A China e o gaúcho

Cássio Lopes, escritor e historiador. (Foto: Divulgação)

A palavra “china” é bem conhecida dos sul-rio-grandenses. Em certos dicionários gaúchos encontramos algumas de suas designações, porém relativamente novas. O certo é que a origem do termo é bem mais antiga, de procedência quíchua, língua falada por algumas etnias indígenas que habitaram na pampa. Segundo o Diccionario de Quichua de Domingo Bravo, “china” significa: “Fêmea. Animal do sexo feminino. A linguagem popular estendeu-a às mulheres de baixa condição moral e social”.

Portanto, o vocábulo refere-se às mulheres de “vida fácil”, ou seja, prostitutas. Sabemos que no início do povoamento da campanha gaúcha, o que menos havia era justamente mulheres. Era muito “macho” para pouca “fêmea” e vários bochinchos se formaram em função disso, inclusive com mortes. A cada peleia era menos um na disputa ou mais um ressabiado. Aqueles que venciam, tirando a vida de seu oponente, obtinham como o troféu não a mão da moça e sim anos matreiriando ou encerrado atrás das grades. Esse cenário fez com que muitos gaúchos procurassem outras alternativas para arrumar um cambicho.

O jeito foi procurar uma piguancha nos bordéis e cabarés dos povoados e cidades. O que era apenas para ser uma aventura, acabava se tornando algo mais forte. A cada encontro que ocorria, ele procurava sempre a mesma percanta e ela por sua vez, lhe dava preferência, ou seja, nunca lhe negava o estribo.

E, assim aos pouquitos, o envolvimento passava duma mera satisfação carnal, para uma paixão avassaladora. Ele já não sabia viver mais sem ela e vice-versa. O amor tomou conta dos seus corações. Então ele reúne uns cobres e vai buscar a sua amada e a traz para o seu humilde rancho, que agora pode chamar de lar.

Ela lhe recompensa, com muito amor e carinho, lhe fazendo costado em tudo, zelando por ele, sendo fiel, amiga e companheira. E, assim eles quebraram muitos paradigmas, venceram vários desafios, casaram, constituíram família, tiveram filhos e foram muito felizes.

“Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só; pois, caindo, não haverá outro que o levante. Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só, como se aquentará? E, se alguém prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; e o cordão de três dobras não se quebra tão depressa (Eclesiastes 4:9-12). Quem encontra uma esposa, encontra algo excelente; recebeu uma bênção do Senhor (Provérbios 18:22).

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