O Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência e Altas Habilidades de Pelotas está realizando a 25ª Semana da Pessoa com Deficiência (PcD). O evento acontece entre os dias 21 e 28 de agosto, enfatizando a necessidade de estruturas públicas e privadas mais inclusivas e acessíveis a toda população. Apesar dos avanços, as pessoas com deficiência ainda enfrentam muitos desafios diários e precisam encontrar meios de manter sua rotina, mesmo com contratempos.
A abertura da programação da começou na tarde de quarta-feira (21), na Associação de Praças Policiais e Bombeiros Militares do RS Sul (Aspra-RS), localizada na rua Dom Pedro II, nº 1.057, no centro de Pelotas. Com o slogan “Reconstruindo o RS com acessibilidade e inclusão”, os sete dias de programação também reforçam a importância da união dos gaúchos nesta causa, principalmente após os fenômenos climáticos que atingiram o Estado em maio deste ano.
Uma pessoa com deficiência é alguém que tem um impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial que pode dificultar sua participação na sociedade em igualdade de condições com as outras pessoas. Estes impedimentos podem estar ligados a questões urbanísticas, arquitetônicas, de transportes, de comunicações, entre outros. Os problemas relacionados à falta de inclusão e acessibilidade são antigos, muitas estruturas públicas e privadas ainda não estão preparadas para receber essa população. Somado a isso, o preconceito quanto às capacidades de PcDs é outro fator que resulta em vários desafios diários.
Falta de acessibilidade a pessoas com dificuldade mobilidade
Pierre Carvalho Gravato, 40 anos, perdeu a capacidade de andar há seis anos, devido a uma mielite transversa – uma inflamação de substâncias ou segmentos da medula espinhal. Ao longo de sua vida, trabalhou como garçom, vendedor, autônomo e outras várias profissões. Porém, depois da infecção, veio o desemprego. Mesmo prestando entrevistas em várias empresas, Gravato continua sem serviço. “Eu passei em uma entrevista e me disseram que o transporte tinha que ser feito com micro-ônibus da empresa, mas não tinha rampa. Tu acha que botariam uma rampa para mim?”, questiona.
Segundo ele, esses problemas também estão presentes no transporte público. Em Pelotas, os ônibus com acessibilidade passam em horários específicos. Porém, Gravato conta que muitas vezes precisa ficar horas esperando, pois esses veículos adaptados estão estragados ou em manutenção. “Como esses dias, o ônibus estava estragado, nos próximos dois dias, estragado de novo. E aí? Três dias atrasado. A culpa é minha? Não, dos ônibus. Mas o patrão não quer saber”, relata. “Eu tenho a minha rotina. Muito peguei ônibus, sabe? Sempre trabalhei. Não estou pedindo nada para ninguém. Eu só quero trabalhar”, completa, já emocionado.
Felizmente, Gravato está na lista de espera de uma vaga de caixa em um novo estabelecimento de uma franquia de supermercados que abrirá na cidade. “Pedi uma entrevista para o gerente e ele aceitou. Agora, ele está tentando conseguir a vaga para mim”, conta com um sorriso no rosto.
Persistência e superação através do esporte
Entre tantas histórias, há também a de Diego Ferreira Lemos, formado em Direito e atleta paralímpico. Lemos perdeu completamente a visão devido a um glaucoma congênito – uma doença rara que pode causar pressão alta nos olhos e levar à cegueira.
Ele conta que, após a doença, acabou caindo em uma depressão profunda. “Não acreditava mais na vida, mas Deus me deu pessoas abençoadas, um deles é meu oftamologista, minha esposa, Clarinei, e meus pais, que me incentivaram a voltar à vida através do esporte”, relembra. Além disso, hoje ele tem o amor e apoio de seus dois filhos: Guilherme, de 10 anos, e a Gabriele, de seis.
Assim, Lemos entrou com tudo no esporte, começando a correr e vencendo sua primeira São Silvestre para pessoas com deficiência, em 2001. Depois, começou a competir em nível municipal, estadual e nacional. Também passou a praticar futebol para cegos, jiu-jitsu e judô. “O esporte pra mim é tudo, é vida, é inclusão”, acrescenta. Com a aproximação das Paraolimpíadas de Paris, o atleta relembra que o esporte, além de estar diretamente ligado a disciplina e a saúde, também pode ser uma profissão”, explica.
Além de atleta e advogado, Lemos também realiza palestras em escolas, universidade e projetos sociais, abordando os temas de preconceito, igualdade, discriminação, bullying, inclusão social e superação. Realiza ainda uma atividade em que coloca vendas nos olhos de alguns participantes e determina outros como guias, fazendo uma pequena simulação do cotidiano sem a visão. “Assim, essa pessoa pode ser ajudada e também saber ser ajudada. Eu cito que todo mundo é igual e temos que nos pôr no lugar do outro. Pra vermos que a nossa vida é boa, mesmo que algumas vezes reclamamos de barriga cheia”, explica. “E a deficiência está na cabeça de quem? Todos nós somos muito eficientes, basta querer”, completa.
Instituição auxilia pessoas com deficiência visual
No município, há uma instituição que presta serviços gratuitos a pessoas com deficiência visual, cegos e com visão subnormal, a Associação Escola Louis Braille. Com 72 anos atendendo a Princesa do Sul e mais 27 municípios da região, a instituição possui três pilares de atendimento, sendo eles: reabilitação, educação e inclusão escolar.
Presidida por Dilmar Rodrigues há 20 anos, a associação possui turmas de pré-escola ao quinto ano, além de atendimentos especializados, como reforço em Matemática, Língua Portuguesa, sistema Braille, soluções e acessibilidade digital, atendimento psicopedagógico e psicomotor, artes sensoriais, teatro, coral, audioteca, instrumentos musicais, goalball e atletismo. Também realiza assessoramento às escolas de Educação Básica da região sul, promovendo a formação de professores na área da deficiência visual. Ainda, disponibiliza atendimentos com oftalmologistas, assistentes sociais e psicólogos, além de orientações sobre mobilidade.
Atualmente, a escola tem 151 alunos matriculados. Quanto ao Centro de Reabilitação Visual (CRV), desde 2012, a instituição já atendeu 2.200 pessoas. Para atendimento no CRV, o paciente deve solicitar uma consulta no Posto de Saúde mais próximo.
A instituição possui duas entradas, uma pela rua Padre Felício, em frente ao Hospital Miguel Piltcher, e outra pela Andrade Neves, nº 3084, a qual está passando por reformas. As obras devem ampliar o espaço físico em 350 metros quadrados e tem previsão de entrega para dezembro de 2025. Para captação de recursos para mão de obra, a associação possui dois projetos aprovados no programa de destinação do imposto de renda, um no Conselho da Criança e Adolescente e outro no Conselho do Idoso.
Programação:
Sexta-feira (23/08)
14h – Shopping – Treinos paradesportivos; Vôlei Sentado; Goalboall; Educação Física adaptada; Aula Funcional para PcDs
Sábado (24/08) – Shopping
11h – Cerimônia abertura
12h – Apresentação das modalidades Paradesportivas – Vôlei Sentado; Slalom em Cadeira de Rodas; Paratletismo; Futebol de cegos; Bocha paralímpica; Lutas; Paracanoagem
12h30 – Associação dos Deficientes físicos de Pelotas (Asdefipel): Exibição do Programa Especial alusivo às Pessoas Deficientes pela TVC Pelotas
Domingo (25/08)
14h – Apae: Mateada com apresentação da Capoeira e Musical dos Alunos Local – Parque da Baronesa
19h – Fraternidade Cristã (FCD): Celebração de Missa da Semana da Pessoa com Deficiência – Paróquia Nossa Senhora da Luz, rua Padre Anchieta, nº 3.553 – A
Terça-feira (27/08)
8h15 – Associação dos Deficientes Físicos de Pelotas (Asdefipel): Palestra “Inclusão Social”, ministrada pelo presidente da Associação, Carlos Aristides Rodrigues – Colégio Municipal Pelotense, rua Marcilio Dias, nº 1.597
Quarta-feira (28/08)
Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (FGTAS)/ Sistema Nacional de Emprego (Sine): atividades para vagas de emprego e orientações sobre o mercado de trabalho para PcDs; programação de embelezamento em parceria com o Senac – rua General Osório, nº 602
Quarta-feira (28/08) – Fechamento da Semana
14h às 17h – Baile de Encerramento das Instituições – 2º Baile dos PcDs. Música eletrônica – Associação de Praças Policiais e Bombeiros Militares do Estado do Rio Grande do Sul–ASPRA-RS, rua Dom Pedro II, nº 1.057