
Seguindo a tendência dos dados nacionais do Censo 2022, municípios da Zona Sul do estado apontaram um aumento na proporção de idosos em relação ao verificado em 2010. Em números totais, o crescimento foi de 35,8% considerando os 22 integrantes da Associação dos Municípios da Zona Sul (Azonasul), entre o público com 60 anos ou mais passando de 128,9 mil em 2010 para 175,2 mil em 2022. O número de pessoas do sexo feminino também aparece superior às do masculino em quase todos os município da região. Os dados reforçam a necessidade de medidas para esse público e reforçam a importância de iniciativas já existentes.
Em Pelotas, a proporção de idosos em relação à população total aumentou 20,72%. Passou de 49.794 para 67.480 pessoas. O maior índice foi verificado em Morro Redondo, onde 27,95% da população tem 60 anos ou mais, 1.690 pessoas. Em 2010, eram 1298. No Brasil, o total de pessoas com 60 anos ou mais chegou a 15,6% da população, ou seja 32.113.490, uma alta de 56% em comparação com 2010.
Em Morro Redondo, ações buscam integrar os idosos através da socialização em bailes e grupos para atividades, além do cuidado com a saúde. “Aderimos à rede Bem Cuidar, onde a primeira atenção é com os idosos, com preocupação física e também mental, para que eles possam ter uma melhor qualidade de vida”, detalha o prefeito Rui Brizolara (União).
Para o presidente do Conselho Municipal do Idoso de Pelotas, Lélio Falcão, é preciso implementar ações permanentes nos bairros e retomar atividades que eram realizadas antes da pandemia, como bingos, bailes e viagem. “Idosos do bairro Floresta, Laranjal ou mesmo Três Vendas, Fragata, Areal e Porto merecem atividades permanentes toda semana, pelo menos no mês”, diz.
Na questão da saúde, Falcão salienta que é fundamental ampliar o atendimento domiciliar, processo que já vem sendo discutido com a Secretaria Municipal da Saúde. O presidente também destaca a necessidade de garantir mais acessibilidade em locais do município como o Centro Histórico, que segundo ele possui calçadas altas, pavimentos irregulares e prédios públicos sem rampas ou elevadores.
Tratando sobre a projeção de espaços preparados para idosos, a pesquisa “Projetando Lugares com Idosos: Rumo às Comunidades Amigas do Envelhecimento”, coordenada no Brasil pela professora e pesquisadora Adriana Portella, da faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), conversou com a comunidade idosa dos bairros Fragata, Centro e Navegantes, escolhidos a partir de dados do IBGE. “A ideia não era um estudo comparativo, era entender as dinâmicas de cada país, analisar as diferenças”, explica.
Ao longo do estudo, os pesquisadores incluíram na metodologia atividades como conversas com os idosos, caminhadas e mapeamentos participativos para determinar problemas e dificuldades. “O que a gente encontrou em Pelotas é que as pessoas mais velhas se identificam principalmente com os bairros, eles reconhecem e se relacionam com os lugares através da memória, mas infelizmente algumas questões acabam prejudicando o uso destes espaços porque não são planejados para a terceira idade”, conta. Ela cita dificuldades relacionadas ao transporte coletivo, qualidade de calçadas e falta de banheiros públicos e pontos de descanso como principais problemas enfrentados pelos idosos na cidade.
O estudo, que ficou conhecido como PlaceAge, elencou 10 políticas públicas necessárias para melhor qualidade de vida dos idosos em Pelotas: 1. Saúde e qualidade de vida (programas com mais opções de exames); 2. Memória, identidade e senso de lugar; 3. Caminhabilidade, mobilidade e acessibilidade; 4. Saúde e qualidade de vida; 5. Segurança urbana (ampliar iluminação pública nos bairros); 6. Saúde e qualidade de vida (ampliação da assistência médica); 7. Saúde e qualidade de vida (promoção de reuniões informativas); 8. Segurança urbana (conversão de terrenos vazios em jardins comunitários e hortas); 9. Espaços públicos, lazer e turismo; 10. Segurança urbana (identificação de rotas prioritárias para deslocamento).
A pesquisa teve início em 2016 e se encerrou no Brasil em 2019. Além de Pelotas, Belo Horizonte e Brasília receberam os pesquisadores. Todo o estudo teve financiamento do ESRC Economic and Social Research Council (ESRC) do Reino Unido e contou com análises no próprio país, além de Brasil e Índia.
Em resposta à reportagem, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) afirmou que o público é atendido por meio da Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas através de ações de promoção da saúde, prevenção e agravos, fortalecimento de vínculos familiares e com a sociedade, além da manutenção da capacidade funcional dos idosos e sua autonomia. Nos dias 4 e 11 de outubro a pasta promoveu o Mutirão da Saúde do Idoso nas Unidades Básicas de Saúde, onde foi realizada uma Avaliação Multidimensional que determinou o perfil de idosos atendidos em Pelotas para elaboração de um plano de cuidados específico para essa população.
Outra frente é por meio dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), que possuem grupos próprios para atender idosos. Atualmente, cerca de 200 pessoas com 60 anos ou mais fazem parte destes grupos de convivência. De acordo com a Secretaria de Assistência Social (SAS), a pasta acolhe em torno de 40 idosos abandonados ou vítimas de violência. Para o secretário Tiago Bündchen, os dados divulgados pelo IBGE são o reflexo de um padrão que tem sido visto em todo o estado.
“Isso reflete a longevidade da população e a qualidade de vida das pessoas em Pelotas, que estão vivendo mais. É também um efeito do controle de natalidade, pois as pessoas estão tendo menos filhos, o que não é uma característica apenas em Pelotas, mas também no Rio Grande do Sul como um todo”, comenta.
Atenção com a saúde física e mental
Outras iniciativas já contribuem para o bem-estar dos idosos. O Centro em Extensão à Terceira Idade da Universidade Católica de Pelotas (Cetres) promove atividades de lazer, saúde e, inclusive, educação dos idosos no Instituto de Menores Dom Antônio Zattera (IMDAZ).
Dentro do Centro há o “Universidade Aberta da Maturidade”, projeto que traz o ambiente acadêmico da UCPel para idosos e pessoas acima de 50 anos. “Temos inúmeras atividades voltadas ao artesanato, atividade física, estimulação cognitiva, atuação de acadêmicos, residência multidisciplinar, multiprofissional na saúde do idoso, atuação de voluntários, idosas que coordenam oficinas”, explica Hartur Torres, coordenador do Cetres, destacando ser comum que os próprios participantes de oficinas retornem para ministrar atividades no projeto.
Torres destaca que a programação promovida pelo Cetres possibilita uma vida mais ativa para os idosos, com inúmeros ganhos para quem participa. “Os benefícios estão muito relacionados com a manutenção da autonomia da pessoa idosa, com o protagonismo dela, com as interações sociais que ela realiza aqui no Cetres, que o Cetres possibilita para ela, e isso impacta diretamente em uma melhor qualidade de vida, em uma maior saúde mental”, pontua.
Atualmente, cerca de 230 idosos fazem parte das atividades do Cetres, que abrirá novas inscrições em fevereiro. Uma delas é Vânia Fadrique, de 67 anos, e que desde 2012 é coordenadora da oficina Encanto Cigano, na qual 18 alunas praticam danças que levam para apresentações em eventos. “Durante estes 11 anos já fizemos várias apresentações, várias participações e recebemos vários prêmios também”, comenta.
Vânia acabou sendo convidada para ministrar também a oficina de ritmos, na qual são realizadas atividades de dança e recreação. “Nós fazemos a oficina com a parte do ritmo, e depois eu deixo as meninas dançarem à vontade, deixarem fluir a sua dança”, explica.
Aos 73 anos, Olga Casarin participa de três oficinas do centro como monitora, mas sua rotina no Cetres iniciou como aluna. Ela conta que há quase duas décadas faz parte do centro, quando ficou sabendo do projeto através de amigas, e que as atividades lhe trazem bem-estar e disposição para o dia a dia. “É um trabalho muito bom o que eu faço, para o meu ponto de vista e para a minha saúde, para tudo, é um trabalho que eu tenho prazer de fazer”, diz. “Para mim é muito bom porque eu moro sozinha e tenho essa atividade, faço uma série de artesanatos, produtos, não só nessas oficinas mas outras também”, completa.
Mulheres são maioria
Conforme levantamento do Censo 2022, as mulheres também são maioria em diversos municípios da região. Arroio Grande, Capão do Leão, Cerrito, Jaguarão, Morro Redondo, Pedro Osório, Pelotas, Pinheiro Machado, Rio Grande e São Lourenço do Sul têm mais mulheres do que homens na população total. Enquanto Arroio do Padre, Canguçu, Herval, Pedras Altas, Piratini e Turuçu apresentam mais homens.
Para elas, iniciativas que reforcem suas lutas, direitos e presença na sociedade são fundamentais. E é para isso que existe o Grupo Autônomo das Mulheres de Pelotas (GAMP), entidade que completou 31 anos em março. Cerca de 30 mulheres associadas colaboram para o funcionamento do grupo que promove ações voltadas, principalmente, para o enfrentamento da violência contra a mulher.
“Graças ao Gamp, hoje nós temos na cidade de Pelotas uma rede de proteção e enfrentamento às violências contra as mulheres e a gente vem há um tempo nessa linha de articulações políticas, de conversas, capacitação, formação de lideranças que atendam mulheres em situação de violência”, ressalta Diná Lessa, integrante do grupo.
Mas a representatividade deve ir além. Diná ressalta que é fundamental que as mulheres conheçam os seus direitos e tenham iniciativas que garantam isso. “É um processo lento que deve contar com estratégias de educação. Lutamos por garantia de direitos das mulheres, mas a maioria não sabe, não conhece seus direitos, portanto ficam sem proteção e sem exercer adequadamente seus direitos, sua vida, isto implica em todas as deficiências das áreas da saúde, habitação, segurança, educação, direito à terra…enfim”, aponta Diná.
Porcentagem de idosos por município
Arroio do Padre – 23,74%
Arroio Grande – 22,03%
Canguçu – 23,03%
Capão do Leão – 17,14%
Cerrito – 26,95%
Herval – 23,92%
Jaguarão – 22,48%
Morro Redondo – 27,95%
Pedras Altas – 21,2%
Pedro Osório – 24,85%
Pelotas – 20,72%
Pinheiro Machado – 24,14%
Piratini – 25,78%
Rio Grande – 19,78%
São Lourenço do Sul – 23,76%
Turuçu – 22,26%
Fonte: Censo 2022 – IBGE