
Durante os 15 minutos, tempo que durou a entrevista, o radialista César Santos, de 53 anos, citou no mínimo três vezes a mesma frase que define a busca e o alcance do sonho de atuar em uma grande rede de rádios: “Com a cara e a coragem!”.
Para quem ainda curte um programa de rádio que, como ele costumava dizer, é: “a poesia em forma de música do jeito que você gosta”, é impossível não lembrar com frequência daquele que marcou época – o “Clube dos Namorados”, atração noturna da Nativa FM Piratini.
Por 10 anos, principalmente para os piratinienses, ele foi o César Santos, mas hoje, o rei da animação é conhecido apenas por PC, e faz parte diariamente da vida de aproximadamente 700 mil habitantes do Meio Oeste Catarinense, do Paraná e também do Rio Grande do Sul, área de cobertura da Rede Catarinense de Rádios, que, entre outras, é composta pela Jovem Pan e Band FM.
Já são 33 anos ao microfone, destes, 22 em SC, sendo 20 deles em Joaçaba e dois em Concórdia. Para alcançar este patamar profissional, o comunicador confirma o que, de fato, é uma realidade comum para quem atua em emissoras do interior gaúcho: “Minha grande faculdade no rádio foram os 10 anos de Nativa. Foi onde eu desenvolvi a locução e, também, onde aprendi fazer de tudo um pouco na comunicação: debater, entrevistar, questionar, sendo isso fundamental para que eu entrasse na Band e na Catarinense, emissoras que têm perfis distintos, pois uma é de entretenimento popular e a outra tem como foco o Jornalismo.
Assim, me tornar versátil ao trabalhar em Piratini fez a diferença para eu ficar com a vaga em 2004”, admite.
E o que levou Santos para a comunicação em 1991, ano no qual foi contratado para integrar a equipe da Litoral Sul FM, de São Lourenço do Sul? Ele responde: “Eu fiz de tudo um pouco na vida, inclusive, fui servente de pedreiro, trabalhei na colheita de pêssegos e ainda de office boy. Mas esse mundo novo do qual hoje faço parte e cuja adaptação e aprendizado foram extremamente complicados começou quando eu atendia telefone em uma empresa de engenharia em Pelotas. Passei a ouvir elogios sobre a minha voz e ser incentivado a virar locutor. Isso foi entrando na minha mente e, um dia, ao ler em um anúncio de jornal que precisavam de locutores na Litoral, peguei um ônibus, fui a São Lourenço, fiz o teste ao gravar um comercial de uma borracharia passei e não pensei duas vezes: pedi demissão do emprego e com a cara e a coragem, mudei de mala e cuia para a nova cidade”, recorda o radialista.
Santos continua relembrando o quanto era ruim de locução aos 20 anos de idade. “Era uma situação de vida totalmente diferente da qual, no início dos anos 90, eu tinha. Um novo mundo se abria para mim e, sim, foi bastante complicado, pois o dono da rádio era um carrasco, um ditador, e isso contribuiu para as muitas dificuldades encontradas no começo. Para que se tenha uma ideia do quanto eu era juvenil ao microfone, após ir ao ar pela primeira vez, o que durou bem pouco tempo pelo fato de eu ser muito amador, a mim era dada a missão de apenas anunciar a hora e a temperatura e, mesmo assim, eu as errava”.
Sobre ter deixado a Nativa FM, ele diz que essa decisão foi a soma de três fatores: salário baixo, desgaste na relação e, principalmente, a grande vontade de buscar novos horizontes na profissão. “Ganhar pouco é algo comum em rádios do interior. Não estávamos felizes, nem eu nem a direção, o que é algo normal, pois com o passar dos anos, a convivência pode se tornar complicada. Então, através de uma namorada do Bigo Pinheiro, que à época também fazia parte da equipe, mandei um piloto para a Atual FM, em Concórdia, SC, o que fiz ao mesmo tempo para uma rádio no Mato Grosso do Sul. Para minha surpresa, as duas emissoras me chamaram quase que ao mesmo tempo. Optei por Santa Catarina e, novamente, apenas com a cara e a coragem, embarquei no ônibus com a minha então mulher que estava grávida, nosso filho de apenas três anos e deixei o Rio Grande do Sul”, recorda o comunicador.
Ele segue: “Para conseguir o valor que permitiu pagar o transporte da nossa mudança, me desfiz do único bem material que eu possuía – o Fiat 147 usado para fazer as telemensagens ao vivo – e, com isso, complementar a minha renda. O comprador foi o então prefeito de Piratini, Francisco Luçardo, que, na intenção apenas de me ajudar, pagou R$ 2 mil pelo carrinho que, nossa senhora, estava detonado”.
A vaga na atual não era para fazer locução e, sim, para o departamento de vendas. Mesmo assim, Santos entendeu que aquela era a grande chance de, com o tempo, alcançar o almejado sonho, o que foi também difícil não só pelas tantas exigências de uma região do Brasil totalmente diferente, mas também pelo sotaque que hoje já não existe.
“Foram 40 dias apenas vendendo, uma área na qual eu não tinha nenhuma experiência. Depois, entrei no ar à noite. E essas tantas dificuldades que se apresentaram, depois descobri que foram ocasionadas principalmente devido ao meu sotaque. Quando, finalmente, tive a chance de comunicar em horário nobre, veio a cobrança para que eu falasse menos, sorrisse e brincasse mais com o ouvinte e outras tantas observações relacionadas a minha introspecção”.
Santos lembra que dois anos depois soube da vaga no Grupo Catarinense e, resumindo, lá se vão duas décadas comunicando e se “virando nos 30”, pois como ele mesmo observa, é possível viver, no que diz respeito ao fator financeiro, apenas de rádio desde que a emissora esteja situada em um grande centro do país. Mas o comunicador tem o mínimo de ambição, algo necessário a todo nós, seres humanos que buscamos crescer na vida, e isso o fez, e ainda o faz, querer mais e mais.
“Claro que foi e, ainda é à custa de muito trabalho, pois não tenho folga. Minha carga horária é de 12 horas diárias e, às vezes, sete dias por semana. Sempre fui um empreendedor, então, além de ser um comunicador, também tenho uma empresa de transporte de mobilidade, atuo como mestre de cerimônias e faço assessoria de imprensa, enfim: quero e busco sempre mais, o que já me permitiu conquistas financeiras como, por exemplo, os imóveis que tenho”, revela Santos, que completa: “sou grato por tudo que os catarinenses me proporcionaram. Me Considero uma pessoa muito feliz e, por isso, sempre dou o seguinte conselho a quem quer mudar de vida assim como eu mudei: meta a cara, procure algo melhor financeiramente, pois a consequência é ser um vitorioso assim como eu entendo que sou”.