O dia 25 de julho é significativo para muitas mulheres que têm feito da área do transporte sua escolha profissional. Esse é o caso de Scharlene Souza, de 40 anos, motorista escolar de Pelotas que já trabalha na área há mais de cinco anos. Para ela, o transporte tornou-se a principal atividade, pois, independente de outras ocupações desempenhadas ao longo da vida – como corretora de imóveis e gerente de restaurante – dirigir para o público infantil é a que gera mais prazer.
“Me acertei super bem com a profissão. Eu amo minha profissão. Hoje, eu não me vejo fazendo outra coisa. Não me vejo fora do escolar”, afirma a motorista que, junto ao marido, possui ainda uma empresa de transporte de turismo e fretamento.
Mais conhecida como Xaxá, ingressou na profissão quando conheceu o marido, que já trabalhava no ramo escolar – o qual, com o passar do tempo, passou a ser acompanhado por ela no processo de buscar os alunos do turno da tarde. O cansaço gerado pelo emprego anterior aliado ao incentivo por parte de seu companheiro e o surgimento da oportunidade de adquirir uma van motivou o nascimento do transporte “Tia Xáxa”.
Minoria no transporte e preconceito
Atualmente, a presença de mulheres no setor do transporte, em comparação com os homens, é pequena – apenas 17% em um âmbito que contabiliza 2,3 milhões de trabalhadores, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Para Scharlene essa é uma realidade diária. Ela diz não presenciar, principalmente na área do turismo, mulheres na direção. “No turismo não presenciei nenhuma mulher dirigindo ônibus ou van. Até quando eu faço turismo o pessoal estranha bastante. Tu chega num pedágio ou tu chega para pegar uma excursão, é estranho que seja uma mulher”, conta ela.
Situações que evidenciam a estranheza e o preconceito de outros em relação à participação das mulheres no transporte são comuns. Para Xaxá, esse cenário foi e ainda é corriqueiro.
“Quando eu fui aumentar minha categoria da carteira, era só eu de mulher. Tinha 10 homens para fazer a prova. Quando eu cheguei lá, eles ficaram me olhando dos pés a cabeça. Quando o instrutor perguntou quem queria ser a primeira, eu disse que seria. Um cutucou o outro e disse: ‘Já vai rodar. Essa não sai nem da baliza’. Eu acho que o homem se sente muito superior à mulher. Acho que tem bastante preconceito no ramo do transporte”, conta ela, exemplificando a questão ao citar situações como quando as mulheres vão estacionar e os homens tendem a ficar observando, esperando um erro ou deslize a fim de comentar sobre. “Eles não precisam dizer uma palavra, mas só no olhar deles tu já vê o preconceito”, pontua.
Como medida de combate aos números que evidenciam a baixa presença da mulher no transporte, bem como ao preconceito, Xaxá cita o posicionamento das próprias empresas no que se refere a abrir espaço para esse público.
“Tu não vê, pelo menos eu nunca vi, uma mulher motorista de ônibus coletivo. Não conheço. Eu não sei o porquê que as empresas não contratam mulheres. Raramente tu vai ver uma mulher dirigindo uma caçamba dessas de areia. Eu vi só uma vez isso. Eu acho que além das mulheres já irem com medo do preconceito e não aderirem a esse ramo falta as empresas terem uma política de contratar mulheres”, destaca.
Influência da atuação feminina na área
Essa é uma realidade que está sendo, gradativamente, modificada. Mulheres tais quais Scharlene são exemplos de como a presença no setor do transporte é transformadora. A motorista aponta que a convivência com as crianças diariamente gera oportunidade de esclarecimento em relação ao assunto, o que pode, inclusive, colaborar para uma geração menos preconceituosa. Isso, por sua vez, acarreta novas perspectivas no que tange o setor.
“Eles acham o máximo. Tem duas meninas que querem ser ‘tia da vã’ igual a tia Xáxá quando crescer. Eles adoram ter uma mulher dirigindo”, lembra.