
De horizontes desertos a amizades que abrigam, Nauro Júnior, aos 55 anos, é natural de Novo Hamburgo, e apesar de manter residência junto da família em uma região mais afastada de Pelotas, suas raízes percorrem as estradas formando a grande história de sua vida, a chamada: Expedição FuscAmérica.
Jornalista, fotógrafo e escritor, Nauro transmite em sua história a composição de tudo o que seus olhos viram do mundo – por trás das lentes de uma câmera ou não, em uma lição de que toda vida tem um fim e não é válido vivê-la sem experimentar a máxima de sentimentos, texturas e sons que ela pode nos permitir.
Como o Extrangero de Gadú, em suas obras – ao todo seis em páginas de livro, Nauro nos mostra sua vida em duas metades, mas também seu amor inteiro encontrado na esposa, a jornalista Gabriela Mazza e na filha Sofia, que recentemente realizou o trajeto até Brasília junto do pai, a bordo do Segundinho, o famoso Fusca 1968 que protagoniza as aventuras.
O jornalista destaca que em sua trajetória traz como algo essencial as pessoas que conhece pelo caminho, que se tornam amigos e, por vezes, são as pessoas responsáveis por fornecer abrigo durante as paradas da aventura. “Eu sou um garimpeiro de histórias, como fotógrafo eu tô sempre buscando, como jornalista eu tô sempre garimpando histórias e conhecendo pessoas, e trazendo um pouco delas e deixando um pouco de mim com elas”, diz.
Em uma missão que cruza os limites impostos por fronteiras, a história do viajante e de seu fusca teve início em meados de 2010, quando a família precisou de um segundo carro, mas o dinheiro era curto. Por isso, o viajante acabou trocando seu iPhone (à época o último lançado) pelo Fusca 68.
“Quando tu chega com um carro como o Fusca, ou qualquer outro carro que seja um carro humilde, as pessoas se identificam e te acolhem. Eu morei oito dias na casa de um russo em São Petersburgo, eu fiquei na casa de gente pela Rússia inteira sem falar o idioma deles e eles me recebiam porque se identificavam comigo por causa da simplicidade do meu projeto, pela forma com que eu me relacionava com o mundo, pelo sacrifício que eu fiz para conquistar aquele sonho de chegar naquele lugar”.
Em seu relato, o viajante acrescenta que a percepção de trocar um celular de última geração por um carro ultrapassado, causa conflito nas pessoas que desde cedo são ensinadas a valorizar o status e, por vezes, acabam ignorando e perdendo o melhor da vida para isso. “Quando a gente é autêntico e é simples, o mundo se abre, o mundo nos acolhe. E o maior ensinamento foi que eu não viajo em busca de estrada nem de km. Eu viajo em busca de pessoas, de culturas e de histórias”, conclui.
Através de uma jornada que muitos consideram solitária, Nauro prova viver justamente o contrário, pois é apenas ao lado da família que a estrada se mantém. “Eu nunca saí de casa sem que houvesse um consentimento de todo mundo. É um projeto de família. Mesmo quando a Gabi não vai, ela fica na base, a gente chama a Equipe Terra, sempre organizando tudo”, revela.
A família percorreu a Rússia durante a Copa do Mundo de 2022 e também embarcou em uma aventura de cruzada pela Europa após o fim dos jogos. Para 2026, a Expedição FuscAmérica coloca novamente a Copa do Mundo em seus planos, pretendendo, desta vez, realizar todo o trajeto por terra. “Na Rússia nós tivemos que colocar o Fusca num navio porque não tinha como cruzar o oceano, nessa aí nós iremos rodando até o México, Estados Unidos e Canadá. Vão ser três países e nós vamos percorrer os três países”, revela.
Nos planos do viajante, há ainda a produção de um documentário com relatos da viagem e as histórias encontradas e colecionadas pelo caminho. “A gente ainda vai ver como vai financiar isso porque a gente quer fazer um documentário sobre a viagem, então a gente precisa buscar fundo para isso porque já queremos estar com quase tudo pronto quando a viagem terminar”, destaca.
Atualmente, na expedição, Nauro já percorreu 16 países, tendo como previsão atingir o recorde de 30 até 2026, consolidando-se como o Fusca que mais viajou pelo mundo.
“Quando eu entrei no meu Fusca, de alguma forma eu me reconectei com alguém que eu não via desde a minha infância, que era eu mesmo. Eu não me enxergava mais, eu me enxergava como alguém ambicioso, alguém vaidoso, e quando eu entrei no Fusca eu me enxerguei como aquele menino livre que eu era quando eu era pequeno e andava de Fusca com o meu pai”, finaliza.