O Agroecologia 2024, evento múltiplo, realizado pela Embrapa Clima Temperado, em parceria com a extensão rural e outras organizações, nos dias 4, 5 e 6 de dezembro, na Estação Experimental Cascata (EEC), no interior de Pelotas, apresentou toda a diversidade de um sistema que vem conquistando um espaço cada vez maior na região, não apenas nas propriedades rurais, mas também entre as instituições, como as universidades e institutos federais.
De acordo com o coordenador técnico da EEC, João Carlos Costa Gomes, o Agroecologia tem uma composição com estações tecnológicas, feiras de produtos e de máquinas, espaços para troca de sementes, cultura, ciranda agroecológica e cisternas para mostrar o trabalho da unidade, com quase 25 anos de atividades em agroecologia, receber as pessoas envolvidas com o tema, dialogar com elas e identificar pontos específicos de interesse. “A pesquisa não é feita para os agricultores, mas com eles. O método da agroecologia é participativo em que ouvimos os atores sociais, identificamos suas demandas para trabalhar em conjunto e melhor atendê-los”, ressaltou Gomes.
Segundo ele, este é o grande desafio do grupo que trabalha com agroecologia e, felizmente, tem constatado, nos últimos anos, que este grupo só aumenta, tanto dentro da Embrapa quanto na extensão rural, organizações de agricultores, ONGs, universidades e institutos federais, que têm reservado espaço cada vez maior à agroecologia. “Nós somos uma estação experimental considerada a experiência mais bem acabada neste tema dentro do sistema Embrapa”, declarou.
Durante os três dias, foi realizado o 19º Dia de Campo da Agroecologia, com quatro grandes estações: uma delas dedicada especificamente à questão dos insumos. “Quem quer manejar sistemas de produção agroecológicos necessita de uma rota de insumos diferente da agricultura convencional, com biofertilizantes, fitoprotetores, pó de rocha, todo este arsenal de conhecimentos que diminui a dependência dos agricultores de rotas tecnológicas sobre as quais não se tem domínio e controle”, disse.
Outra estação tratou dos serviços ecossistêmicos, que é aquilo que a natureza nos brinda, em torno de recursos hídricos, mata, fauna, flora e polinizadores. “Às vezes, temos um tratamento equivocado destes recursos naturais, o que causa problemas de desmatamento, compactação de solo, sanilização, erosão e outros”, explicou.
Uma terceira estação tratou da agrosociobiodiversidade, que é a valorização do papel dos guardiões de sementes na preservação de espécies. “Desde que o homem deixou de ser nômade, após comer uma fruta ou outro alimento e jogar o caroço na terra, ele percebeu que germinou e essa era uma estratégia para multiplicar estes alimentos”, salientou.
Segundo o pesquisador, existe hoje uma perda genética e de biodiversidade muito grande entre os alimentos que se consome diariamente, desde o café da manhã e almoço, chegando próximo a 20 alimentos ou menos. “No café da manhã tem o trigo, o leite, café, ovo e suco, no máximo cinco ou seis, e no almoço outros seis no máximo, chegando aos 20 nas outras refeições”, afirmou.
Gomes destaca ainda que esta revalorização da biodiversidade para aumentar a resiliência dos sistemas agroalimentares face às mudanças climáticas é um dos papéis da agroecologia e da preservação desta biodiversidade.
Uma quarta estação tratou dos sistemas biodiversos de produção, que ao contrário dos sistemas de monocultivo, preservam a biodiversidade entre plantas, insetos benéficos, polinizadores e aqueles que fazem controle biológico sobre os insetos-praga. “Quando se tem sistema de monocultivo, o simples uso de agroquímicos acaba eliminando tudo isso que a natureza nos oferece”, explicou.
Outro espaço importante do evento foi a 3ª Feira da Agroecologia, um espaço multicultural que possibilitou aos agricultores levarem sua produção para vender e mostrar a qualidade, bem como aos indígenas e quilombolas mostrarem sua arte e artesanato a fim de obter renda e mostrar ao público todas as estratégias. “Dentro da feira, há espaço para a comercialização de insumos em que as organizações de agricultores que produzem insumos, sementes crioulas, bioinsumos, fertilizantes orgânicos possam comercializá-los”, diz. Ainda no evento, artistas que cantam a natureza, esta relação do ser humano com o lugar onde vive e a sua cultura, também puderam se apresentar.
Neste ano, as máquinas, muitas delas desenvolvidas pelos próprios agricultores, também tiveram lugar para exposição. Segundo Gomes, os produtores reclamam muito sobre a falta de mão de obra no campo, evasão dos jovens que saem em busca de outras oportunidades, envelhecimento da população rural, entre outras. “É preciso ter estratégias que minimizem o peso do trabalho e facilite a vida dos agricultores”, ressaltou.
A 2ª Ciranda Agroecológica, destinada a crianças com idades entre sete e 12 anos, foi outro espaço disputado durante o evento. Na oportunidade, foi mostrado para a criançada, entre outras atividades, a diferença das cores dos alimentos e sua relação com a saúde. Os estudantes puderam manusear insetos, fazer pinturas com solos de cores diferentes e transformá-los em tintas. Somente no primeiro dia, cerca de 200 crianças participaram das atividades e de 500 a 600 pessoas passaram pelo evento. “Achamos que se queremos quebrar um paradigma é preciso começar na base”, pontuou.
A maioria das crianças em idade escolar já fizeram a clássica experiência do grão de feijão que germina no algodão com água. “Isto é uma exposição ao processo científico”, afirmou o coordenador técnico.
Gomes destaca ainda a inauguração de uma cisterna de programa do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) para oferecer acesso à água àquelas famílias que têm dificuldades de acessá-la, principalmente em época de crise climática. “Cabe lembrar que no pampa, no ano passado, tivemos uma seca que tornou ainda mais difícil a situação dos povos vulneráveis, como quilombolas, assentados da reforma agrária, agricultores pobres e população indígena”, ressaltou.
O coordenador técnico explica que esta cisterna está dentro de um programa do MPA chamado “Vem viver o pampa”, do qual a Embrapa é parceira e trabalha com 500 famílias mostrando algumas tecnologias que podem facilitar a vida dos agricultores: sistemas biodiversos e agroflorestais, quintais orgânicos de frutas, fossa séptica biodigestor, clorador para melhorar a qualidade da água, plantas recuperadoras de solo, plantas que incorporam matéria orgânica no solo e todo um conjunto de tecnologias para facilitar os processos.
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Créditos: Luciara Schneid/JTR