A constatação de uma angústia que não me pertence e que, mesmo assim, insiste em se instalar com armas e bagagens nos melhores cômodos do meu espaço interior, cria um desassossego e perturba o meu desejo de paz.
Afinal, na atual realidade, nada mais oportuno do que tentar viver em paz consigo mesmo e se afastar das guerrilhas do cotidiano nesses disparates entre o certo e o errado, entre o justo e o injusto, entre o permitido e o proibido.
Para fechar as portas a essa angústia indesejável, eu preciso descobrir sua origem. E daí me vem tantos e quantos questionamentos que alimentam o assunto.
Teria eu, displicentemente, deixado aberto o caminho com minhas inseguranças e incertezas, proporcionando a instalação de toda essa inquietude?
Vulnerável às investidas do dia a dia, que desestabilizam minha zona de conforto, eu me descubro alvo fácil para a certeira flecha da ansiedade.
Será que sofro de véspera o que supostamente pode nem vir a acontecer?
Preocupar-me é ocupar com antecedência a minha mente. É pré-ocupar os meus sentidos com desassossegos desnecessários.
Precipito-me ante cada acontecimento, atropelando o inevitável e colocando o que pode ser evitado na primeira fila da plateia.
Ansiedade, ironicamente, tem relação direta com anseio, desejo, vontade e é correlata a receio, insegurança e medo.
Uma perfeita mistura de altos e baixos que desequilibram a serenidade e a autoconfiança.
O coração dispara, um nó na garganta se instala, a respiração se acelera, as mãos suam e se agitam. Tudo ao mesmo tempo num tempo que ainda não aconteceu.
Atropelar os acontecimentos tem sugado muitas energias. Perder o sono, esvaziar o olhar, esconder o sorriso, deixar o desânimo tomar posse das vontades para manobrar ao seu bel-prazer o que somos em essência, transformando-nos em bonecos de ventríloquos sem vida própria, são consequências do inconveniente ansiedade.
Elos se encadeiam independentes dos nossos planos. O imprevisível é categórico e nos acompanham pela vida afora. Mas somos teimosos e reincidentes navegadores. Temos a pretensão de conduzir o barco das horas, dias, anos como se soubéssemos o que nos aguarda a cada curva dos rios.
Não fosse a ansiedade, aproveitaríamos mais a viagem. As paisagens seriam melhor registradas, as emoções teriam mais espaço para se espalharem, os bons momentos teriam um tempo maior a nos oferecer e o que nos oprime ou preocupa perderia terreno frente a tranquilidade de deixar ser tudo como é (let it be) e nada além ou aquém disso.