
O Grêmio Esportivo Brasil, de Pelotas, é uma referência futebolística em qualquer canto do território brasileiro. O Xavante ou Rubro-Negro da Princesa do Sul faz parte da história desportiva que desfila em campos no real e no imaginário do seu fiel e fanático torcedor, ou simplesmente simpatizante. E a trajetória rubro-negra, iniciada no ano 1911, completa neste sábado (7) 113 anos de momentos diversos, entre altos e baixos na sua história e na paixão dos rubro-negros de muitas gerações e querências.
Não há como falar em Brasil de Pelotas sem lembrar de fatos que, com suas cores, marcaram o contexto do futebol do Sul do Rio Grande do Sul e do país pela emoção, paixão, alegrias e sofrimentos vividos dentro e fora do Estádio Bento Freitas e outras praças esportivas. Não é apenas o clube do povo, batizado de Xavante em um pós-clássico BraPel, em 1946, quando de uma épica virada no placar: de uma derrota de 3 a 1 para uma vitória por 5 a 3 com menos um jogador e na casa do Lobo. Ou da vitória sobre a Seleção do Uruguai por 2 a 1, em 1950, no Estádio Centenário, em Montevidéu. A propósito, nesse mesmo ano, a seleção uruguaia seria campeã do Mundo, no Brasil, ao derrotar a seleção Brasileira por 2 a 1, no Maracanã.
Ainda na década de 1950, há memoráveis registros de uma viagem rubro-negra pelas Américas do Sul e Central, com 28 amistosos e festivos confrontos, com 16 vitórias, seis empates e seis derrotas. Dentre as façanhas relevantes do rubro-negro consta um título de Campeão Gaúcho, em 1919.
Sobre façanhas rubro-negras não há como esquecer uma excursão até Estrela, em 1977, com cerca de 100 ônibus mais veículos de passeio que saíram de Pelotas – algo comparado às grandes “romarias religiosas”. É de arrepiar as lembranças rubro-negras, segundo o presidente da época, Cláudio de Andrea, que relembra as façanhas do Xavante no futebol de salão do Rio Grande do Sul na década de 1960.

“Também no ano 1977, nos habilitamos a disputar o Campeonato Nacional ao derrotar o arquirrival (EC Pelotas) no mais importante Bra-Pel da história – o BraPel do Seletivo – e ainda disputar a Copa Governador como finalista”, conta Andrea, orgulhoso, lembrando outra façanha no Estádio Bento Freitas. “Em 1979, o Estádio recebeu mais de 23 mil pessoas em um jogo contra o Grêmio, no qual a tela foi derrubada devido a um falso alarme que a arquibancada estava caindo”, recorda, contando outras proezas que se seguiram na década de 1980, quando o Brasil conquistou uma histórica vaga às semifinais do Campeonato Brasileiro com uma vitória sobre o Flamengo por 2 a 0, no Bento Freitas. Em 1985, o Xavante terminou a maior competição nacional entre os três principais clubes da disputa. O Coritiba acabou campeão e o Bangu, vice.
“O ano 1985 foi um ano mágico para o Grêmio Esportivo Brasil, com a sequência de um trabalho diretivo iniciado em 1977”, lembra Rogério Moreira, presidente da época da façanha inesquecível. Ele recorda de todas as glórias e conquistas em meio às dificuldades de um tempo difícil para os clubes do interior. Está na memória e história dos xavantes.
A história do futebol do Brasil é escrita de fatos como títulos conquistados, perdidos, rebaixamentos lamentados e acessos de muitas considerações, como a saída da Segunda Divisão do futebol gaúcho no ano 2013 até chegar à Série B do Campeonato Brasileiro, na qual desfilou entre os anos 2016 e 2021.
Tragédia rubro-negra
O pior rebaixamento da história xavante começou fora dos gramados, em uma curva da BR-392, entre Santa Cruz do Sul e Pelotas, no ano 2009, mais precisamente na noite do dia 15 de janeiro, quando a delegação rubro-negra voltava da Capital do Fumo após o último amistoso de preparação para a estreia no Gauchão daquele ano. A comemoração da vitória amistosa de 1 a 0 sobre o Galo de Santa Cruz, com gol de Cláudio Milar, acabou com a morte dos ídolos Milar, atacante, Régis, zagueiro, e do treinador de goleiros, Giovani Guimarães, além de diversos feridos e a dor que se espalhou pela vida xavante.
O time, que estava pronto para estrear na competição estadual, precisou ser refeito às pressas, desde o treinador Armando Desessard, também lesionado. E não deu certo: a caminhada no Gauchão de 2009, com Cláudio Duarte no comando técnico, começou em fevereiro com empate em 3 a 3 contra o próprio Santa Cruz, na Baixada, marcando o início de outra queda, agora em campo. A má fase foi recuperada quatro anos depois, em 2013, com o retorno à Primeira Divisão e início de uma elevação no cenário esportivo gaúcho e brasileiro, sob a batuta do maestro Rogério Zimmermann, que tirou o time da famigerada Segunda Divisão estadual e colocou no segundo nível do futebol brasileiro.
O acidente ainda dói em todos os xavantes, mais do que qualquer rebaixamento de divisão. O presidente da época, Helder Lopes, não estava na delegação acidentada, mas recebeu e precisou reajustar o triste e dolorido impacto.
“Tivemos de driblar dores e dificuldades nunca imaginadas. A gente programou um ano que tinha tudo para dar muito certo e, de repente, acordamos no meio de uma tragédia, com a perda de vidas. Inexplicável! E o clube tinha de seguir sua vida, havia compromissos com as pessoas que ficaram, não havia como jogar tudo para cima e partir para outra situação, havia muitas pessoas que precisavam de nós para seguirem suas vidas. E o Brasil precisava seguir para cumprirmos os compromissos de antes da tragédia. É claro que houve falhas, mas não faltou apoio às pessoas que dependiam do Brasil para se recuperarem, e o fizemos da melhor forma possível”, garante o ex-gestor, que esteve no comando do clube de 2007 a 2010.

Momento Xavante
O ano de 2024 ainda não terminou para a atual gestão do Brasil. O time deixou a Série D do Campeonato Brasileiro com a garantia de voltar à disputa em 2025, após disputar o Gauchão. Ou seja, no próximo ano, o clube vai estar na primeira e quarta divisões do futebol gaúcho e brasileiro, respectivamente.
“Mesmo em meio a muitas dificuldades, podemos dizer que tivemos um ano positivo. Conseguimos manter o clube nas Séries A do Gauchão e próxima Série D do Campeonato Brasileiro a partir de uma proposta abraçada pelos jogadores e pessoas envolvidas com o
Grêmio Esportivo Brasil”, resumiu Gonzalo Russomano, atual presidente do Brasil, comemorando a permanência em um patamar destacado no cenário futebolístico gaúcho e brasileiro.
O atual presidente xavante é neto de um ex-gestor por duas vezes, Clóvis Russomano, atualmente com 99 anos. Também dentre nomes destacados que passaram pelo futebol do Brasil estão dois técnicos que também comandaram a Seleção Brasileira: Luiz Felipe Scolari (1985), campeão mundial em 2002, e Mano Menezes, que treinou o Brasil em 2003.
Galeria Xavante
Dentre muitas, as principais conquistas rubro-negras nos seus 113 anos incluem o título gaúcho de 1919 e participações em campeonatos brasileiros da Série A em 1978, 1979, 1984 e 1985, além de Brasileiro da Série C em 1995, 1999, 2001, 2003, 2006, 2011, 2015 e 2022, mais Série B, em 1980, 1986 e 2000 e de 2016 a 2021.
O Brasil de Pelotas é uma poesia em vermelho e preto, uma eterna resenha em prosa e verso na sua caminhada esportiva de 113 anos por incontáveis rincões no contexto futebolístico dos brasileiros.
Rei das quadras
A história do Grêmio Esportivo Brasil não registra apenas o futebol pelos gramados da paixão esportiva. Na década de 1960, o rubronegro teve também uma passagem relevante no futebol da bola menor, na época futebol de salão. Sim. Foi nas quadras do Rio Grande do Sul que um timaço em vermelho e preto conquistou o pentacampeonato estadual da modalidade. Nos anos de 1963, 1966, 1967, 1968 e 1969 não teve para ninguém: o Brasil mandou nas quadras gaúchas.
Perna mecânica
No episódio de 1979, Bento Freitas lotado com mais de 20 mil pessoas para Brasil x Grêmio, um fato do tipo hilário marcou a quase tragédia: em meio à disparada pela multidão que estava na arquibancada em direção ao gramado, eis que um cidadão carregava sua postiça perna direita, perdida no tumulto.
