
Os departamentos de Vigilância Ambiental e Vigilância Epidemiológica, vinculados à Secretaria Municipal de Saúde de Pelotas, têm intensificado as ações de monitoramento e combate aos focos de mosquitos Aedes aegypti na cidade. Conforme dados da Vigilância Ambiental, até a tarde de terça-feira (7), 38 focos do mosquito que transmite a dengue foram encontrados em 2023.
Destes, cerca de 86% haviam sido identificados no bairro Fragata, o que equivale a 33 focos. Apenas nos primeiros sete dias de março, 14 focos foram identificados no Simões Lopes. Além disso, 70% dos pontos com presença do mosquito ou larvas deste foram encontrados em endereços residenciais.
Em comparação com o mesmo período em 2022, ano em que foram registrados 330 focos, houve registro de 66 focos, 28 a mais que o apontado hoje. Mas a aparente melhora nos números não deve ser comemorada. De acordo com Isabel Madrid, diretora do departamento, boa parte dos focos encontrados no Fragata correspondem à localidade do Simões Lopes.
“Temos vários fatores que perpetuam a reprodução do mosquito, além de ser um dos principais acessos à cidade. Dentre esses fatores temos a presença de lixo e entulhos descartados pela população em via pública. Por exemplo, tivemos um foco identificado em um pneu que estava próximo aos trilhos. Cabe salientar que nas últimas semanas temos tido uma condição climática excelente para o desenvolvimento e reprodução do mosquito, com episódios de chuva e calor”, explica.
Mesmo em períodos em que não há alto potencial reprodutivo provocado pela mudança climática, a vigilância realiza de forma permanente ações como visitas domiciliares, inspeções em terrenos baldios e comércios, monitoramento de pontos estratégicos, vistoria de denúncias e solicitações realizadas pela população, pesquisas vetoriais especiais na presença de casos suspeitos de arboviroses transmitidas por Aedes e aplicação de inseticidas.
No entanto, a diretora afirma que por diversas vezes os agentes têm encontrado portas fechadas durante as visitas. “Temos tido muitas dificuldades no acesso às residências, principalmente nas localidades que temos a vigilância intensificada. Em muitos casos o cidadão não permite a entrada do agente na sua residência com a justificativa que o imóvel do lado está abandonado e ninguém visita, que a valeta tá suja, inúmeras justificativas que não estão ao alcance do agente e tampouco são importantes no combate ao Aedes”, comenta.
Para contornar a situação e seguir com as ações, Isabel reforça a importância da colaboração da população. “Então sempre pedimos que a população colabore com a permissão de entrada do agente na sua residência, tanto vistoriando a área externa quanto no interior do imóvel. Já tivemos casos que a pessoa disse não haver nada dentro de sua casa que pudesse ser um criadouro para o mosquito e acabamos identificando um foco em vaso com planta enraizada”, pontua. Ainda conforme ela, todos os agentes realizam as ações uniformizados e com crachá de identificação, mas caso o morador queira confirmar a visita do profissional é possível entrar em contato com a equipe administrativa da vigilância pelos telefones (53) 3284-7770 ou 3284-7759 e pelo WhatsApp (53) 9115-6284.
Em Rio Grande, a Vigilância Ambiental fez um alerta devido à identificação de 10 focos do Aedes aegypti no município. Conforme o relatório foram encontrados pontos com presença do mosquito nos bairros Centro, Aeroporto, Vila Maria, Parque Guanabara (Cassino), São Miguel e no Distrito Industrial.
Assim como ocorre em Pelotas, o departamento também pede para que a população receba a visita dos Agentes de Combates a Endemias (ACEs), para garantir a eliminação de possíveis focos.
Casos de dengue
Além dos focos do mosquito, em pouco mais de dois meses Pelotas contabiliza seis notificações por dengue, sendo três apontadas em janeiro e três em fevereiro. Informações da Vigilância Epidemiológica indicam que destas, quatro são de pessoas que residem no município. Até o momento, dois casos foram confirmados, mas são considerados importados, quando a doença não foi contraída na cidade.
Outros três foram descartados e um ainda aguarda resultado do exame. Nas oito primeiras semanas do ano, quatro suspeitas foram registradas. Com relação ao ano anterior, o número só foi igualado na nona semana. Ao todo, em 2022 foram 75 notificações e 14 casos confirmados da doença, sendo três autóctones.
Na região da 3ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), Rio Grande também apresenta uma alta de casos suspeitos notificados. Segundo dados da Vigilância Ambiental até o momento, foram indicados 10, sendo que sete já foram descartados e três estão sendo investigados. Em 2022, o município registrou 44 notificações e seis confirmados, sendo cinco autóctones.
No ano passado, os 22 municípios da 3ª CRS somaram 30 casos confirmados. A coordenadoria afirma que tem trabalhado de forma preventiva nos municípios, realizando trabalhos de capacitação e elaborando planos de contingência junto aos municípios.
Chegada da vacina
No inicio do mês, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o registro da nova vacina contra a dengue, a Qdenga, da fabricante Takeda Pharma Ltda.
O imunizante é composto por quatro sorotipos diferentes do vírus, o que garante mais proteção contra a doença. Com a chegada da Qdenga, o país ganha mais uma alternativa para reforçar o combate à dengue. Isso porque o Instituto Butantan também realiza estudos para a Butantan-DV, vacina com a mesma finalidade que apresenta 79,6% de eficácia, também composta por quatro sorotipos do vírus (tetravalente).
A vacina Qdenga é indicada para prevenir a doença em pessoas com idades entre 4 e 60 anos, devendo ser aplicada em esquema de duas doses com um intervalo de três meses. O imunizante possui eficácia geral de 80,2%.
Já a Butantan-DV ainda seguirá na fase de estudos. Desde 2016, 16.235 voluntários de 2 a 59 anos participam da análise que deve seguir até 2024, completando cinco anos da aplicação das doses e placebos.
Mas a chegada da vacina não inibe os cuidados necessários para evitar a propagação do transmissor da doença. Com isso, alguns cuidados seguem, como evitar a proliferação, procurando e eliminando possíveis criadouros, descartar adequadamente resíduos sólidos inservíveis que possam acumular água, (potes, latas, garrafas, pneus, entre outros), destinando à coleta seletiva ou entregando em recicladoras, jogar fora na terra ou em superfície seca a água acumulada dos potes, lavar com esponja, água e sabão, ao menos uma vez por semana, os potes que não podem ser colocados fora preencher pratos de plantas com terra, garantir que caixas d’água ou cisternas de armazenamento estejam bem fechadas, cobrir possíveis saídas (ladrão) de caixas d’água ou cisternas com tela ou meia de nylon, usar mosquiteiro, em especial em pessoas acamadas e/ou crianças, utilizar repelentes (individuais ou elétricos).
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, os sintomas incluem febre alta (39°C a 40°C) com duração de dois a sete dias, dor atrás dos olhos, dor de cabeça, dor no corpo, dor nas articulações, mal-estar geral, náusea, vômito, diarreia, manchas vermelhas na pele com ou sem coceira.
Os sinais podem agravar, ocasionando o extravasamento de plasma e/ou hemorragias que podem levar a pessoa ao choque grave e morte.
Além disso, fatores de risco individuais, como idade, etnicidade e comorbidades podem determinar a gravidade da doença. Também, se a pessoa já teve dengue, ao ter a doença novamente, as chances de gravidade aumentam.
As defesas do organismo (anticorpos) da pessoa reagem ao sorotipo do vírus da dengue com o qual foram infectados e não protegem para os demais, ou seja, a imunidade é permanente somente para um mesmo sorotipo viral.
Ao apresentar os sintomas, a pessoa deve procurar um serviço de saúde, ingerir muita água e evitar uso de medicamentos por conta própria.