Um estudo realizado no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) buscou compreender como os adolescentes gerenciam os conhecimentos de saúde e de onde recebem as informações. A pesquisa, que faz parte da tese de doutorado da enfermeira Kamila Dias Gonçalves, apontou a necessidade de abordagens mais eficazes no ensino desse tema.
Segundo a pesquisadora, que teve a orientação da professora Adrize Rutz Porto e coorientação da professora Maira Buss Thofehrn, compreender a adolescência e suas complexidades é fundamental tanto do ponto de vista científico quanto pessoal, uma vez que todos já passaram ou irão passar por essa fase. “A adolescência é um fenômeno existencial vivenciado por todas as pessoas que já ingressaram ou ultrapassaram a fase adulta. É essencial compreender e respeitar a fase e suas transformações em busca de respostas tanto como pesquisadora quanto como indivíduo ativo no estudo”, disse.
Para a pesquisadora, no contexto atual, é importante desenvolver ações de promoção, educação e prevenção da saúde, visando o desenvolvimento e autonomia dos adolescentes. “Com as mudanças das gerações frente aos aspectos sociais, culturais, políticos e tecnológicos, os métodos com os quais as informações e a educação são transmitidas também precisam ser atualizados e requerem manejo e reconstrução constantes”, destacou.
No estudo de Kamila Dias Gonçalves, foram entrevistadas 13 adolescentes do sexo feminino, com idades entre 16 e 19 anos. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas individuais e encontros em grupo. A base teórica da pesquisa foi fundamentada nos estudos do teórico Lev Vigotski, que abordava processos psicológicos, aprendizado e desenvolvimento individual, destacando a importância da interação no fortalecimento do aprendizado.
Os resultados indicaram que os pais desempenham um papel fundamental na construção dos conhecimentos de saúde dos adolescentes, com destaque para as mães. No entanto, há dificuldade em discutir assuntos como sexualidade, por exemplo. Embora sejam essenciais, os pais muitas vezes não iniciam diálogos sobre esses temas, sendo os próprios filhos responsáveis por grande parte das discussões.
A escola foi apontada pelas adolescentes como o principal espaço para aquisição de conhecimentos em saúde, pois favorece a troca de informações e interação com outros adolescentes. No entanto, o estudo ressaltou que os temas relacionados à saúde são abordados de forma superficial nos anos iniciais, com pouco espaço para questionamentos e interação.
Em relação aos profissionais de saúde, o contato ocorre principalmente em situações de necessidade de cuidados, não havendo uma troca de informações e espaço para aprendizado adequado. As adolescentes expressaram interesse em trabalhar com temas pouco abordados, como saúde bucal, sexualidade, infecções sexualmente transmissíveis, métodos contraceptivos e drogas, os quais consideram que são abordados de forma insuficiente.
Os métodos de ensino também foram avaliados no estudo. As palestras, comumente utilizadas, foram consideradas pouco atrativas devido à falta de espaço para interação, reduzindo o ensino a um modelo transmissivo e unilateral. As adolescentes demonstraram a necessidade de um espaço que lhes permitisse questionar e validar as informações obtidas por meio de amigos ou da internet.
Por outro lado, ações em grupos menores foram consideradas favoráveis ao aprendizado, pois facilitam a interatividade e o uso de metodologias ativas e dinâmicas. A participação ativa dos adolescentes, juntamente com um adulto de confiança mediando a interação, é valorizada, pois proporciona espaço para troca de informações e experiências, além de validar os conhecimentos em saúde.
Com base na análise dos dados, o estudo aponta que é necessário ouvir os adolescentes, suas dúvidas e anseios, a fim de abordar temas de seu interesse e utilizar métodos de ensino que favoreçam a interação e o aprendizado. A integração entre profissionais de saúde e educação também é fundamental para fortalecer a educação em saúde desse público, visando práticas ativas, inclusivas e interativas.
Em conclusão, a pesquisa ressalta a importância de uma abordagem mais efetiva no ensino de saúde para adolescentes, buscando promover o autogerenciamento dos conhecimentos em prol de condutas saudáveis e cuidados com a saúde. É necessário repensar os métodos de ensino, ouvir os adolescentes e trabalhar em conjunto com profissionais de saúde e educação, a fim de proporcionar uma educação em saúde mais engajadora e adequada às necessidades desse público.