A situação das instituições filantrópicas de Pelotas foi um dos assuntos abordados por dirigentes do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) durante o Congresso da Associação Médica de Pelotas (AMP) e em agendas com representantes de instituições filantrópicas do município, definindo uma mobilização conjunta entre as instituições para melhorias. Durante a passagem pela região, o diretor-geral Fernando Uberti, e o diretor para a região Sul, Marcelo Sclowitz concederam entrevista ao jornalista Carlos Machado, no Programa Zona Sul em Movimento.
Uberti afirma que conhece a realidade da região, pois estudou na Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e que o contexto das quatro instituições filantrópicas de Pelotas, Hospital Espírita de Pelotas, Beneficência Portuguesa, Santa Casa e Hospital Universitário São Francisco de Paula, da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), se repete também em todo o estado, referente a dificuldade em promover o equilíbrio financeiro. “Nós temos um modelo completamente disfuncional de repasse financeiro do Sistema Único de Saúde (SUS), em que uma instituição que atende mais de 65, 70% dos seus procedimentos, consultas, cirurgias pelo SUS [Sistema Único de Saúde], absolutamente não chega a uma situação de equilíbrio financeiro”, disse.
Uberti destaca que a situação promove impactos na categoria médica, com atrasos de remunerações e ausência de política de valorização, por exemplo, mas também na assistência em saúde. “Isso significa fechamento de leitos, fechamento de serviços”, resume.
No dia em que a entrevista foi concedida, 18 de agosto, ele cita que participou de reuniões com representantes do Hospital Espírita de Pelotas e da Santa Casa, com o debate de demandas e discussão de estratégias para reverter o quadro. “Nós vamos iniciar aqui um movimento de atuação articulada destas instituições, um movimento liderado pelo Simers, a exemplo do que nós fizemos na Frente Estadual em Defesa da Santa Casa de Rio Grande”, revelou. O movimento deverá ter início nas próximas semanas. Antes, haverá convite para que outras instituições participem.
Sclowitz afirma que o Simers, que reúne 15,2 mil sócios, sendo o maior sindicato médico da América Latina, cerca de 50% dos médicos gaúchos, vem acompanhando a situação do setor, em grande parte pelas demandas dos médicos, que acionam o sindicato, em muitos casos, por falta de condições de trabalho, atraso em salários ou remuneração aquém do adequado. “Baseado nestas demandas, percebemos que isso é fruto de um subfinanciamento que ocorre às instituições de saúde, ou seja, os aportes financeiros são muito menores do que seria necessário para que se mantivesse equilibradas as finanças dos hospitais”, pontua.
Mesmo com esse quadro, há aspectos que os representantes do Sindicato destacam como positivos. Uberti disse ter ficado impressionado com a conservação da estrutura do prédio da Santa Casa, além dos equipamentos que a instituição possui. “A gestão tem sido muito competente, mas nós temos um limite neste processo que mesmo com uma gestão altamente qualificada, quase com um nível próximo à perfeição, nós vamos ter uma instabilidade financeira”.
Entre as medidas políticas necessárias, Uberti indica a necessidade de avaliar a situação e as dificuldades individuais de cada instituição e da união em prol dos temas em comum, como a discussão do modelo de financiamento do SUS.
Próximos passos
O diretor geral destaca que o andamento para criação da Frente em Defesa dos Hospitais Filantrópicos de Pelotas passa ainda pela aceitação das instituições e o agendamento de uma reunião para ajustar detalhes da proposta. “Vamos envolver outras instituições, inclusive externas ao setor de saúde. Assim como fizemos em Rio Grande”, disse, referindo-se a Santa Casa do município. A entrevista completa está disponível em www.jornaltradicao.com.br, www.jtrtv.com.br e nos canais do JTR no Youtube e Facebook.