Não é novidade que crianças e adolescentes representam expressiva parcela de consumidores da tecnologia, atualmente. Pensando em transcender este aspecto e transformá-los em protagonistas da busca por conhecimento e em criadores de conteúdo, a Prefeitura aposta nos Clubes de Computação Criativa, que acontecem em escolas municipais. O projeto dá um novo sentido aos laboratórios de informática com aulas de robótica, programação e eletrônica, que desenvolvem diversas habilidades, como raciocínio lógico, criatividade, sociabilidade, empatia e curiosidade intelectual.
A capacidade de superar os desafios, resolver problemas e persistir nos objetivos também é apontada como ganhos pela supervisora do Centro Tecnológico Educacional de Pelotas, da Secretaria de Educação e Desporto, Janine Ochoa. “É uma forma lúdica que facilita o aprendizado, trabalha a frustração e reflete no desempenho em outras disciplinas, como matemática. Também dá um bom embasamento para aqueles que desejam seguir profissões nesta área”, acrescenta.
Em julho, a Prefeitura investiu R$ 17 mil na aquisição de 80 kits de microbits – o “coração do robô” – para os educandários das zonas urbana e rural, que mantêm os clubes. Na Emef Luiz Augusto de Assumpçăo, no Balneário dos Prazeres, o encontro semanal com a professora Márcia Krause é compromisso certo na rotina de 12 estudantes, de 9 a 14 anos, do 4º, 5º e 7º ano. O projeto começou na escola no início do ano, mas já coleciona bons resultados e histórias.
“Focamos em atividades ‘mão na massa’, pertinentes ao currículo deles, usando tecnologias de baixo custo e, principalmente, reaproveitando materiais. Os alunos aprendem a fazer animações e jogos (na plataforma Scratch) e, mais do que isso, compreendem a importância de trabalhar coletivamente, ajudando o outro nas dificuldades. É um aprendizado para a vida toda”, resume a professora.
Vivenciando a programação
Uma das recentes tarefas consistiu na elaboração de um jogo relacionado ao Dia do Folclore, celebrado em 22 de agosto, quando os participantes pesquisaram a respeito da cultura brasileira e produziram as obras – o projeto foi batizado de ‘Caça às Lendas’. O grupo também já criou robôs de sucata, aprendeu a fazer ligações de LED e participou de atividades desplugadas. “É uma forma de vivenciar a lógica da programação e aprender algorítimos, sem utilizar o computador”, explica Márcia.
Exemplo disso foi a proposta da professora para os alunos decifrarem uma série de códigos espalhados pela escola, o que entusiasmou o grupo. Érick, 11 anos, é um dos participantes assíduos do clube e conta que aprendeu a programar e aspectos da eletrônica graças às aulas. José, além de utilizar o aprendizado para si, também já empregou o conhecimento para ajudar o pai, em situações diversas no cotidiano.
Tecnologia e sustentabilidade
A ciência também é aliada para ensinar a importância de reciclar, reutilizar, reaproveitar e repensar o consumo. As próprias crianças se engajam para levar materiais e peças antigas de televisões, videogames e DVDs, diz a professora, orgulhosa. O próximo objetivo do clube do Balneário dos Prazeres é construir a ‘Horta Inteligente’ – projeto que será inscrito no Festival de Invenção Criativa, em Porto Alegre, no próximo mês. A ideia é possibilitar a irrigação da horta, por meio de um equipamento feito com placa de Arduino.
Os Clubes de Computação Criativa são coordenados pela Secretaria de Educação e Desporto, pelo grupo de ensino, pesquisa e extensão Comunicação, Cultura e Tecnologias (CoCTec), vinculado à Universidade Federal de Pelotas (UFPel), e pelo Núcleo Pelotas da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa. Tanto a UFPel quanto a Rede dão suporte ao desenvolvimento do conteúdo e ao aprofundamento dos conceitos nas escolas.
Onde os clubes também são realizados?
Nas escolas Wilson Muller, Nestor Crochemore, Dona Maria Joaquina e Waldemar Denzer – na zona rural –, Colégio Pelotense e Mário Meneghetti. A Escola do Sesi também destinou kits de robótica, com peças de Lego, aos educandários municipais.