Educação, simpatia, elegância e conhecimento. Esses são alguns dos atributos exigidos das baronesas da Fenadoce e que, com certeza, foram atingidos pelas representantes da 30ª edição. Com o tema “É tempo de reconstruir… É tempo de criar novas doces memórias”, as soberanas deste ano carregam a responsabilidade de ser um símbolo da história do evento e de esperança, após a tragédia envolvendo as enchentes de maio.
A corte composta por Juliana Pereira Bast, Letícia Aguilera Larrosa da Rocha e Maria Eduarda Bicca Dode passou por algumas incertezas, entre elas, o tema da edição e a data do evento. “Até então, a Feira tinha sido adiada e não sabíamos como seria por causa do aeroporto de Porto Alegre, rodovias e até os aspectos econômicos, já que as pessoas teriam que se reerguer. Porém, a Feira pôde ser realizada, não com tanto tempo de diferença, mas foi tudo bem pensado para ter esse acolhimento, porque não adianta fazer uma festa e esquecer tudo que passou”, afirma Juliana.
Frente a esse trágico contexto, as baronesas explicaram que o tema do evento foi pensado para englobar todas essas temáticas. A história do evento pode ser apreciada pelos visitantes no Memorial Fenadoce; o presente é representado pela Casa das Baronesas; já o simbolismo do futuro ainda não podia ser divulgado no momento da entrevista. “A gente tem a questão da reconstrução, que é super importante, e conseguimos também trazer as 30 edições da Feira, celebrar, já que é um momento de comemoração”, completa Letícia.
Durante a entrevista, as soberanas falaram um pouco sobre a rotina. Isso porque as soberanas passam o dia todo presentes no evento, inclusive no momento de se arrumarem. Juliana explica que a criação da Casa das Baronesas foi pensada exatamente para aproximar as soberanas do público, que muitas vezes se sente acuado frente às coroas, grandes vestidos, sapatos altos e joias brilhantes. “Essa é também a ideia de ter uma corte: para aproximar o público. Porque os gestores, os patrocinadores, não conseguem dar essa atenção, a formiga também, é nosso símbolo, mas ela não fala. Então, a gente tem esse papel de aproximar”, completa a baronesa.
Além disso, diferente de outras edições, a corte atual não possui distinção entre si – todas são intituladas baronesas. “Nós não temos hierarquia, somos um time. Todas as demandas que chegam, todas as pessoas, as entrevistas, tudo que a gente tem que fazer, somos nós três. Então, acaba tornando mais fácil e acaba nos aproximando mais, porque não tem uma que se destaca, que mais aparece, que tem a coroa mais alta ou que tem um vestido diferente”, detalha Letícia. “O melhor, eu acho, é essa oportunidade de cada uma mostrar suas diferenças e no que somos melhores. Sendo todas baronesas no mesmo nível, nos dá essa oportunidade”, completa Maria Eduarda.
Diferente do que muitos pensam, ser soberana da Fenadoce vai muito além de ter um rosto bonito, sorrir e saber desfilar. Para conseguir um lugar na corte, as participantes passam por duas semanas de concurso, sendo avaliadas pela postura, elegância, simpatia, desenvoltura, entrevista com jurados e conhecimentos sobre o evento, tradição doceira e a cultura de Pelotas. “Nossa aparência e os desfiles contam como pontuação, mas na Feira não adianta só sorrir e acenar e não saber, por exemplo, a história de Pelotas, não saber o que que é uma baronesa, o que é o selo. Então, principalmente na 30ª edição, temos que estar à altura e tenho certeza que isso foi cobrado ainda mais na nossa edição por causa dessa responsabilidade enorme”, pontua Juliana.
Seguindo nesta linha, a baronesa afirma que essa responsabilidade é o principal desafio encarado pelo trio nesta jornada. “Não só pela demanda do concurso, dos jurados, mas por causa que queremos representar isso. Não queremos ser apenas as baronesas de 2024, queremos ser lembradas pela recepção. Então, o principal desafio eu acho que é estar à altura, mas acredito que estejamos bem preparadas”, conclui.
Conhecendo as baronesas
Juliana Pereira Bast
Juliana é pelotense, tem 22 anos e trabalha com comunicação, sendo influenciadora digital. Além disso, também estuda Jornalismo e é modelo. A baronesa conta que sempre participou de todas as edições da Fenadoce, sendo uma tradição de família. “A minha mãe sempre gostou muito. Era um momento que a gente tinha um tempo de qualidade, já que ela sempre trabalhou no comércio. Então, as férias dela eram mais ou menos na época da Feira, para que a gente pudesse ir nos brinquedos e tudo mais”, relembra.
Tendo sido uma criança muito tímida, a jovem revela que não pensava em ocupar um cargo como esse, mas admirava muito esse papel. “Eu sempre via essa figura como algo inalcançável, lindo, algo que não teria como alcançar”, afirma. No entanto, com o passar dos anos, ela foi deixando de lado a timidez, trabalhando com comunicação e até fazendo cursos de modelo.
Em 2022, surgiu a oportunidade de participar do concurso para a corte da Fenadoce. “Fui com muito medo, com muita vergonha, mas fui. Era para a corte de 2023, mas não fui selecionada. Eu participei duas vezes, sendo coroada na segunda, no ano passado. Então, ser baronesa veio dessa premissa da infância de realizar um sonho que eu nem sabia que tinha”, relata.
Quanto a sensação de ser uma baronesa, Juliana conta que antes de entrar, de fato, neste mundo, não tinha ideia de como seria a experiência. Ela destaca que por trás de toda a Feira, há pessoas que dependem disso, como gestores, expositores, funcionários e patrocinadores. “É uma responsabilidade. Queremos estar à altura porque não representamos só Pelotas, só a Feira… Representamos as pessoas, a família delas, toda essa tradição e até as pessoas que já se foram”, acrescenta.
Letícia Aguilera Larrosa
Natural de Porto Alegre, Letícia tem 30 anos e trabalha como arquiteta e urbanista. Apesar de não ser de Pelotas, vive desde muito nova na Princesa do Sul. Ela relembra que também visitava a Fenadoce quando ainda era criança, já que seus avós são pelotenses. A vontade de representar a festa surgiu na adolescência. “Era muito mais pelo status, pela estética, era uma coisa linda. Era o mais próximo que tínhamos de ser uma princesa ou algo assim”, conta.
Com o tempo, Letícia começou a estudar sobre a história de Pelotas, bem como sobre arquitetura e patrimônio. Dessa forma, entendeu a importância da Feira para a cidade, economia, turismo e preservação da história. “Então, foi crescendo em mim essa vontade de conseguir doar alguma coisa para a Feira, para a cidade. Conseguir ter o meu papel não apenas estético, mas pessoal também. E, claro, profissional”, explica a soberana. “Por não ser de Pelotas, eu me senti muito acolhida, me senti muito criada por Pelotas. Então, eu
queria também devolver um pouco do que eu recebi”, pontua.
Com esse desejo de representar a cidade, Letícia decidiu se inscrever pela primeira vez, assim como Juliana, na edição de 2022. Porém, também não conseguiu o posto. Isso porque já havia sido fechado o número de inscrições. Com isso, ela até havia desistido de participar novamente do processo. Porém, foi impulsionada pelos membros do CTG União
Gaúcha. “Eles diziam: ‘ah, você tentou no passado, quem sabe tenta de novo? Agora vai dar!’. E aí deu! Realmente foi muito legal”, relembra.
Falando sobre a trajetória como baronesa, Letícia afirma que a corte proporciona um crescimento pessoal muito grande. Além disso, reforça o quão gratificante é ver o carinho das pessoas pela Fenadoce. “Eu não tinha a dimensão do quanto a Fenadoce é querida. Pelas pessoas de fora, quando a gente viaja, existe um carinho muito grande com a Feira, com os doces, com as baronesas em si. As pessoas nos param na rua, nos agradecem, nos dão muito carinho e isso é uma coisa muito boa. Eu já imaginava que teria, mas eu não achei que fosse tanto”, ressalta.
Maria Eduarda Bicca Dode
Médica veterinária, Maria Eduarda é pelotense, tem 32 anos e trabalha no Canil Sentinela Farrapo. Apaixonada pela cultura pelotense e gaúcha, ela conta que seu desejo em participar do concurso surgiu justamente da vontade de promover uma miscigenação cultural e mostrar a cidade para todos, inclusive aos próprios pelotenses. “Muitas vezes, o pelotense não participa da Feira porque não se sente agregado. Ele acha que é só feito para turista, o que não é verdade. A Feira tem toda uma programação e é pensada para que todos participem”, explica.
A baronesa conta que para estar nesta posição, houve muito preparo e desejos que vão muito além da bela estética por trás da figura das soberanas. “Temos uma vontade muito maior do que só botar uma coroa e andar num vestido bonito. Por mais que chame atenção quando a gente é mais novinha, o que a gente pode levar são as informações que a gente pode repassar sobre o que é nosso. É o que me encanta em ser baronesa, em ter vontade de participar do concurso”, destaca.
Há 10 anos, Maria Eduarda também havia tentado representar a cidade. Além disso, conta que a inscrição desta edição teve um empurrãozinho de sua mãe. “Foi por um detalhe! Prorrogaram as inscrições e minha mãe: ‘você não quer tentar?’. Esse foi o mesmo caso de nós três: nós três nos inscrevemos na prorrogação. Era pra ser, né?”, brinca.
Por fim, a soberana destaca que esse papel vem lhe proporcionando um orgulho imenso e uma caminhada de aprendizado. “Não sabíamos se conseguiríamos fazer a Feira, mas a CDL fez toda essa força para reunir todo mundo. Não é só a economia que ganha com isso, é toda a comunidade, de ver essa experiência acontecendo de uma forma diferente, com alívio, uma retomada. Então, é um período que estamos aprendendo muito, tendo visões diferentes e convivendo com pessoas que nunca teríamos a chance de conviver se fôssemos baronesas”, conclui.