“As casas falam em Piratini”, é o que afirma a letra de Juarez Machado de Farias, que venceu a edição 2020 da Vertente da Canção Nativa. O poeta certamente quis dizer que no primeiro berço farrapo as moradias expõem para aqueles que têm a sensibilidade em fazer a leitura, os fatos responsáveis por escrever uma importante parte da história do Brasil.
Já o saudoso diplomata e advogado Osvaldo Aranha, certa vez afirmou que é impossível escrever a história do país sem molhar a pena no sangue derramado no Rio Grande do Sul e, assim, através de inspirados personagens daquele que já foi o Ministério da Guerra durante a Revolução que começou em 1835 e hoje abriga o Museu Histórico Farroupilha, se extrai um vasto e rico conteúdo para quem aprecia feitos épicos também expostos a cada aniversário da cidade.
Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan), o prédio foi vendido ao Estado em 1952. Um ano depois, passou a receber e guardar centenas de peças que retratam aquela que foi a maior guerra em território brasileiro.
As passagens e feitos dos heróis da Revolução Farroupilha estão guardados na memória e no conhecimento da diretora da instituição, Francieli Domingues Corral, que com sua equipe expõe para os mais de dez mil visitantes que anualmente buscam revisitar todo o conteúdo possível de ser extraído da construção erguida em 1819, fatos, documentos e peças que também construíram o Rio Grande do Sul.
“Temos cerca de 1.900 peças, entre elas, muitas que retratam os usos e costumes dos gaúchos, contando a saga de todo o povoamento do nosso pago, bem como a construção da economia a partir do charque. Aqui também estão muitas peças usadas pelos farroupilhas e importantes documentos, como a promulgação da República Rio-grandense, e da eleição que tornou Bento Gonçalves presidente”, relata a diretora.
Ela explica que quando assumiu encontrou algumas demandas, como a criação de espaços de pesquisas e também de reservas técnicas, local onde ficam as peças não expostas, mas mantidas em condições de segurança para que futuras gerações conheçam a história, itens que em sua opinião tornam o museu o maior do mundo quando o assunto é Revolução Farroupilha, que dividiu geograficamente o estado gaúcho do restante do país.
“Da guerra em diante criamos uma identidade muito forte para lutar por nossos ideais. Esse espírito republicano é crucial para o nascimento da história da qual fazemos parte e que é muito importante pra política brasileira”, destaca Francieli.
Do acervo que em abril recebeu um reforço de quase mil peças, duas provocam as emoções da diretora. A primeira é a bandeira que está em exposição em uma das salas à disposição dos visitantes, o que segundo ela a permite voltar no tempo. O símbolo guarda manchas de sangue e perfurações de bala do campo de batalha, e simboliza o que aconteceu na busca por um ideal e que hoje é cultuado, por exemplo, durante a Semana Farroupilha.
“O outro item que confesso mexe comigo é o facão de Teixeira Nunes, que comandava os Lanceiros Negros e foi morto na defesa dos mesmos depois do massacre dos Porongos, outro episódio da guerra farrapa, este em Pinheiro Machado”, recorda.
O facão ao qual ela se refere integra o acervo doado pelo colecionador Volnir dos Santos, o Tivone, e que chegou a Piratini em abril deste ano proporcionando a criação da nova coleção batizada de “Tivone Farroupilha”, que além de objetos, também conta com documentos e cartas assinadas por Giuseppe Garibaldi.
Franciele diz que com essa nova doação reunida durante 25 anos por Santos, será possível ter no museu três reservas técnicas que serão expostas ao público a partir de setembro, quando os visitantes contarão com 12 salas de exposição.
“Com isso, esperamos aumentar de forma significativa a visitação ao nosso museu. Entendo que a nova coleção é fantástica e permite nos reconhecer como parte importante da história do Rio Grande do Sul”, finaliza.