Historicamente ouvimos a frase: “o cinema imita a vida ou a vida imita o cinema?”, que significa que existe uma simbiose e uma relação bidirecional entre a vida e a arte. E se pararmos para fazer a mesma analogia com a tecnologia, especialmente com a Inteligência Artificial (IA)?
É uma reflexão complexa, pois a tecnologia é moldada para ser parte da experiência humana, capturando imagens, experiências, situações, emoções e sentimentos que encontramos na vida real.
E nesse contexto temos que analisar a relação cada vez mais íntima da sociedade com os aplicativos e com as redes sociais. Por princípio, toda essa tecnologia deveria nos auxiliar e não nos dominar!
As pessoas prestam atenção e estão satisfeitas com o dinamismo da internet e seus pontos positivos! É inegável que hoje em dia tudo é mais fácil, a vida é mais fácil com a tecnologia! Com o celular, nos comunicamos instantaneamente com familiares, amigos e realizamos até uma compra através de aplicativos de mensagem. Pelas redes sociais, podemos saber o que está acontecendo no mundo, no Estado, na nossa cidade ou até mesmo na vida de outra pessoa.
Mas a internet, os aplicativos e as redes sociais também nos “roubam” o tempo, nos tornam mais individualistas, egoístas, nos passam informações falsas estrategicamente pensadas para nos enganar e, em alguns casos, nos fazem vítimas de crimes cibernéticos.
As pesquisas comportamentais realizadas pelo Instituto Pesquisas de Opinião (IPO) mostram que a influência da internet e da tecnologia pode variar de acordo com idade, classe social e profissão. Ela prejudica o desenvolvimento cognitivo e social das crianças, diminui a capacidade de aprendizado e tira a autoridade do professor.
Mas chamo a atenção para a precarização de nossas crenças e valores, de nossas referências, da nossa origem. Duas ou três décadas atrás, uma adolescente se inspirava em sua rede de relações, tinha o exemplo da prima que não foi bem sucedida, analisava a trajetória de uma vizinha. Trocava ideias e sonhos com as amigas, tinha muita influência de sua família e prestava muita atenção em colegas e professores. As escolhas eram mais fáceis, tanto pelos exemplos mais próximos e factíveis da realidade quanto pelo nível de informação, que se ampliava com a experiência e a maturidade. Os jovens sabiam que, para crescer, tinham que subir degrau a degrau.
Agora não! A instantaneidade propiciada pela tecnologia acelerou a vida dos jovens, com vários influenciadores digitais de referência, muitas opções de escolha e muita informação. Estes adolescentes observam o mundo a partir da janela da tecnologia e ficam “sem chão”, vivem baseados na “aparência” do mundo virtual e têm dificuldade para entender a essência do mundo real em que vivem com sua família! Querem tudo e se frustram com muita facilidade quando algo dá errado. Não é à toa que temos visto a ampliação contínua dos indicadores de ansiedade e de saúde mental.
Com o avanço da inteligência artificial, teremos ainda mais desafios pela frente e dificuldade até para decifrar um vídeo real de um vídeo fake! Temos que usufruir da tecnologia com criticidade, consciência e muito diálogo no mundo real.