Abertura de Casa de Passagem no Centro de Pelotas gera preocupação entre moradores

Os residentes, muitos com mais de 10 anos de moradia no local, relatam que a convivência com pessoas em situação de rua nas imediações trouxe insegurança e transtornos. (Foto: Lylian Santos/JTR)

O descontentamento de moradores da rua Senador Mendonça, no bairro Centro, em Pelotas, veio à tona após a inauguração da Casa de Passagem em dezembro do ano passado. Os residentes, muitos com mais de 10 anos de moradia no local, relatam que a convivência com pessoas em situação de rua nas imediações trouxe insegurança e transtornos. “Não sou contra o trabalho da instituição, mas as pessoas que ficam na rua têm causado problemas graves”, desabafou um morador. Todos os entrevistados ouvidos pela reportagem do JTR preferiram não se identificar por medo de represálias.

Mudança de perfil no local 

Anteriormente, o espaço era ocupado por um lar de idosos, descrito pelos moradores como um ambiente pacífico, com socialização frequente nos fins de semana. Contudo, desde a abertura da Casa de Passagem, o cenário mudou. Relatos apontam práticas como consumo de álcool e drogas, relações sexuais nas calçadas e atos de violência. “Estamos presos em casa. Não consigo mais passear com meu cachorro”, afirmou outra residente, destacando que o aumento da violência contrasta com o discurso da então prefeita Paula Mascarenhas (PSDB) no ato de inauguração.

Impacto no comércio e desvalorização da área 

Os comerciantes locais também sentem os efeitos. Um empresário, que desistiu de expandir seu negócio, mencionou o descarte de preservativos em frente ao estabelecimento e o mau cheiro constante. “Trabalho de portas fechadas. Antes de abrirem a Casa, deveria ter sido feito um estudo sobre a área”, comentou.

Além disso, a desvalorização imobiliária preocupa os moradores, que são idosos, em sua maioria, com média de 70 a 80 anos. Alguns já colocaram suas casas à venda, temendo ainda mais prejuízos.

Perspectiva da Casa de Passagem

O JTR também conversou com Andreia Fernandes, assistente social da instituição, que afirmou haver leitos disponíveis para até 80 pessoas por dia. Contudo, o consumo de drogas e bebidas alcoólicas é proibido no interior da casa, o que leva algumas pessoas a permanecerem nas ruas. “Tentamos ajudar ao máximo, mas não podemos obrigar ninguém a ficar aqui. Muitos preferem a liberdade de estar do lado de fora”, explicou.

A Casa de Passagem funciona diariamente a partir das 19h, oferecendo abrigo, alimentação, banho e socialização. Durante o dia, o Centro POP que divide o espaço com a Casa, dispõe de assistência e alimentação para os que procuram o local.

A secretária de Assistência Social de Pelotas, Raquel Nebel, afirmou que poderá ser realizado um trabalho de conscientização social com os assistidos para que não haja importunação dos moradores da região, mas que não podem obrigá-los a permanecer no local. “A nossa secretaria recebe constantemente reclamações e denúncias sobre pessoas que estão em calçadas, próximas a prédios públicos ou privados e a comunidade sempre quer que a gente aja para remover as pessoas”, contou a assistente social.

“Quando a Casa de Passagem estava em outro endereço, já havia outras reclamações, conseguimos fazer um contrato para este novo local, conseguimos a reforma, mas tínhamos uma ideia de que a comunidade entorno do abrigo poderia ter algumas reinvindicações, pois onde estão os moradores em situação de rua tem um certo conflito, isso em qualquer lugar”, concluiu Raquel.

Segundo a Lei Municipal nº 6.638, de 3 de outubro de 2018, é proibido a retirada e recolhimento dos utensílios e demais pertences, como cobertores, colchões e outros, das pessoas em situação de rua.

Além disso, em agosto do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para confirmar a decisão do ministro Alexandre de Moraes que proibiu, em liminar, que os Estados, o Distrito Federal e os municípios façam o recolhimento forçado de bens e pertences, assim como a remoção e o transporte compulsório de pessoas em situação de rua.

Soluções propostas pelos moradores 

Para os residentes do entorno, a solução não está na remoção da Casa de Passagem, no entanto, em uma maior organização. Os moradores sugerem um trabalho mais efetivo para evitar que pessoas barradas na instituição fiquem nas calçadas. “Não somos contra o serviço, mas é preciso resolver essa convivência que tem nos prejudicado”, ressaltou um morador. “Além disso, não adianta ligar nem para a Polícia Civil nem para a Brigada Militar, a única que nos atende é a Guarda Municipal, que muitas vezes não resolve”, concluiu.

A situação evidencia o desafio de equilibrar assistência social e qualidade de vida para os moradores da região, exigindo diálogo e ações conjuntas entre autoridades, instituições e a comunidade.

8 comentários

  1. Sou o enrique fundador do sopao de rua de Pelotas RS 11anos em atividades na cidade de Pelotas. Sempre haverá uma solução para um problema, em Pelotas não é só os moradores de rua .a cultura pelotense já vem desde 1888.

  2. Ao invés de implantar casa de acolhimento se planeje para emprego em Pelotas para esses cidadão voltar a ter dignidade essas pessoas terem esperança que eles podem sim se recuperar. Pelotas sendo pelotas não anda pra frente. Sempre com a desculpa que eles não querem e sim sua liberdade. E óbvio quem não gosta de ser livre isso todos merecem Liberdade por isso é interessante mudar a estratégia para empregos remuneração.

  3. A solução é simples basta o órgão responsável enviar segurança , serviço militar para fazerem ronda diariamente no local e não permitir ninguém do lado de fora , e aqueles que preferir ficar fora do estabelecimento que haja um aviso para ambos não permanecer nas proximidades, seguirem seus destinos. Assim a polícia manterá a comunidade segura para nossos jovens e idosos.

  4. Eu moro próxima do local, cerca de 150 metros desta instituição. Meus sogros idosos moram na esquina. Porém a região sempre teve preservativos espalhados nas calçadas devido ser zona de prostituição, assaltos e outras coisas. Durante anos, quase em frente a instituição tinha um ponto de venda de drogas. Meu sogro foi roubado em plena luz do dia. Mas “agora” que reclamam de problemas?

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