real e o imaginário. Faço delas uma vitrine da vida onde coloco em exposição sentimentos comuns a todos, emoções unânimes identificadas com o que observo nos meus semelhantes.
Por essas e por outras é que o livro de crônicas inéditas, em breve ao alcance dos que quiserem manuseá-lo, será saboreado como uma visita a um bazar de variadas mercadorias. Escolha a sua preferida, a que falar mais ao seu coração. Nelas, encontrará um pouco de mim e de todos, no retrato da vida por ela mesma.
Quanto ao outro livro, a autobiografia em poesia, estará “on-line” ao vivo e a cores para uma conversa particular, um bate-papo com a minha história.
Em verdade, nele deixarei de ser a esfinge, com a inscrição: – “Decifra-me ou te devoro!”, para tornar-me a tradução de uma linguagem que poucos conhecem, a revelação de um retrato guardado do lado de dentro.
Aguardem sem pressa. Está em processo de elaboração nas engrenagens do tempo. Enquanto isso, as crônicas fazem o acompanhamento, na dança que não se cansa, no cotidiano do simples, do óbvio, do sempre atual.
E pensando bem, autobiografia é palavra longa demais, antiga demais. Melhor uma foto 3×4 em vez de um retrato pintado em tela de dimensões imensas. As crônicas primeiro. Depois conversamos sobre os poemas. Uma coisa de cada vez. Afinal, todas estarão no retrato, mais hoje, mais amanhã.
Gostei da ideia… Biografia em versos!