Pelo seu sabor e refrescância – 92% da fruta é água -, a melancia é a cara do verão. E não é a toa que durante a estação é muito consumida, pois a natureza se encarrega de oferecer à cultura o sabor que a fruta necessita, com níveis apropriados de açúcar. É claro que ela tem uma ajudinha dos produtores que precisam trabalhar duro para oferecer para as plantas o ambiente propício ao seu desenvolvimento.
Pedro Osório é um dos municípios que possui uma longa tradição na cultura, com uma área plantada em torno de 250 hectares, uma produtividade de 40 toneladas por hectare e uma produção superior a 10 mil toneladas, já que em áreas com irrigação, a produtividade pode chegar até 42 toneladas por hectare, explica a chefe do Escritório Municipal da Emater, Carine Harter. Neste ano, apenas dois produtores se dedicaram à cultura.
Além do produtor Stefano Marini, vamos encontrar no município José Pinho, responsável pelo plantio de 70 hectares da área total da cidade. Na propriedade, que fica na localidade de Matarazzo, na divisa com Arroio Grande, ele está em plena colheita das variedades Manchester, que ocupa 50 hectares e Arriba, sem sementes, concorrente da Pingo Doce, em outros 20 hectares. “A nossa melancia é a mais doce porque temos o diferencial do clima, com noites mais frias, o que deixa a fruta com mais açúcar”, afirma Pinho.
O produtor que se dedica à produção há mais de 23 anos, tem um desafio a cada ano: encontrar áreas adequadas e torná-las propícias ao desenvolvimento da cultura, que requer áreas bem limpas, sem a concorrência de outras plantas. “O plantio tradicional é o que mais dá certo, a terra precisa ser lavrada antes, pois quanto mais limpa a área, melhor”, comenta.
O produtor estima que sua produtividade deve ficar em torno de 30 toneladas por hectare, já que a cultura passou por época crítica na floração, sofrendo com as temperaturas inadequadas. Segundo ele, a boa formação dos frutos depende da polinização eficiente das flores, que muitas vezes precisa ser feita manualmente.
Na fase da colheita, uma das maiores dificuldades tem sido encontrar mão de obra especializada à colheita da fruta, que deve seguir um padrão de tamanho, maturação e ser adequadamente acondicionada nos caminhões, que cumprem um longo trajeto até o mercado consumidor, o principal deles, o estado de São Paulo. Por isso, nas áreas em que ocorrem a colheita, se ouve um sotaque diferente, pois grande parte dos safristas vêm de estados como Bahia e Goiás. As cargas precisam seguir um volume determinado para não acarretar prejuízos nem ao produtor e nem ao transportador. “O preço médio por quilo chega a R$ 0,40 para o produtor”, diz. Por se tratar de um produto altamente perecível, a comercialização precisa ser rápida.
De acordo com Pinho, o ciclo completo da cultura é de 90 dias. O plantio é feito de forma escalonada, entre o início de novembro e final do mês de dezembro. A colheita, que começou em 20 de janeiro, se estende durante todo o mês de fevereiro e segue até meados de março. “Mas a melhor época para vender é agora, no mês de fevereiro, principalmente após o carnaval, pois no feriado o consumo para”, alega.
Ele explica que em janeiro, é ruim de vender, porque coincide com a época de colheita na Bahia e Paraná, e com isso há muita oferta da fruta e o preço cai. “Este ano tivemos que adiantar a colheita uns dez dias por causa do clima, que nos forçou a colher antes”, finaliza.
Segundo a extensionista da Emater, Pinho é o produtor mais diversificado do município, pois além da melancia, possui outras culturas como o milho e a soja, esta última numa área de 1,3 mil hectares e com colheita prevista para o mês de abril.
Espaço Agroarte
Em uma parceria entre a Prefeitura, Conselho Municipal de Desenvolvimento (Comude) e Emater, deve ser inaugurado nos primeiros dias de março, o espaço Agroarte. Segundo o presidente do Comude, Lauri Centeno, é uma pequena mostra da Festa da Melancia, que teve sua realização cancelada, nos últimos dois anos, por causa da pandemia de Covid-19.
No local, que deve funcionar o ano todo, serão comercializados sucos e doces, principalmente de melancia, produzidos pelas doceiras locais, entre outros itens, como artesanatos, sendo uma forma de dar continuidade à festa, que tem sido ao longo de mais de 20 anos uma vitrine para os produtos e uma fonte de renda aos pequenos produtores e artesãos. O espaço está localizado no Centro da cidade, em antigo prédio da rede ferroviária, e passa por reforma e estruturação.