A pandemia empobreceu a sociedade, escancarou as desigualdades sociais e fragilizou financeiramente a maior parte das famílias economicamente ativas. E quando a pandemia parece arrefecer, dando uma aparente trégua, a economia brasileira mostra a sua faceta e assusta a população.
Abrimos 2020 com receio da Covid-19 e entraremos 2022 preocupados com a inflação.
Pesquisa quantitativa realizada pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião, com uma amostra de 1.500 gaúchos, no mês de novembro, identificou que a maioria da população está muito preocupada com o aumento da inflação.
Na percepção de 79,7% dos gaúchos, a inflação irá aumentar nos próximos meses. Na visão de 8,1% dos entrevistados há estabilidade e a inflação irá ficar como está. E 8,9% acreditam que a inflação irá diminuir com as flexibilizações das medidas restritivas e as ações do Governo Federal.
A preocupação que atinge 8 em cada 10 gaúchos está associada a quatro perspectivas: o aumento do custo de vida, a diminuição do poder de compra, a ampliação do endividamento e o desemprego.
A primeira percepção está associada ao aumento do custo de vida e é validada na realidade das famílias pela elevação periódica de preços como o da energia elétrica, do combustível e da alimentação. A população com renda familiar de até três salários mínimos é o segmento social que mais tem cortado gastos, em especial, diminuindo a variedade de produtos adquiridos no supermercado.
Com o aumento de preços as famílias sentem a diminuição do poder de compra, que tem relação com as perdas financeiras durante a pandemia, defasagem salarial ou até mesmo com congelamento dos salários dos servidores públicos. Os depoimentos contam que os cortes de gastos são cada vez mais frequentes, aumentando a ideia de que há uma defasagem do real e ativando a frase popular de que “o dinheiro está perdendo seu valor”.
O terceiro fenômeno que motiva a previsão negativa com a inflação está associado ao endividamento da população. Quem sente a diminuição do poder de compra reconhece que não está tendo capacidade de pagar os compromissos mensais, optando pelas contas mais vitais. Ao escolher “que conta pagar a cada mês”, as famílias com precarização financeira vão contribuindo com os indicadores de inadimplência.
O quarto dilema está associado ao aumento do desemprego e à redução dos postos de trabalho. Com as medidas restritivas durante a pandemia muitos trabalhadores acabaram ficando desempregados e os autônomos estão sofrendo os impactos da ampliação da concorrência e da diminuição do poder de compra da sociedade. Os jovens e as pessoas com mais de 45 anos são as que mais sofrem com a falta de vagas de trabalho.
Mas, como temos a máxima cultural de que o “brasileiro não desiste nunca”, quem está preocupado se “segura” na esperança de dias melhores e no sentimento de superação.
Cada um tenta sobreviver ou se reinventar da forma que dá, acreditando que futuramente haja uma “vacina eficiente para combater a inflação”.